O Palácio do Planalto tenta às duras penas administrar,
além das crises econômica, política e administrativa, os entreveros entre os
assessores diretos da presidente da República, como a disputa havida entre o
ministro da Fazenda e o vice-presidente da República e o seu auxiliar, o ministro
da Aviação Civil, da articulação política do governo, sendo que os dois últimos
ficaram contrariados com o colega da Fazenda, em razão da tentativa de acordo
em torno de mudanças no projeto pertinente ao aumento dos tributos para setores
da economia.
Com a tentativa de arrefecer a fornalha das
vaidades, foi preciso a participação do ministro da Comunicação Social, que
interveio para afirmar que “Temer tem
dado credibilidade ao governo na articulação política. Tem ajudado muito a
presidente. E Padilha é um hábil negociador”, querendo dizer com isso que o
ministro da fazenda precisa ser mais hábil nas negociações.
O vice-presidente prometeu conversar com o ministro
da Fazenda para tratar da exclusão do setor de transportes da reoneração, mas,
de forma ríspida, o dono do dinheiro disse que seria “melhor perder tudo de uma vez” do que se fazerem concessões, com que
o vice, surpreendido com a citada reação, respondeu, com certa ironia, dizendo
que “Entendi sua posição. O governo
perde, o governo cai, e a gente vai embora de uma vez”.
Para apimentar de vez as relações entre eles, o
auxiliar do vice-presidente havia prometido aos líderes aliados na Câmara dos
Deputados, sob a afirmação de que os titulares da Fazenda e da Casa Civil já
tinham concordado com a liberação da quantia de R$ 500 milhões para pagamento
de emendas parlamentares, como forma de apaziguar os ânimos dos congressistas
que tinham negociado tais verbas, em troca de apoio político no Congresso, e estavam
ávidos pelo recebimento delas, mas o senhor do Tesouro simplesmente disse a congressistas
aliados que o citado auxiliar tinha entendido errado.
A insatisfação gerada entre os assessores
palacianos somente foi contornada com a liberação das emendas parlamentares, mas
há focos de resistência que ainda persistem no seio dos homens da presidente,
em evidente demonstração de que a crise é fruto da inabilidade inata, seja por
disputa de poder, seja por conveniências políticas.
A falta de convergência sobre os objetivos
governamentais é uma realidade mais do que visível, demonstrando o quanto a
presidente do país já não tem autonomia para comandar nem coordenar
absolutamente nada, deixando que a administração da nação fique ao sabor das
conveniências político-partidárias.
Possivelmente
nem nas republiquetas sejam tratadas com tanta promiscuidade as questões da
liberação de emendas parlamentares e da nomeação de apadrinhados políticos para
cargos nos ministérios e nas empresas estatais, em prova de verdadeira
esculhambação com o uso da máquina pública e dos recursos dos tolos dos
contribuintes, que assistem passivamente à farra com o dinheiro que deveria ser
aplicado em programas sérios e destinado ao atendimento das carências dos
brasileiros.
É lamentável que os integrantes do governo fiquem
batendo cabeças uns contra os outros, discutindo picuinhas políticas, em níveis
"paroquianos", enquanto o cerne das questões nacionais permanece
inerte sem solução e muito menos com perspectivas de saneamento.
Compete à sociedade organizada se mobilizar e exigir
o fim de tantas paranoias que estão levando o governo a lugar de extrema
balbúrdia, exatamente em razão da falta de entendimento entre suas equipes e o
pior é que a fatura resultante da administração desastrada está sendo enviada
para o povo em geral, que, no fundo e pelo menos na parcela majoritária da
população votante, é o grande culpado por ter tido a infelicidade de apoiar,
nas urnas, a candidata que não teve o menor escrúpulo de prometer mundo e
fundos ao povo e depois, de maneira despudorada e estapafúrdia, fazer
exatamente o contrário do script do seu maquiavélico e experimentado
marqueteiro.
Esse
profissional teria passado para a presidente, na campanha eleitoral, o roteiro
copiado de outro país bem diferente do Brasil, desorganizado, desestruturado e
completamente atolado em graves problemas social, econômico, administrativo e
político, cujo gigantismo das dificuldades ninguém do governo consegue decifrar
e propor as medidas adequadas e capazes de tirá-lo desse terrível atoleiro,
como mostram os fatos do dia a dia do Palácio do Planalto, que perdeu seu
próprio rumo.
O país precisa de socorro urgente e o principal
deles é a conscientização de que as estruturas do governo se encontram em
frangalho e completa fragilização, por falta de coordenação, organização e
competência para equacionar os mínimos detalhes do que restou da administração
repleta de desacertos, desentendimentos, desestruturação administrativa e
principalmente de humildade para compreender que os interesses da nação estão
muito além dos conchavos e das conveniências meramente políticos. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de agosto de 2015
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