Embora
tenha se esforçado para concluir a reforma ministerial, a presidente da
República foi forçada a adiar o anúncio da nova composição da Esplanada dos
Ministérios, em razão da divisão interna do PMDB, que disputa com unhas e dentes os
cargos colocados no balcão das negociatas.
Insatisfeita
com a distribuição dos cargos, a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados
ameaçou rebelião com a sinalização de que a presidente poderia recuar no acordo
de entregar os Ministérios da Saúde e da Infraestrutura - fusão dos Ministérios
da Aviação Civil e dos Portos - aos deputados peemedebistas.
Diante
do impasse, a presidente foi aconselhada a aceitar as exigências dos
peemedebistas e a assegurar que o acordo estava mantido, com o que tranquilizou
o líder do PMDB na Câmara, por ter recebido a “... garantia da presidente Dilma de que ela vai honrar o compromisso de
manter dois ministérios com a bancada. Avisei que se este acordo tivesse sido
quebrado, voltaria tudo à estaca zero e eu teria de consultar novamente a
bancada".
O
impasse criado nas negociatas teria deixado a presidente perturbada e em situação
bastante complicada, diante da diminuiu da margem de manobra dela para a
acomodação das alas do PMDB no seu governo. No entanto, a petista houve por bem
seguir a orientação do seu guru político de não deixar de atender nenhum setor
do PMDB, exatamente para não arriscar a governabilidade, caso contrarie as
pretensões peemedebistas.
Ou
seja, fica muito claro que a reforma do ministério está sendo promovida para
atender carinhosamente às exigências impostas pelo PMDB, que ameaça debandar do
governo e deixar a petista com a broxa na mão, exposta à terrível possibilidade
de ter facilitado o seu afastamento da Presidência, justamente se não satisfizer
a ganância de despudorados e inescrupulosos peemedebistas, ávidos pelas
mamatas, benesses e influências propiciadas pelo poder, que vem sendo usado
pela presidente para satisfazer seus interesses de permanência no cargo a
qualquer custo.
À
toda evidência, não tem sido nada fácil a missão da presidente de tentar
atender às reivindicações do partido que se mostra alucinado por ministérios,
em clara demonstração da venda de suas consciências e de seus votos em apoio à
podridão que se esforça para se manter vigendo com a imprescindível
participação do grande PMDB.
Por enquanto ainda não se sabe quem tem menos
dignidade e mais imoralidade nessas negociatas envolvendo barganha com ministérios
em troca de apoio político no Congresso Nacional.
Com toda certeza, nem nas republiquetas os
ministérios são objeto de disputas e de instrumentos apropriados a verdadeiro
balcão de negociatas à luz do dia, em explícito sistema denominado “toma lá, dá
cá”, exatamente para atender às indignas conveniências do governo e dos
políticos, onde todos demonstram completos falta de pudor e de
irresponsabilidade com a coisa pública e se nivelam por baixo, principalmente
pela forma espúria de transformação de órgãos públicos em moeda de troca. Isso
em um país com o mínimo de seriedade e de consciência cívica se chama
simplesmente indignidade e falta de ética e de moral.
É inadmissível que, em pleno século XXI, ainda
existem políticos com a índole do tempo da era da pedra lascada, disputando
cargos públicos em acirrada disputa de barganha, para, de um lado, se
beneficiarem das benesses do poder e de suas influências, em satisfação de
interesses pessoais ou partidários, e, do outro, a certeza da blindagem no
Congresso Nacional, com vistas a se evitar a abertura do processo de
impeachment da presidente.
Além de deixarem muito claro a falta de respeito à
relevância da representatividade emanada do povo, no sentido da delegação aos
políticos para o exercício de cargos públicos eletivos com a devida dignidade, em
estrito cumprimento às funções derivadas dos conceitos constitucionais de
dignidade, moralidade e legalidade.
À luz dos fatos vindos à lume, não se pode dizer que
se trata de propriamente reforma ministerial, no estrito sentido
técnico-administrativo próprio dos países civilizados, mas sim de efetivação de
negociatas espúrias para acomodação de interesses de membros de ala de
agremiação política na Esplanada dos Ministérios, de modo que elas fiquem
fartamente contempladas e satisfeitas, ficando explícitas as formas ilegítimas
e nada sérias e democráticas, à vista do claro ferimento dos salutares princípios
da ética, moralidade, legalidade e dignidade, em detrimento dos verdadeiros
interesses nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de setembro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário