quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Urge a assepsia da imundície política

Conforme notícia divulgada por meio da mídia, as investigações da Operação Lava-Jato apontam que o senador alagoano e ex-presidente da República recebeu, no período de 2010 a 2014, o montante de R$ 26 milhões como pagamento de propina por contratos firmados pela BR Distribuidora. 
Segundo as apurações, há indícios de que houve desvio da propina para a compra, em nome de empresas de fachada do senador, de carros de luxo, como um Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche, que foram apreendidos pela Polícia Federal na Casa da Dinda, antiga residência oficial do presidente da República, à época em que ele ocupava o cargo máximo do país.
O senador alagoano pediu ao Supremo Tribunal Federal a devolução dos referidos veículos, mas, por óbvio, o grupo de trabalho que atua na Operação Lava-Jato já se posicionou contrariamente à devolução em causa, sob o argumento de que há indícios de que os veículos são "produto do crime".
Por sua vez, de acordo com a apuração, os carros foram registrados em nome de empresas de fachada, de propriedade do senador, sendo que dois veículos estão em nome de Água Branca Participações, empresa do senador que, conforme investigação, não tem funcionários e é usada apenas para lavagem de dinheiro.
As investigações também revelaram que as prestações do financiamento do Lamborghini estão atrasadas, em razão da paralisação do pagamento da propina, motivando o acionamento da Justiça, para a retomada o bem, em face da caracterização de inadimplência.
Conforme depoimentos prestados em delação premiada, o senador alagoano recebeu dinheiro vivo resultante do esquema de corrupção na Petrobras, que fora transportado por carro-forte, dando total segurança ao volumoso fardo de dinheiro sujo da corrupção.
Como as informações foram prestadas por delatores, elas ainda estão sendo apuradas no âmbito da Operação Lava-Jato, que não admite falsidade dos fatos apontados, sob pena de anulação dos efeitos da delação.
Em discurso emocionante e vibrante, em tom da dramaticidade, no plenário do Senado Federal, logo depois da apreensão dos carros de luxo, o senador declarou que se encontrava “humilhado” e que a Operação Lava-Jato "extrapolou todos os limites do estado de direito, extrapolou todos os limites constitucionais, extrapolou todos os limites da legalidade", tendo classificado a Operação Politeia de "espetaculosa" e "midiática" e acusou o procurador-geral da República de ter orquestrado a operação para vinculá-lo ao esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Embora o resultado das investigações da Operação Lava-Jato aponte o recebimento de propina pelo senador alagoano, o político beneficiado rechaça a veracidade das acusações, procurando demonstrar por meio de discursos inflamados na tribuna do Senado que tudo não passa de armação para denigrir a sua imagem de homem probo e digno.
À luz dos acontecimentos, com base nos levantamentos em mãos dos responsáveis pelas apurações em causa, parece que as argumentações do senador não passam de esperneio sem o menor fundamento, porquanto à luz do trabalho cuidadoso e bastante objetivo do juiz federal, seria gigantesca insensatez por parte dele a acusação de qualquer fato que não esteja fundamentado em elementos sólidos e confiáveis, com capacidade jurídica suficiente para a aposição de suas decisões.
Entrementes, causa enorme perplexidade para a população inexperiente se verificar que alguns investigados são inapelavelmente presos preventivamente, enquanto outros pobres mortais que são acusados pelo recebimento de "míseros" milhões de reais de propina continuam soltos e xingando até a quinta geração dos responsáveis pelas investigações da Operação Lava-Jato.
Segundo princípio constitucional, todos são iguais perante a lei, ou seja, com base nesse conceito fundamental do mundo jurídico, todos aqueles que se beneficiaram de dinheiro sujo da Petrobras, a princípio, deveriam ser presos cautelarmente, indistintamente dos importantes cargos que ocupam ou não na República, como forma de se eliminar possíveis injustiças.
À vista da arcaica e ultrapassada legislação brasileira, os inescrupulosos homens públicos imaginam que têm o direito e o poder de praticar ilicitudes as mais absurdas e indecentes, inclusive participar de esquema de desvio de recursos dos cofres públicos, e continuar simplesmente impunes, como se eles pudessem estar acima de todos e da lei.
Diante dessa trágica realidade, convém que o Código Eleitoral seja atualizado, com urgência, de modo que o seu aperfeiçoamento e a sua modernização possibilitem que os políticos sem caráter e sem dignidade sejam eliminados em definitivo da vida pública, ficando impedidos de participar de atividades políticas, como forma de moralização da administração pública, que não pode mais continuar ostentando tamanha fragilidade de seus controles facilmente manipulados pela delinquência sistêmica dos péssimos políticos, que estão aproveitando os cargos públicos para satisfazem seus objetivos pessoais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 06 de agosto de 2015

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