quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A imprescindibilidade da transparência e da verdade

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu procedimento de investigação criminal para verificar se o ex-presidente da República petista praticou tráfico de influência internacional em favor da construtora Odebrecht, acerca de fatos que poderiam ter ocorrido entre 2011 e 2014, quando ele já havia deixado a Presidência, consistentes no uso da influência para facilitar negócios da empreiteira com governos estrangeiros.
No documento, consta que há suspeita de que o petista teria obtido “vantagens econômicas da empreiteira Odebrecht, a pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente dos governos da República Dominicana e de Cuba (neste caso, em relação a obras financiadas pelo BNDES) e por agentes públicos federais brasileiros”.
A Procuradoria entende que, nesse caso, serão empregados os instrumentos investigatórios com o auxílio de ações de busca e apreensão e de quebra de sigilo.
Há fundadas suspeitas de que a Odebrecht teria pago despesas de viagem do ex-presidente, mesmo não sendo viagens de trabalho para a empreiteira, mas, com isso, a construtora conseguiria vantagens no exterior, com a execução de obras com recursos contratados junto ao BNDES pelos supracitados países.
Consta nos documentos de investigações fornecidos pela Polícia Federal a listagem de, pasmem, 38 saídas do ex-presidente do território nacional, entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014, ou seja, depois de ter deixado o cargo de Presidente da República.
Ainda conspira contra o ex-presidente o fato de que a empreiteira é uma das investigadas na Operação Lava-Jato, que já prendeu o ex-presidente e executivos da mencionada construtora.
Por ocasião do encaminhamento de documentos à Procuradoria, a defesa do ex-presidente solicitou a exclusão dele do processo investigatório, sob a alegação da “relevância” do petista, que “É político e notório, é fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), ex-deputado Constituinte e ex-presidente da República, pessoa pública respeitada e admirada tanto no Brasil como no exterior.”.
Na defesa prévia, foram arroladas ainda conquistas do governo do petista na política exterior, como negócios firmados com outros países, os dois mandados de presidente da República, de onde saiu com “recorde de avaliação positiva” e a lista de premiações internacionais recebidas por ele.
Até parece que as notáveis realizações do homem público, por mais relevantes que elas sejam para o país, têm o condão de atenuar possível irregularidade praticada por ele, envolvendo, no caso, dinheiro dos brasileiros, que foram aplicados ilegitimamente em países certamente governados por ditadores que não respeitam os direitos humanos e os princípios democráticos.
          De nada adianta o petista ter feito maravilhas pelo país, como ele alardeia, se existe forte suspeição de ele ter contribuído, fazendo uso de tráfico de influência, para beneficiar irregularmente a construtora, cujos fatos estão sendo apurados pela Procuradoria da República, justamente em razão da possibilidade de grave ferimento dos princípios da legalidade, dignidade e nobreza que devem imperar no trato da res publica.
Por seu turno, no caso, não parece haver razão plausível à invocação de títulos honoríficos, avaliações positivas e possíveis realizações de destaque do ex-presidente, como tentativa de colocá-lo como suprassumo que o coloca acima da lei e de todos, como se o todo-poderoso não pudesse ser submetido ao crivo das investigações para se verificar a regularidade de seus atos como homem público, ou seja, como se ele estivesse em patamar superior aos imortais, imune a qualquer suspeita, inimputável e inalcançável pelas leis dos homens.
Ainda nessa linha de superioridade e de onipotência, o ex-presidente solicitou a investigação do procurador que o enquadrou para fins de investigação, com vistas à aplicação de sanção nele, e também o arquivamento do processo pertinente, mas a Procuradoria descartou punição ao servidor e manteve ativa a apuração sobre possível tráfico de influência internacional.
Na verdade, a alegação de louvável desempenho de estadista operoso, reconhecido mundialmente, somente reforça a tese de que ele precisa não somente dizer que tenha agido com honestidade e legitimidade, mas comprovar a licitude de seus atos e nada melhor do que a investigação sob a incumbência do órgão da reconhecida competência como a Procuradoria da República, a exemplo dos bons resultados apresentados pela Operação Lava-Jato, onde os resultados são excelentes e auspiciosos.
Causa enorme perplexidade se perceber que o ex-presidente esteja sendo investigado por ter contribuído com o seu prestígio para facilitar o financiamento de obras em países da América Latina e da África, quando se sabe que o Brasil é pródigo de carência em investimentos em obras públicas, o que se aconselharia que o petista devesse ter se esforçado, ao contrário da suspeita em causa, para conseguir recursos do exterior para as construtoras nacionais realizarem obras no Brasil.
É evidente que a captação de recursos do exterior para o Brasil, por meio da influência do ex-presidente, estaria bem mais compatível com seus atributos invocados na defesa, mas não se tem notícia de contratação de um centavo vindo de outro país para a execução de obras no país tupiniquim.
Convém que os homens públicos se conscientizem que seus relevantes atributos e qualidades políticos devem ser empregados exclusivamente em benefício dos brasileiros e do país, tendo a dignidade e a humildade de se submeter às investigações de ordem constitucional e legal, como forma de se contribuir para o aperfeiçoamento dos salutares princípios da legalidade e transparência, que se impõem como forma de imprescindível prestação de contas sobre os atos por eles praticados. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 13 de agosto de 2015

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