segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O balcão das negociatas

Embora tenha se esforçado para concluir a reforma ministerial, a presidente da República foi forçada a adiar o anúncio da nova composição da Esplanada dos Ministérios, em razão da divisão interna do PMDB, que disputa com unhas e dentes os cargos colocados no balcão das negociatas.
Insatisfeita com a distribuição dos cargos, a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados ameaçou rebelião com a sinalização de que a presidente poderia recuar no acordo de entregar os Ministérios da Saúde e da Infraestrutura - fusão dos Ministérios da Aviação Civil e dos Portos - aos deputados peemedebistas.
Diante do impasse, a presidente foi aconselhada a aceitar as exigências dos peemedebistas e a assegurar que o acordo estava mantido, com o que tranquilizou o líder do PMDB na Câmara, por ter recebido a “... garantia da presidente Dilma de que ela vai honrar o compromisso de manter dois ministérios com a bancada. Avisei que se este acordo tivesse sido quebrado, voltaria tudo à estaca zero e eu teria de consultar novamente a bancada".
O impasse criado nas negociatas teria deixado a presidente perturbada e em situação bastante complicada, diante da diminuiu da margem de manobra dela para a acomodação das alas do PMDB no seu governo. No entanto, a petista houve por bem seguir a orientação do seu guru político de não deixar de atender nenhum setor do PMDB, exatamente para não arriscar a governabilidade, caso contrarie as pretensões peemedebistas.
Ou seja, fica muito claro que a reforma do ministério está sendo promovida para atender carinhosamente às exigências impostas pelo PMDB, que ameaça debandar do governo e deixar a petista com a broxa na mão, exposta à terrível possibilidade de ter facilitado o seu afastamento da Presidência, justamente se não satisfizer a ganância de despudorados e inescrupulosos peemedebistas, ávidos pelas mamatas, benesses e influências propiciadas pelo poder, que vem sendo usado pela presidente para satisfazer seus interesses de permanência no cargo a qualquer custo.  
À toda evidência, não tem sido nada fácil a missão da presidente de tentar atender às reivindicações do partido que se mostra alucinado por ministérios, em clara demonstração da venda de suas consciências e de seus votos em apoio à podridão que se esforça para se manter vigendo com a imprescindível participação do grande PMDB.
Por enquanto ainda não se sabe quem tem menos dignidade e mais imoralidade nessas negociatas envolvendo barganha com ministérios em troca de apoio político no Congresso Nacional.
Com toda certeza, nem nas republiquetas os ministérios são objeto de disputas e de instrumentos apropriados a verdadeiro balcão de negociatas à luz do dia, em explícito sistema denominado “toma lá, dá cá”, exatamente para atender às indignas conveniências do governo e dos políticos, onde todos demonstram completos falta de pudor e de irresponsabilidade com a coisa pública e se nivelam por baixo, principalmente pela forma espúria de transformação de órgãos públicos em moeda de troca. Isso em um país com o mínimo de seriedade e de consciência cívica se chama simplesmente indignidade e falta de ética e de moral.
É inadmissível que, em pleno século XXI, ainda existem políticos com a índole do tempo da era da pedra lascada, disputando cargos públicos em acirrada disputa de barganha, para, de um lado, se beneficiarem das benesses do poder e de suas influências, em satisfação de interesses pessoais ou partidários, e, do outro, a certeza da blindagem no Congresso Nacional, com vistas a se evitar a abertura do processo de impeachment da presidente.
Além de deixarem muito claro a falta de respeito à relevância da representatividade emanada do povo, no sentido da delegação aos políticos para o exercício de cargos públicos eletivos com a devida dignidade, em estrito cumprimento às funções derivadas dos conceitos constitucionais de dignidade, moralidade e legalidade.
À luz dos fatos vindos à lume, não se pode dizer que se trata de propriamente reforma ministerial, no estrito sentido técnico-administrativo próprio dos países civilizados, mas sim de efetivação de negociatas espúrias para acomodação de interesses de membros de ala de agremiação política na Esplanada dos Ministérios, de modo que elas fiquem fartamente contempladas e satisfeitas, ficando explícitas as formas ilegítimas e nada sérias e democráticas, à vista do claro ferimento dos salutares princípios da ética, moralidade, legalidade e dignidade, em detrimento dos verdadeiros interesses nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de setembro de 2015

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