As
costuras políticas destinadas à composição da nova equipe ministerial, com a articulação
do governo e dos líderes dos partidos aliados, conseguiram não somente ampliar
o afastamento entre a presidente e o seu vice, mas deixar ainda mais evidente
possível que ele somente era levado em conta quando demonstrava atitude em
defesa do governo, notadamente à época da participação dele na articulação política
do Palácio do Planalto.
Como
o vice-presidente preferiu não participar efetivamente da nova composição da
Esplanada dos Ministérios, simplesmente a presidente o descartou e procurou
diminuir o máximo o seu poder, que não perdeu tempo nos bastidores para tentar
turvar as negociações com integrantes de seu partido, ao dificultar o caminho a
ser palmilhado pela petista para concluir a nova engenharia ministerial.
A
vida do peemedebista não tem sido facilitada no governo desde que ele disse que
“alguém” precisa unir o país, ante o agigantamento das crises política e
econômica, cuja expressão passou a funcionar como senha evidenciando que o país
estava acéfalo e à deriva, dando a entender ainda que esse “alguém” poderia ser
o próprio mensageiro.
Na
verdade, o anúncio da falta de comando do país foi logo percebido pelo governo,
que teve a ideia de se despertar da letargia mortífera e agiu imediatamente em
sua defesa, ao excluir o vice das principais decisões do Palácio do Planalto,
como mostram com muita clareza as negociatas somente com parlamentares,
evidentemente sem a participação dele.
É
por demais sabido que a reforma ministerial em curso vem sendo arquitetada
objetivando descartar o risco de afastamento da petista do cargo e aprovar o
ajuste da economia considerado essencial para suavizar a terrível crise
econômica, mas a reação do vice-presidente, que foi contrariado nos seus
interesses políticos, por ter sido preterido nessa reforma, pode ter reflexos
negativos às pretensões do Executivo.
A
influência política do vice foi demonstrada depois que ele percebeu que ficaria
sem representante de sua ala na Esplanada, ficando sem espaço e sem prestígio
também no seio do partido, por ter ficado sem ministro de sua confiança no
governo.
Enquanto
o vice não se conforma com a perda de prestígio, os deputados peemedebistas
devem indicar o novo ministro da Saúde, pasta que detém o maior orçamento da
Esplanada, e outros dois parlamentares, por seguir a lógica estabelecida na
reforma, de que a preferência é de quem tem voto, medida que tem sido
comemorado no Congresso Nacional, mas isso não estava nos planos do vice, cujos
apadrinhados não têm voto.
Agora
fica fácil de entender o motivo pelo qual a petista ainda não concluiu a
reforma ministerial, exatamente porque gritam fortes os espúrios interesses
fisiológicos peemedebistas, que brigam com ardor pelos cargos nos ministérios,
que são imprescindíveis para à continuidade do usufruto das regalias, benesses
e influências propiciadas pelo poder, que todos se acham no direito de não
abrir mão de importantes vantagens políticas, enquanto os interesses públicos
são relegados, como sempre, em benefício da classe política dominante.
Na
realidade, a perda da confiança pelo governo de continuar à frente da
articulação política e o nítido isolamento das questões palacianas tiveram como
reflexo também o distanciamento, até mesmo no âmbito do partido, do vice das
negociações junto ao governo, visto que nem os congressistas se arriscaram em
defender nomes do grupo dele para integrar a equipe ministerial.
O que se percebe é que as negociatas entre o governo
e alas do PMDB se tornaram verdadeiro balaio de gatos, dada à confusão formada
em defesa dos arranjos para a formação do novo ministério, onde os políticos
inescrupulosos e oportunistas brigam, de forma desesperada, para participar
desse momento maravilhoso de ser ministro, na certeza de assegurar as benesses
e as influências proporcionadas pelo poder, que oferece formidável estrutura
para alimentar o egoísmo de muitos políticos, alguns sem a menor qualificação
para tanto.
Não há negar que eles são eleitos para representar
com dignidade a população, tendo por fim a busca da satisfação do bem comum, mas,
diferentemente disso, os congressistas estão muito mais a fim de satisfazer interesses
pessoais, conforme mostram à saciedade os bastidores das negociatas para a
composição da reforma ministerial, que objetiva, basicamente, eliminar o risco de
impeachment da presidente petista e aprovar o ajuste econômico de vital
importância para minimizar a terrível crise econômica.
Urge que
os brasileiros repudiem, com veemência, a indiscutível falta de brasilidade na
discussão, no âmbito do Executivo e do Parlamento, das questões de essencial
importância para os interesses nacionais, em cristalina demonstração de
promiscuidade que não condizem com os princípios inarredáveis da administração
pública, convindo que os homens públicos se conscientizem sobre a imperiosa
necessidade da observância do conceito de dignificação das funções constitucionalmente
incumbidas ao Estado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de setembro de 2015
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