sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A relevância das investigações

Em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, um lobista, que relatou pagamento de propina ao presidente da Câmara dos Deputados, afirmou que outro famoso lobista era conhecido por representar o PMDB, o que incluiria, além do citado presidente da Câmara, o presidente do Senado Federal e o vice-presidente da República, todos peemedebistas.
Ele declarou, conforme consta do relatório de seu primeiro depoimento prestado à PGR, em março, que "Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de 'irmandade'".
O lobista representante do PMDB teria sido responsável pela intermediação do pagamento de propina combinada com o outro lobista para facilitar um contrato de aquisição de navios-sonda pela Petrobras com a coreana Samsung Heavy Industries Co.
Consta ainda do depoimento que o PMDB deu apoio a ex-diretor da Petrobras, o principal delator do esquema de corrupção operado na estatal. O lobista, além dos três nomes, menciona o nome de um empresário como sendo amigo do ex-presidente da República petista.
No depoimento, ele afirmou: "Na área interna, o depoente negociava diretamente com Paulo Roberto Costa. Fernando Soares - era corrente - que representava o PMDB.”.
O relatório da PGR sobre o depoimento do lobista menciona que “Depois o PMDB também 'entrou para fortalecer' Paulo Roberto Costa. Ambos então 'ficaram muito fortes'. Fala-se de Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Michel Temer, José Carlos Bumlai (que seria muito amigo do ex-presidente Lula)".
Os três depoimentos do lobista ao grupo de trabalho da Procuradoria Geral da República permaneciam em sigilo e serviram de fundamento para o oferecimento de denúncia somente contra o presidente da Câmara, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ficando os demais peemedebistas fora de denúncia à Justiça, sem qualquer esclarecimento.
É muito estranho que haja tanta convicção quanto ao envolvimento do presidente da Câmara nas falcatruas e esquemas de desvios de dinheiro da Petrobras, tendo por base o mesmo depoimento prestado pelo delator que também mencionou outros peemedebistas, mas estes não foram denunciados pelo procurador-geral da República.
Não se trata de defender fulano ou ciclano, mas de se incluir na denúncia, ao mesmo tempo, todos aqueles que tenham sido arrolados como envolvidos nos fatos inquinados de irregulares, sob pena de estar-se cometendo injustiça ou privilegiando alguns, sem a devida justificativa, quando a relevância da situação aconselha que todos respondam por seus erros ou esclareçam os motivos pelos quais tenham sido arrolados, quanto mais em se tratando que o patrimônio da estatal foi delapidado com enorme crueldade nunca vista na história do país e os culpados precisam responder pelos atos ilícitos.
As acusações sobre possível degradação dos princípios ético e moral, à vista dos depoimentos de delatores, conseguiram se aproximar dos titulares da vice-presidência da República e dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, conforme a notícia em foco, em indiscutível demonstração da fragilidade dos sentimentos de responsabilidade ínsitos nas pessoas desses relevantes políticos, que jamais deveriam ter se posicionado em conluio com a criminalidade, caso as delações sejam confirmadas, bastando que sejam viabilizados as apurações sobre os fatos denunciados e o levantamento das aprovas que os respaldem.
Os brasileiros, no âmbito da sua responsabilidade cívica, devem se mobilizar no sentido de exigir que as investigações da Operação Lava-Jato sejam aprofundadas, com abrangência sobre as informações pertinentes aos políticos enunciados de participação no episódio em referência, não importando a relevância de suas autoridades, de modo que os elementos probantes possam ser robustecidos com o peso da irrefutabilidade, com vistas à responsabilização dos culpados, à reparação dos danos causados ao erário e à prevenção de casos semelhantes. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de agosto de 2015

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