quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A irrelevância da dignidade

O vice-presidente da República teria comunicado à presidente do país a sua saída da articulação política do governo. Como a segunda autoridade na hierarquia do poder, ele deixa as negociações sobre a distribuição de cargos e a liberação de emendas parlamentares para o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil e passa a se dedicar apenas aos movimentos mais amplos da política nacional.
A decisão de se afastar da coordenação política do governo foi tomada durante reunião com a presidenta petista, que a havia convocada na tentativa de demovê-lo dessa medida.
Embora permaneça como um dos principais aliados do governo, o PMDB se fraciona mais uma vez após a decisão do presidente da legenda de se afastar da coordenação política do governo.
Na qualidade de coordenador político, o peemedebista foi alvo de muitas e duras críticas por parte de líderes do partido do governo, principalmente no momento que ele disse que o país precisa de “alguém que tenha a capacidade de reunificar a todos”, dando a entender, sem meias palavras, que ele seria a solução para a crise política no país.
Na realidade, o peemedebista chegou a reconhecer que errou ao querer ser “honesto demais” sobre a crise política que se alastrava intensamente no governo, tendo declarado, na ocasião, que “Eu acho que o meu problema foi ter sido honesto demais. Ensaiei aquela fala porque sabia da sua importância e não queria errar. Meu objetivo era fazer um chamamento pela unidade do país”.
Alguns especialistas arriscam em sugerir que a saída do vice-presidente da coordenação política também abre larga avenida para o PMDB deixar a base de sustentação do governo, porque essa é a vontade predominante dos peemedebistas, fato que contribuiria para elevar potencialmente a ebulição da temperatura do ambiente político.
Em que pese a vontade política do vice-presidente de deixar, oficialmente, a coordenação política, ele teria acertado com a presidenta do país, durante a última reunião, que seu objetivo é deixar de lado o varejo no trato com os parlamentares. Na nova versão do peemedebista, ele passará a cuidar apenas da “macropolítica“, sem responsabilidade por cargos e emendas parlamentares.
Indubitavelmente, o país tupiniquim deve ser a única nação do mundo a eleger o vice-presidente da República - que teria, em princípio, a relevante função, entre outras, de substituir o presidente do país - para servir o papel de intermediário entre o Palácio do Planalto e o Parlamento, com a desprezível função de negociador da aprovação de matéria de interesse do governo em excrescente troca da liberação de verbas parlamentares e da distribuição de cargos nos segundo e terceiro escalões do governo, em clara demonstração de aviltamento e fragilização dos princípios republicanos e da dignidade da democracia.
Na realidade, importa seja ressaltado que, nos países sérios, dignos e evoluídos democraticamente, os políticos considerados de altíssimo nível, no quilate da segunda maior autoridade da República, jamais seriam designados para o exercício de atividades tão rasteiras como as delegadas ao vice-presidente brasileiro, que, em momento de lucidez, dá sinal da insignificância de suas funções no governo, tanto que ensaiou desistir do papel absolutamente ridículo e insignificante, mas ainda não o fez em respeito à sua conscientização de ainda poder contribuir para o fortalecimento das instituições, segundo as suas palavras.  
O peemedebista-mor deveria ter a dignidade de falar a verdade, para dizer ao país que ele não conseguiu liberar as emendas dos parlamentares e distribuição de cargos para os apaniguados dos políticos, em "pagamento" dos indecentes acordos fechados por ele com os congressistas, para aprovação de matérias de interesse do governo, medidas que foram atendidas depois que ele ameaçou abandonar o governo.
Estes fatos dificultaram a sua desenvoltura junto aos congressistas, diante da falta do cumprimento dos acordos, por parte do peemedebista. Ou seja, com a quebra do trato com os parlamentares, que agem como verdadeiros abutres da República, o trabalho de principal articulador do governo foi seriamente prejudicado justamente pela falta de apoio e sensibilidade do Ministério da Fazenda e da Casa Civil da PR, por não atenderem tempestivamente as demandas dos congressistas.
Nesse caso, o então coordenador político do governo não pôde cumprir os acordos espúrios do toma lá, dá cá, que tanto deslustram a dignidade dos brasileiros de caráter.
Diante desse fato sumamente aviltante e indigno para político de escol, consistente na participação de recriminável balcão de troca de favores escusos com o aval do governo, cujas práticas bisonhas que não devem existir nem nas republiquetas, os brasileiros têm o dever patriótico de repudiar, com a máxima veemência, as atividades odiosas desincumbidas pelo coordenador político do governo, consistentes nos acordos imundos, ilegítimos e vexatórios que tanto apequenam as práticas políticas e ajudam a desacreditar os homens públicos, diante do cristalino desvirtuamento do desempenho de suas funções públicas. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de agosto de 2015

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