terça-feira, 29 de setembro de 2015

Inescrupulosas negociatas

As costuras políticas destinadas à composição da nova equipe ministerial, com a articulação do governo e dos líderes dos partidos aliados, conseguiram não somente ampliar o afastamento entre a presidente e o seu vice, mas deixar ainda mais evidente possível que ele somente era levado em conta quando demonstrava atitude em defesa do governo, notadamente à época da participação dele na articulação política do Palácio do Planalto.
Como o vice-presidente preferiu não participar efetivamente da nova composição da Esplanada dos Ministérios, simplesmente a presidente o descartou e procurou diminuir o máximo o seu poder, que não perdeu tempo nos bastidores para tentar turvar as negociações com integrantes de seu partido, ao dificultar o caminho a ser palmilhado pela petista para concluir a nova engenharia ministerial.
A vida do peemedebista não tem sido facilitada no governo desde que ele disse que “alguém” precisa unir o país, ante o agigantamento das crises política e econômica, cuja expressão passou a funcionar como senha evidenciando que o país estava acéfalo e à deriva, dando a entender ainda que esse “alguém” poderia ser o próprio mensageiro.
Na verdade, o anúncio da falta de comando do país foi logo percebido pelo governo, que teve a ideia de se despertar da letargia mortífera e agiu imediatamente em sua defesa, ao excluir o vice das principais decisões do Palácio do Planalto, como mostram com muita clareza as negociatas somente com parlamentares, evidentemente sem a participação dele.
É por demais sabido que a reforma ministerial em curso vem sendo arquitetada objetivando descartar o risco de afastamento da petista do cargo e aprovar o ajuste da economia considerado essencial para suavizar a terrível crise econômica, mas a reação do vice-presidente, que foi contrariado nos seus interesses políticos, por ter sido preterido nessa reforma, pode ter reflexos negativos às pretensões do Executivo.
A influência política do vice foi demonstrada depois que ele percebeu que ficaria sem representante de sua ala na Esplanada, ficando sem espaço e sem prestígio também no seio do partido, por ter ficado sem ministro de sua confiança no governo.
Enquanto o vice não se conforma com a perda de prestígio, os deputados peemedebistas devem indicar o novo ministro da Saúde, pasta que detém o maior orçamento da Esplanada, e outros dois parlamentares, por seguir a lógica estabelecida na reforma, de que a preferência é de quem tem voto, medida que tem sido comemorado no Congresso Nacional, mas isso não estava nos planos do vice, cujos apadrinhados não têm voto.
Agora fica fácil de entender o motivo pelo qual a petista ainda não concluiu a reforma ministerial, exatamente porque gritam fortes os espúrios interesses fisiológicos peemedebistas, que brigam com ardor pelos cargos nos ministérios, que são imprescindíveis para à continuidade do usufruto das regalias, benesses e influências propiciadas pelo poder, que todos se acham no direito de não abrir mão de importantes vantagens políticas, enquanto os interesses públicos são relegados, como sempre, em benefício da classe política dominante.
Na realidade, a perda da confiança pelo governo de continuar à frente da articulação política e o nítido isolamento das questões palacianas tiveram como reflexo também o distanciamento, até mesmo no âmbito do partido, do vice das negociações junto ao governo, visto que nem os congressistas se arriscaram em defender nomes do grupo dele para integrar a equipe ministerial.
O que se percebe é que as negociatas entre o governo e alas do PMDB se tornaram verdadeiro balaio de gatos, dada à confusão formada em defesa dos arranjos para a formação do novo ministério, onde os políticos inescrupulosos e oportunistas brigam, de forma desesperada, para participar desse momento maravilhoso de ser ministro, na certeza de assegurar as benesses e as influências proporcionadas pelo poder, que oferece formidável estrutura para alimentar o egoísmo de muitos políticos, alguns sem a menor qualificação para tanto.
Não há negar que eles são eleitos para representar com dignidade a população, tendo por fim a busca da satisfação do bem comum, mas, diferentemente disso, os congressistas estão muito mais a fim de satisfazer interesses pessoais, conforme mostram à saciedade os bastidores das negociatas para a composição da reforma ministerial, que objetiva, basicamente, eliminar o risco de impeachment da presidente petista e aprovar o ajuste econômico de vital importância para minimizar a terrível crise econômica.
Urge que os brasileiros repudiem, com veemência, a indiscutível falta de brasilidade na discussão, no âmbito do Executivo e do Parlamento, das questões de essencial importância para os interesses nacionais, em cristalina demonstração de promiscuidade que não condizem com os princípios inarredáveis da administração pública, convindo que os homens públicos se conscientizem sobre a imperiosa necessidade da observância do conceito de dignificação das funções constitucionalmente incumbidas ao Estado. Acorda, Brasil!   
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de setembro de 2015

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