sábado, 8 de agosto de 2015

Deixar o governo refém?

Quando houve as manifestações de protestos contra a presidente da República, o governo temia ficar refém das ondas e dos movimentos populares que poderiam se intensificar em todo país, causando grande transtorno e embaraço à governabilidade, porque esse quadro ficou bem pintado na avaliação realista de alguns assessores e ministros.
Um ministro chegou a afirmar textualmente que “Se a presidente Dilma não reagir rápido, essa onda de protestos vai crescer e deixar o governo refém”.
Se já naquela época o governo estranhava, por ter se surpreendido com o tamanho dos protestos, que não se restringiram somente às pessoas que não votaram na petista, agora ela tem todos os motivos para estar desesperada, porque a dimensão da insatisfação se potencializou com a mixuruca aprovação do seu desempenho (8%) e a expressiva quantidade de brasileiros contrários à sua gestão (71%), fatos que demonstram que a população insatisfeita não se concentra apenas em determinada classe social, uma vez que houve a ampliação das fronteiras da elite, que recebeu o apoio de todos os segmentos sociais contrários à administração do país.
A verdade é que de lá para cá, o tempo passou, mas o governo não assimilou absolutamente nada do que foi dito nas ruas, considerando que ele não conseguiu apresentar nenhum discurso diferente para atender aos clamores populares e a situação simplesmente degringolou de vez, porque a crise de governabilidade atingiu nível insuportável quanto à sua administração, que fugiu das rédeas do Palácio do Planalto e se instalou também no Congresso Nacional, com a sua base de sustentação se rebelando contra o comando da presidente, que já não lidera absolutamente nada, porquanto a política é dirigida pelo PMDB e a economia foi entregue a um neoliberal, que promoveu ajustes em dissonância com os princípios do petismo e o que é pior, ele tem muito pouca efetividade, à vista da sua inocuidade ante a gravidade das crises instaladas no país.
Há quem se lembre de que o governo, logo após os protestos, correu rapidinho para enviar ao Congresso Nacional propostas de legislação, com a finalidade de promover o combate à corrupção, porém elas não saíram até agora do papel, em razão, sobretudo, da falta de empenho dele para a apreciação com urgência das matérias de que se tratam, o que apenas se confirma a pouca efetividade das promessas do Planalto, que somente age no calor das pressões, evidentemente enquanto elas ainda ressoam intensamente nos seus recintos.
          Enquanto isso acontece, a presidente do país não se esforçou para encontrar a resposta nem rápida e muito menos convincente para neutralizar a onda de protestos que deixou muito claro que a situação já era periclitante e poderia piorar, como efetivamente arruinou, a ponto de se tornar incontrolável, pelo menos no âmbito do Palácio do Planalto, com gravíssimos reflexos não somente para as condições de vida dos brasileiros, mas também para o país.
Infelizmente, à toda evidência, o governo é refém da própria incapacidade para solucionar as crises que tomou conta do país, tendo se tornada igualmente refém das dificuldades para administrar a nação e pôr ordem na desastrada condução da economia e na bagunça da corrupção institucionalizada na administração pública, notadamente na Petrobras, empresa que ela se identificou como presidente do Conselho de Administração dela, que poderia ter evitado o estrondoso rombo por meio da compra da falida e sucateada refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos da América, por preço superfaturado.
Também não condiz com o modelo de eficiência a inexplicável forma de escolha de assessores e auxiliares para a condução das políticas do Estado, representada propriamente como ações entre partidos, pela composição de ministérios e empresas públicas por políticos apenas dispostos a assegurar apoio no Congresso Nacional aos projetos de interesse do governo, mediante a manutenção do repudiável fisiologismo formalizado pela indecente troca de cargos públicos e de outras benesses propiciadas pelo poder, em flagrante detrimento dos interesses nacionais e dos princípios republicanos, quando a administração do país deve se preocupar com as causas da população em geral e não ficar circunscrita aos interesses da classe dominante, ao estilo de desprezíveis republiquetas.
Diante da gravidade das crises política, econômica e administrativa, que deixaram o governo refém da própria incapacidade gerencial, compete à sociedade avaliar quanto às más condições de superação das dificuldades, sob a administração e o gerenciamento do país por quem efetivamente já demonstrou plena inaptidão para tanto, sobrelevando principalmente os prejuízos causados ao desenvolvimento social, político e econômico, que está sendo visivelmente retardado diante das precárias condições de governabilidade, ante as visíveis dificuldades para a assimilação das ansiedades dos brasileiros. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 08 de agosto de 2015

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