sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Absurdas ameaças

Investigados pela Operação Lava-Jato, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal fazem ameaças veladas ou explícitas ao Palácio do Planalto, na tentativa de que o governo, de alguma forma, consiga moderar as investigações da Polícia Federal, sob o argumento de que a intensificação das apurações pode pôr em jogo a aliança do PMDB com o PT e prejudicar a votação de projetos que desagradam ao governo, a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito contrárias ao Planalto e a possibilidade de abertura do impeachment da presidente do país.
Logo em seguida, embora tenha negado ameaça ao governo para conter a PF, o presidente da Câmara autorizou a instalação das CPIs prejudiciais ao governo, como as do BNDES e dos fundos de pensão. Ele mandou outros recados ao Planalto, no sentido de que a relação do PMDB com o PT “já acabou” e que seu partido ainda está na base do governo porque tem “responsabilidade com a governabilidade”, mas comparou a relação a um casamento em que o casal “dorme em quartos separados” – indicando que o PMDB pode deixar a base a qualquer momento.
Nos bastidores do Planalto, o PT morre de medo que o presidente da Câmara autorize a abertura de processo de impeachment da petista.
O senador alagoano também defendeu o rompimento da aliança do PMDB com o PT, porém somente para a eleição presidencial de 2018, quando seu partido terá candidato próprio à Presidência da República.
Em resposta, mas sem mencionar as movimentações de bastidores, o ministro da Justiça disse que jamais atuará no cargo para controlar ou direcionar investigações da PF, em que pese o órgão seja subordinado ao ministério que dirige, mas ele desfruta de autonomia operacional.
Ele ressaltou que, na forma da legislação de regência, ele não pode intervir na condução de inquéritos, podendo apenas determinar a sua abertura quando existirem requisitos legais. O ministro afirmou ainda que fiscaliza a atuação da PF para verificar se existem abusos de autoridade ou alguma ilegalidade, sob pena de incorrer em crime funcional no caso de ele promover o direcionamento ou o controle de investigações.
É indiscutível afronta à democracia e desrespeito aos brasileiros a forma descarada e atrevida de se ameaçar ou intimidar o governo com absurdas represálias pelos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, com relação ao agendamento ou à votação de projetos de interesse do governo, em clara demonstração de abuso de poder.
É inadmissível que políticos se encorajam, de forma absurda, para tirar proveito pessoal mediante o uso de cargos públicos eletivos, como tentativa de se safar de situação delituosa, quando deveriam ter a dignidade de se defenderem pelos próprios meios, porque isso demonstra clara degeneração da liturgia dos relevantes cargos de presidentes da Câmara e do Senado, que deveriam ser preservados por meio de atitudes de dignidade, zelo e decoro.
Não há dúvida de que as ameaças para possível contenção das investigações demonstram, de forma cristalina, a tentativa de se esconder e escamotear a podridão exalada no submundo da corrupção, envolvendo inescrupulosos políticos, que foram eleitos pelo povo não para se beneficiar de recursos públicos, mas para trabalhar pelos brasileiros e defendê-los, sendo inadmissível que eles mantenham alguém como refém, porque isso é crime que se associa aos delitos de corrupção.
É induvidoso que, nos países sérios e evoluídos democraticamente, os políticos envolvidos em mera suspeição de corrupção são automaticamente afastados de seus cargos, como forma de se permitir que as investigações não sejam prejudicadas com a influência da autoridade ou do poder, tendo em vista que o interesse público prevalece sobre a vontade pessoal ou partidária, uma vez que os presidentes também ameaçam a quebra da aliança entre o PMDB e o PT.
Os brasileiros precisam se conscientizar sobre as espécies de políticos que ainda existem em atividade, para que possam exigir reformas urgentes da legislação político-eleitoral, no sentido de se permitir que os homens públicos que demonstram apatia à rigorosa observância aos princípios da ética, moralidade, dignidade, decoro e honestidade sejam eliminados definitivamente da vida pública, como forma de se possibilitar a moralização da administração pública. Acorda, Brasil! 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 21 de agosto de 2015

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