Os
maiores financiadores de campanha eleitoral são responsáveis por mais da metade
dos valores doados por empresas e pessoas físicas na última eleição, segundo consta
da contabilização dos partidos. O grosso do financiamento tem origem na
iniciativa privada, que é complementado por valores oriundos do Fundo
Partidário, normalmente constituído por recursos públicos.
Embora
o universo de doadores seja formado por mais de trinta mil abnegados, é
significativa a concentração dos financiadores em grandes conglomerados, sendo que
alguns, por razões sabidas, porém absolutamente “inconfessáveis”, se destacam, como
o primeiro do ranking, o Grupo JBS, que teria doado centenas de milhões de
reais.
Outras
empresas também tiveram peso nas doações, como a Friboi e seu grupo, que
receberam o reconhecimento pelos expressivos valores repassados aos partidos; o
grupo Ambev, proprietária das marcas Brahma, Antarctica e Skol, que abriu seus
cofres para doar milhões para os candidatos, com preferência para os de grandes
partidos, com dominação no Parlamento; o setor financeiro foi muito bem
representado, com destaque para o grupo Bradesco e o banco BTG Pactual e sua
administradora de recursos; as empreiteiras, que são protagonistas das bondades,
garantindo a supremacia dos financiamentos de campanha, com centenas de milhões
de reais, etc.
Os
dez maiores doadores da última campanha têm a metade composta por grupos
empresariais com base no ramo da construção, com destaque para a OAS, Andrade
Gutierrez, UTC Engenharia, Queiroz Galvão e Odebrecht.
Como
não poderia ser diferente, por ser o partido dominante da politica brasileira,
o PT foi o partido que liderou a arrecadação de todos os segmentos
empresariais, tendo sido seguido pelos partidos de maior representatividade
política.
Não
pode passar despercebido que a maioria das construtoras doadoras está sendo investigada
na Operação Lava-Jato, por suspeita de participação em esquema de corrupção
envolvendo recursos públicos, como a justificar tamanha facilidade para repasse
de montanhas de dinheiro para as campanhas de candidatos e partidos, sendo que alguns
também são objeto de investigação na citada operação, dando a entender que se
trata de verdadeiro círculo vicioso com uso de recursos dos tolos dos
contribuintes, que têm servido apenas para custear milionárias campanhas e
garantir a renovação de contratos ou a assinatura de outros novos, em um
inescrupuloso e ilegítimo jeitinho brasileiro para que todos se beneficiem de
forma irregular e vergonhosa de recursos públicos.
Nesse
mar de lama, existem ainda as empresas que se beneficiaram, segundo a mídia, de
financiamentos com juros vantajosos do BNDES, como o grupo JBS, Friboi e outros
grupos, que, inexplicavelmente, fizeram doações milionárias, principalmente
para a campanha da candidata oficial, denotando visível promiscuidade, à vista
de o gesto funcionar como ato de claro agradecimento pelos benefícios com
dinheiro a juros subsidiados, em condições bem diferentes daquelas praticadas
no mercado bancário privado.
Vê-se
que o custo da democracia tupiniquim é regado, de forma inconcebivelmente
exagerada, por valores bilionários provindos da concentração da ajuda
financeira de empresas ligadas a grandes grupos econômicos, como empresários,
construtoras, bancos, mineradoras, pecuárias etc., que abrem seus cofres em
gesto de extremas generosidade e benevolência, em troca, evidentemente, de inescrupulosas
facilitações negociais com o Estado, que certamente rendem formidáveis lucros,
caso contrário não havia o escancarar tão generoso dos principais cofres do
país para custear nababescos gastos de publicidade e de propaganda eleitorais.
A
grande interrogação que se suscita diante dessa constatação de muita bondade caritativa
é se essa movimentação bilionária de recursos, de forma absolutamente pegajosa
e repulsiva para os princípios da razoabilidade, principalmente para grandes
partidos que dominam as urnas, seria possível caso não houvesse o “terceiro”
turno para que os grupos econômicos possam realizar o devido “acerto” de
contas, que normalmente consiste na concessão de privilégios recompensadores
dos benefícios de campanha?
Na
realidade, não fosse a existência desse perverso sistema promíscuo da troca de
doações por privilégios nas negociatas envolvendo recursos públicos, a se permitir
a antecipação de doações para serem, via de regra, compensadas posteriormente,
em troca de privilégios nas contratações ou em outras formas de influência
política, financeira ou quaisquer modalidades que beneficiem os envolvidos,
certamente que as doações não seriam tão generosas e expressivas, diante do
comprometimento de tanto dinheiro em causa absolutamente estranha às
finalidades precípuas das respectivas empresas.
Essa
verdadeira farra com dinheiros dos tolos dos contribuintes precisa acabar, com
urgência, mediante a reformulação desse sistema retrógrado, ultrapassado e
claramente destinado a beneficiar os participantes inescrupulosos, tanto os
doadores como os beneficiados, que menosprezam conscientemente os princípios da
ética, moralidade, legalidade e dignidade na gestão dos recursos públicos, como
se essa cultura rasteira não contribuísse para a degradação da República, por
ser forma primária de alimentação dos famigerados esquemas de corrupção.
É
evidente que não será fácil se eliminar essa cultura degenerada e questionável
do financiamento por parte dos grupos econômicos, mas ela poderia ser menos
censurável se fosse estabelecido limite de valor para as doações por pessoas
físicas e jurídicas, caso persista esse espúrio e repugnante sistema de
doações, e, de igual modo, os candidatos fossem obrigados a gastar somente o
mínimo possível, num limite de gastos estabelecido igualmente para o mesmo
cargo, para se evitar o peso do poder econômico nas campanhas, tudo em harmonia
com a imperiosa necessidade da busca da isonomia e da moralização do sistema
político-eleitoral.
Convém
que os brasileiros se conscientizem de que a verdadeira evolução, modernização
e reformulação do sistema de financiamento de campanha somente se processarão
se houver a vontade e a participação popular, porque é o povo que deve se
interessar para a moralização tanto ansiada neste país pelas pessoas de bem,
uma vez que os homens públicos já demonstraram completa incapacidade para aperfeiçoar
e modernizar o sistema que vem atendendo, de forma satisfatória, às suas
conveniências políticas e eleitoreiras. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de setembro de 2015
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