Em depoimento prestado à Procuradoria Geral da
República, um lobista, que relatou pagamento de propina ao presidente da Câmara
dos Deputados, afirmou que outro famoso lobista era conhecido por representar o
PMDB, o que incluiria, além do citado presidente da Câmara, o presidente do
Senado Federal e o vice-presidente da República, todos peemedebistas.
Ele declarou, conforme consta do relatório de seu
primeiro depoimento prestado à PGR, em março, que "Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB,
principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com
essas pessoas de 'irmandade'".
O lobista representante do PMDB teria sido responsável
pela intermediação do pagamento de propina combinada com o outro lobista para
facilitar um contrato de aquisição de navios-sonda pela Petrobras com a coreana
Samsung Heavy Industries Co.
Consta ainda do depoimento que o PMDB deu apoio a
ex-diretor da Petrobras, o principal delator do esquema de corrupção operado na
estatal. O lobista, além dos três nomes, menciona o nome de um empresário como
sendo amigo do ex-presidente da República petista.
No depoimento, ele afirmou: "Na área interna, o depoente negociava
diretamente com Paulo Roberto Costa. Fernando Soares - era corrente - que
representava o PMDB.”.
O relatório da PGR sobre o depoimento do lobista
menciona que “Depois o PMDB também
'entrou para fortalecer' Paulo Roberto Costa. Ambos então 'ficaram muito
fortes'. Fala-se de Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Michel Temer, José Carlos
Bumlai (que seria muito amigo do ex-presidente Lula)".
Os três depoimentos do lobista ao grupo de trabalho
da Procuradoria Geral da República permaneciam em sigilo e serviram de
fundamento para o oferecimento de denúncia somente contra o presidente da
Câmara, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ficando os demais
peemedebistas fora de denúncia à Justiça, sem qualquer esclarecimento.
É
muito estranho que haja tanta convicção quanto ao envolvimento do presidente da
Câmara nas falcatruas e esquemas de desvios de dinheiro da Petrobras, tendo por
base o mesmo depoimento prestado pelo delator que também mencionou outros
peemedebistas, mas estes não foram denunciados pelo procurador-geral da
República.
Não
se trata de defender fulano ou ciclano, mas de se incluir na denúncia, ao mesmo
tempo, todos aqueles que tenham sido arrolados como envolvidos nos fatos
inquinados de irregulares, sob pena de estar-se cometendo injustiça ou
privilegiando alguns, sem a devida justificativa, quando a relevância da
situação aconselha que todos respondam por seus erros ou esclareçam os motivos
pelos quais tenham sido arrolados, quanto mais em se tratando que o patrimônio
da estatal foi delapidado com enorme crueldade nunca vista na história do país
e os culpados precisam responder pelos atos ilícitos.
As
acusações sobre possível degradação dos princípios ético e moral, à vista dos
depoimentos de delatores, conseguiram se aproximar dos titulares da
vice-presidência da República e dos presidentes do Senado Federal e da Câmara
dos Deputados, conforme a notícia em foco, em indiscutível demonstração da
fragilidade dos sentimentos de responsabilidade ínsitos nas pessoas desses
relevantes políticos, que jamais deveriam ter se posicionado em conluio com a
criminalidade, caso as delações sejam confirmadas, bastando que sejam viabilizados
as apurações sobre os fatos denunciados e o levantamento das aprovas que os
respaldem.
Os
brasileiros, no âmbito da sua responsabilidade cívica, devem se mobilizar no
sentido de exigir que as investigações da Operação Lava-Jato sejam
aprofundadas, com abrangência sobre as informações pertinentes aos políticos enunciados
de participação no episódio em referência, não importando a relevância de suas
autoridades, de modo que os elementos probantes possam ser robustecidos com o
peso da irrefutabilidade, com vistas à responsabilização dos culpados, à reparação
dos danos causados ao erário e à prevenção de casos semelhantes. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de agosto de 2015
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