domingo, 30 de agosto de 2015

O esfacelamento das estruturas

O Palácio do Planalto tenta às duras penas administrar, além das crises econômica, política e administrativa, os entreveros entre os assessores diretos da presidente da República, como a disputa havida entre o ministro da Fazenda e o vice-presidente da República e o seu auxiliar, o ministro da Aviação Civil, da articulação política do governo, sendo que os dois últimos ficaram contrariados com o colega da Fazenda, em razão da tentativa de acordo em torno de mudanças no projeto pertinente ao aumento dos tributos para setores da economia.
Com a tentativa de arrefecer a fornalha das vaidades, foi preciso a participação do ministro da Comunicação Social, que interveio para afirmar que “Temer tem dado credibilidade ao governo na articulação política. Tem ajudado muito a presidente. E Padilha é um hábil negociador”, querendo dizer com isso que o ministro da fazenda precisa ser mais hábil nas negociações.
O vice-presidente prometeu conversar com o ministro da Fazenda para tratar da exclusão do setor de transportes da reoneração, mas, de forma ríspida, o dono do dinheiro disse que seria “melhor perder tudo de uma vez” do que se fazerem concessões, com que o vice, surpreendido com a citada reação, respondeu, com certa ironia, dizendo que “Entendi sua posição. O governo perde, o governo cai, e a gente vai embora de uma vez”.
Para apimentar de vez as relações entre eles, o auxiliar do vice-presidente havia prometido aos líderes aliados na Câmara dos Deputados, sob a afirmação de que os titulares da Fazenda e da Casa Civil já tinham concordado com a liberação da quantia de R$ 500 milhões para pagamento de emendas parlamentares, como forma de apaziguar os ânimos dos congressistas que tinham negociado tais verbas, em troca de apoio político no Congresso, e estavam ávidos pelo recebimento delas, mas o senhor do Tesouro simplesmente disse a congressistas aliados que o citado auxiliar tinha entendido errado.
A insatisfação gerada entre os assessores palacianos somente foi contornada com a liberação das emendas parlamentares, mas há focos de resistência que ainda persistem no seio dos homens da presidente, em evidente demonstração de que a crise é fruto da inabilidade inata, seja por disputa de poder, seja por conveniências políticas.
A falta de convergência sobre os objetivos governamentais é uma realidade mais do que visível, demonstrando o quanto a presidente do país já não tem autonomia para comandar nem coordenar absolutamente nada, deixando que a administração da nação fique ao sabor das conveniências político-partidárias.
          Possivelmente nem nas republiquetas sejam tratadas com tanta promiscuidade as questões da liberação de emendas parlamentares e da nomeação de apadrinhados políticos para cargos nos ministérios e nas empresas estatais, em prova de verdadeira esculhambação com o uso da máquina pública e dos recursos dos tolos dos contribuintes, que assistem passivamente à farra com o dinheiro que deveria ser aplicado em programas sérios e destinado ao atendimento das carências dos brasileiros.
É lamentável que os integrantes do governo fiquem batendo cabeças uns contra os outros, discutindo picuinhas políticas, em níveis "paroquianos", enquanto o cerne das questões nacionais permanece inerte sem solução e muito menos com perspectivas de saneamento.
Compete à sociedade organizada se mobilizar e exigir o fim de tantas paranoias que estão levando o governo a lugar de extrema balbúrdia, exatamente em razão da falta de entendimento entre suas equipes e o pior é que a fatura resultante da administração desastrada está sendo enviada para o povo em geral, que, no fundo e pelo menos na parcela majoritária da população votante, é o grande culpado por ter tido a infelicidade de apoiar, nas urnas, a candidata que não teve o menor escrúpulo de prometer mundo e fundos ao povo e depois, de maneira despudorada e estapafúrdia, fazer exatamente o contrário do script do seu maquiavélico e experimentado marqueteiro.
          Esse profissional teria passado para a presidente, na campanha eleitoral, o roteiro copiado de outro país bem diferente do Brasil, desorganizado, desestruturado e completamente atolado em graves problemas social, econômico, administrativo e político, cujo gigantismo das dificuldades ninguém do governo consegue decifrar e propor as medidas adequadas e capazes de tirá-lo desse terrível atoleiro, como mostram os fatos do dia a dia do Palácio do Planalto, que perdeu seu próprio rumo.
O país precisa de socorro urgente e o principal deles é a conscientização de que as estruturas do governo se encontram em frangalho e completa fragilização, por falta de coordenação, organização e competência para equacionar os mínimos detalhes do que restou da administração repleta de desacertos, desentendimentos, desestruturação administrativa e principalmente de humildade para compreender que os interesses da nação estão muito além dos conchavos e das conveniências meramente políticos. Acorda, Brasil!                        
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de agosto de 2015

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