terça-feira, 15 de setembro de 2015

O peso da impopularidade

A presidente da República interpretou como enfraquecimento político a declaração do vice-presidente da República de que é muito difícil que ela se mantenha no poder com a popularidade tão baixa como a atual. Embora ela tivesse declarado que foi apanhada de surpresa, a citada declaração foi minimizada pela petista, que mereceu contemporização sob a alegação de que o peemedebista tem sido leal ao governo.
Enquanto o governo procura absorver o impacto da declaração do vice, a oposição a interpretou como mais um sinal de que o PMDB se prepara para se apear da aliança com o governo e isso poderá acontecer muito proximamente.
O vice-presidente procurou suavizar o impacto da sua fala, dizendo que houve destaque apenas sobre parte classificada como explosiva, que teria sido retirada do contexto, exatamente o trecho em que ele diz que será difícil a presidente permanecer no poder durante três anos com baixa popularidade, sem mencionar o seu complemento, onde se afirma que a presidente está tomando medidas para melhorar a economia, que tem por objetivo a recuperação da popularidade e a travessia da crise, para possibilitar o término do mandato normalmente, em 2018.
O vice-presidente disse que a declaração tem peso em sua boca e que, na sua avaliação, não há nenhum ato da sua parte que sequer insinue suspeita de conspiração.
O que importa, no caso, é que o vice não disse nada além da verdade, porque é humanamente impossível que a presidente não se sensibilize e se incomode com popularidade abaixo do volume morto, como sentenciado assim por seu padrinho político.
Trate-se de pura realidade que a impopularidade crônica não contribui para a realização de bom governo, porque fica muito claro que o desempenho dele é indiscutível termômetro de insatisfação e de intranquilidade que somente ajuda a conturbar ainda mais o que já não funciona convergentemente com o propósito para o eficiente atendimento das necessidades públicas.
Não há negar que governo estruturado exclusivamente com coalizões tendo por base conveniências políticas, como é caso do PT/PMDB, pode dar muito certo enquanto a situação político-administrativa se encontrar às mil maravilhas, com a economia e as políticas públicas sendo conduzidas nos padrões de normalidade, onde tudo funciona sem o menor percalço, mesmo que à custa da omissão de informações importantes sobre o desempenho do governo, em constrangimento ao salutar princípio da transparência que jamais pode se afastar de qualquer gestão considerada séria e democrática.
Não obstante, diante das terríveis crises política, econômica, moral e administrativa, visíveis à luz solar, como vem acontecendo no país tupiniquim, nenhum governo resiste às inquietações surgidas com constância, à vista da perda das condições ideais da manutenção do status quo, com visíveis distanciamentos dos objetivos políticos de poder.
Não há dúvida de que a perda da popularidade é fruto da demonstração da completa incompetência para aglutinar qualidades e condições suficientes para contornar as dificuldades, que simplesmente se avolumam dia após dia, como numa avalanche de neve, destruindo tudo à sua frente.
A incompetência do governo é tão visível que a alternativa para sanear o déficit orçamentário é a criação de tributos, em que pese a existência da carga tributária muito acima do limite da capacidade contributiva dos cidadãos, quando ele deveria se esforçar o máximo para enxugar os gastos perdulários da máquina pública, principalmente com as inexplicáveis e dispensáveis quantidades de ministérios, empresas estatais, cargos comissionados, que somente têm sido usados para a manutenção do indecente cabide de empregos, além de despesas igualmente elimináveis, como propaganda, publicidade, cartões corporativos, telefonia móvel, transportes, diárias etc., que podem ser racionalizadas como forma de enorme economia para os cofres públicos.
Este momento de graves dificuldades o governo precisa ter a sensibilidade de pensar primacialmente pelo que representam o Brasil e os brasileiros, com vistas exclusivamente à satisfação do interesse público, com total desprezo ao que tem sido privilegiado até agora, em benefício das espúrias coalizões fisiológicas, da distribuição de cargos públicos e das precariedades das políticas públicas, tudo com o injustificável propósito de assegurar, com recursos públicos, a absoluta dominação e a perenidade no poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de setembro de 2015

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