domingo, 23 de agosto de 2015

Urge a racionalização da máquina pública

Ainda é cedo para se saber se a “Agenda Brasil” proposta pelo presidente do Senado Federal não passa de mera espuma, como assim ela foi denominada pelo presidente da Câmara dos Deputados, mas, por certo, muitos temas poderiam ter sido incluídos nela, como forma, principalmente, para melhorar o desempenho da administração pública.
Além da incorporação das dez medidas contra a corrupção, que foram formuladas pelo Ministério Público Federal, que estão sendo preparadas como projeto de iniciativa popular, o Congresso Nacional poderia agilizar, evidentemente se tivesse interesse político, a tramitação de mais de 500 projetos de lei contendo medidas de combate à corrupção, que se encontram placidamente engavetados há “séculos” no Parlamento.
É de se estranhar que a festejada “Agenda Brasil” não tenha inserido a tão sonhada redução dos inexplicáveis e injustificáveis 39 ministérios, como antes havia sugerido o próprio autor dessa agenda, quando ainda fazia parte de passageira oposição ao governo, apenas, obviamente, em fase de oportunismo.
Não chega a ser novidade que a imprescindível reforma administrativa deve ter início na Presidência da República, que, não se sabe exatamente como ali se acomoda, em tão pequeno recinto, nada mais nada menos que 18.388 servidores, representando expressiva população bem superior a muitas cidades do país, porém essa multidão é muito bem remunerada, embora seja bastante difícil se saber o que cada servidor faz e se realmente todos comparecem ao serviço normalmente, para o cumprimento da carga de 40 horas semanais, prevista no Estatuto do Servidor Público Federal.
Não há dúvida de que deve haver enorme “esforço” para a acomodação de muitas pessoas em área bastante restrita, mas todo sacrifício é possível para prestigiar e saciar a avidez dos políticos por cargos públicos e nada melhor que o uso da Presidência da República, que tem autonomia para inchar a seu talante, sem necessidade de estudos técnicos, o seu quadro de pessoal, sob o mero argumento de conveniência administrativa, para que aquele Palácio, que pode até ser chamado de coração de mãe, possa acomodar nada menos que nove ministros e seus assessores, em verdadeiro prodígio na administração pública tupiniquim.
É completamente desumano e impossível se pretender reunir, a um só tempo, 18.388 servidores na Presidência da República, que acomoda, pasmem, em tão pouca área, a Vice-Presidência, a Controladoria Geral da União, a Advocacia Geral da União, a Agência Brasileira de Inteligência e todas as secretarias com status de ministério, como a Aviação Civil, Portos, Promoção da Igualdade Racial, Micro e Pequenas Empresas, Assuntos Estratégicos, Relações Institucionais, Direitos Humanos, e de Políticas para Mulheres e ainda a Agência Nacional de Transportes Aquaviários.
A estonteante falta de controle sobre a existência de servidores públicos não para por aí, na Presidência da República, porque é totalmente injustificável que a capital do Brasil sendo Brasília, desde os idos de 1960, ainda há na antiga capital federal, o Rio de Janeiro, pasmem, 102.623 servidores públicos ativos do Poder Executivo, enquanto no Distrito Federal existem apenas, que ainda são muitos, 70.251 servidores, fatos que demonstram descontrole e falta de racionalidade administrativa, em termos de atendimento às necessidades da administração pública.
Também se caracteriza como verdadeira aberração a existência de quase cem mil cargos comissionados, funções de confiança e gratificações somente no Poder Executivo, ou seja, exatamente 99.850 servidores contratados para o exercício desses cargos no serviço público, cuja quantidade deve representar recorde mundial para essa finalidade.
Os cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) são representados, no Executivo, por exatamente 22.559 servidores de livre nomeação, com preferência por intermédio das indicações políticas, como afilhados partidários, sindicalistas e assemelhados, o que vale dizer que os ocupantes desses cargos não precisam possuir qualquer qualificação para o seu preenchimento, porque, nesses casos, vale somente o peso da indicação.
A quantidade de servidores públicos efetivos e de “comissões” cresceu nos últimos anos, de forma bastante expressiva, desde o ano de 2002 para cá, com o batalhão de quase 130 mil servidores federais civis a mais e cerca de 30 mil novos cargos comissionados, funções de confiança e gratificações, muito embora esse inchamento da máquina pública não signifique que os serviços púbicos tenham melhorado, porque as avaliações comprovam exatamente o contrário, com a perda de qualidade dos serviços públicos.
A estrutura do Estado precisa ser mexida com urgência, no que pertine à racionalização da máquina pública, notadamente com relação ao redimensionamento dos ministérios, das autarquias, das fundações, das agências reguladoras, dos conselhos e das comissões, envolvendo estudos sobre a privatização de estatais e subsidiárias, de modo que o aperfeiçoamento e a modernização da estrutura do Estado sirvam de verdadeiro marco e modelo de eficiência na aplicação dos recursos públicos.
Além da aprovação das medidas concretas e eficazes de combate à corrupção, urge o enxugamento da máquina pública, como forma de racionalização e modernização da Estrutura do Estado, que já atingiu há muito tempo a sua exaustão de funcionamento, de modo a se evitar tanto desperdício de esforços e de recursos material, humano e financeiro, em prestígio dos salutares princípios da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de agosto de 2015

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