Especula-se, no meio político, que o presidente do
Senado Federal, a despeito da oposição ao governo do presidente da Câmara dos
Deputados, pode merecer tratamento especial do Palácio do Planalto, como
peça-chave para impedir o agravamento da crise política e a possibilidade da
abertura do processo de impeachment da petista, à vista da sinalização de
medidas nesse sentido.
Sabe-se, de antemão, que o provável apoio do
senador alagoano não sairá barato para o governo, porque, ao seu feitio, ele há
apresentar ao Planalto "faturas" recheadas de muitas exigências nas áreas
política e econômica, em “justíssima” compensação por seu “sacrifício”.
Diante do quadro de dificuldade enfrentado pelo
governo, resta à petista recorrer à milagrosa ajuda do presidente do Senado
para tentar contrapor às prováveis decisões contrárias aos interesses dela, em
especial daquela com origem no Tribunal de Contas da União, que poderá opinar
pela rejeição das contas do governo, referentes ao ano de 2014, à vista das
graves irregularidades consistentes nas famosas “pedaladas fiscais”.
No caso, caberá ao Senado apreciar, de início, o
parecer emitido pelo TCU, de onde seguirá para o pronunciamento da Câmara, cujo
julgamento final de ambas as casas do Congresso Nacional não poderá ser pela
reprovação das contas em causa, sob pena de implicar a abertura do temido
processo de impeachment contra a presidente petista. Daí a imperiosa
necessidade do apoio do presidente do Senado para se evitar tamanho desastre
para a presidente brasileira.
Como não poderia ser diferente, à luz dos fatos
precedentes, quando as conveniências políticas estão em disputa, o presidente
do Senado tem forte inclinação para assumir a importante missão de fiel fiador
da governabilidade da petista, por manter sob suas rédeas a agenda da Câmara
Alta.
Não obstante, o apoio do senador alagoano deverá
ter preço bastante elevado, porque ele irá exigir mudanças de titulares de
ministérios, para que haja maior afinidade dele com as relações com o
Executivo, ou seja, o senador exigirá a troca de importantes ministros do
governo.
Nessa mesma linha de esquisita aproximação com o
Planalto, o presidente do Senado espera contar com maior apoio financeiro do
governo federal para o governo do Estado de Alagoas, governado pelo filho dele,
ante a inexistência de investimentos em obras, na região, justamente pela
escassez de verbas.
Como se somente isso ainda não fosse suficiente, o
senador alagoano quer ter maior participação nas decisões do governo, em
especial no que tange à política econômica, por defender corte em despesas do
próprio Executivo, com destaque para a redução do exagerado número de
ministérios.
Ele também espera contar com o apoio e a solidariedade
do governo, no caso de complicar ainda mais a sua situação perante a Operação
Lava-Jato, por ter sido envolvido nela, sob a suspeita de recebimento de
propina da Petrobras.
Caso seja verdade o quadro que se pinta envolvendo
os inescrupulosos interesses do Palácio do Planalto e do presidente do Senado
Federal, dando conta de negociatas explícitas e desmoralizantes, o país poderá
ser manchado por mais um episódio deprimente que se pode imaginar envolvendo
recursos públicos, mostrando claramente total desprezo aos princípios da ética,
do decoro, da moralidade e sobretudo da dignidade que se exigem dos homens
públicos.
O que torna ainda mais indecente e repugnante é que
se percebe que, à medida do delineamento de atitudes tão degradantes, não se
ouve nenhuma voz da oposição ou de organismo da sociedade repudiando tamanha
excrescência, que, de igual modo, também se exige dos órgãos de controle e
fiscalização sobre a ética, moralidade, honestidade, constitucionalidade e
legitimidade dos atos administrativos, com vistas às sanções aplicáveis quanto
à deliberada e proposital infringência das normas aplicáveis na administração
pública.
Na realidade, caso sejam confirmadas as expectativas
de conchavos entre a presidente do país e o presidente do Senado, apenas se
materializa mais um vergonhoso ato de indignidade e de desmoralização da
administração pública, a exemplo das vexaminosas nomeações de afilhados
políticos, em troca de apoio na base de sustentação do governo, em verdadeiro
desmerecimento da representação dada pelo povo aos maus políticos, que são
indignos da legítima delegação popular.
Compete aos brasileiros se conscientizarem sobre a
necessidade de repudiar, com a maior veemência, os atos de indignidade e de
ilegitimidade protagonizados pelos maus homens públicos, que não têm o menor
pudor em emporcalhar ainda mais a credibilidade do país diante dos brasileiros
e da comunidade internacional.
Diante de tantos atos de indignidade e de falta de
nobreza em nome de espúrios e injustificáveis interesses exclusivamente
pessoais, a exemplo dos arranjos alinhavados entre o governo federal e o
presidente do Senado Federal, conforme denunciam os meios de comunicação, urge
que o Brasil precisa ser passado a limpo, mediante a promoção de reformas abrangentes
e profundas, principalmente com a finalidade de possibilitar a eliminação dos
maus políticos da vida pública, como forma de se permitir a tão desejada moralização
da administração pública, que jamais deveria passar por momento de terrível
fragilidade ética e moral, com consequências bastante prejudiciais aos interesses
nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de agosto de 2015
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