quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A potencialização das antipatias

O coordenador nacional do MST foi recebido com apitaço, vaias e xingamentos ao desembarcar no aeroporto de Fortaleza, por integrantes do Instituto Democracia e Ética (IDE), que é ligado à Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos e encabeça, no Ceará, as manifestações pelo impeachment da presidente petista.
Aos gritos de "MST, vai pra Cuba com PT", os manifestantes seguiram-no desde o desembarque até a área do estacionamento do aeroporto, com frases como "a nossa bandeira jamais será vermelha". As pessoas mais exaltadas chamaram o líder do MST de "comunista safado".
A direção nacional do MST repudiou o ato e o considerou "agressivo e constrangedor", tendo registrado que o episódio reflete o atual momento político do país, "em que se vê crescer a cada dia o ódio contra os movimentos populares, migrantes e a população negra e pobre", a par de compará-lo aos recentes acontecimentos no Rio de Janeiro: "Em que a juventude das favelas está sendo impedida, com risco de sofrer agressão, de ir às praias da zona sul da capital fluminense. Estes atos de violência e ódio propagados intensamente nas redes sociais, e que reverberam cada vez mais nas ruas, é mais uma demonstração da violência dos setores da elite brasileira dispostos a promover uma onda de violência e ódio contra os setores populares".
Outras entidades afirmaram que "Temos convicção de que a agressão sofrida pelo companheiro Stédile, não se limita a um ataque individual, ou somente ao MST. Esta agressão só pode ser compreendida como parte de uma ofensiva conservadora da direita na sociedade que busca criminalizar e intimidar todos/as aqueles/as que lutam por um Brasil justo e soberano".
Por sua vez, o coordenador do IDE disse que o líder do MST teve sua integridade física preservada e que "Para aqueles que estão sentindo peninha pela recepção que Stédile recebeu ontem em Fortaleza, tenho a dizer que aquilo foi um beijo comparado aos impropérios que esse fora-da-lei vocifera livremente pelos quatro cantos do Brasil, incitando o ódio, a violência, a luta de classes, o desrespeito ao patrimônio privado e público e, ainda, prometendo colocar exércitos nas ruas. Parem de se esquivar da verdade. Esse elemento, da mais alta periculosidade, apenas está recebendo de volta do mundo o que tem plantado em sua vida: asco".
          Sempre que esse cidadão e seus simpatizantes forem recepcionados na forma como eles merecem, diante da forma incivilizada e agressiva como eles se relacionam com as coisas e tratam as pessoas realmente trabalhadoras e possuidoras do senso de responsabilidade, civismo e patriotismo e que são elas os contribuintes que os mantêm para instigar a violência, a destruição e o desrespeito às leis, à ordem pública e os direitos de propriedade dos cidadãos de bem, possivelmente eles hão de se conscientizar sobre a necessidade de se organizarem e defenderem seus fins institucionais de forma ordeira, respeitosa, em estrita observância aos princípios da racionalidade, civilidade e, sobretudo, da necessidade da convivência pacífica e digna, onde cada individual procure desempenhar seu papel na sociedade, como forma de cumprir a sua missão institucional.
Na verdade, já passou do tempo de as lideranças do MST entenderem que os novos tempos exigem que as pessoas devam viver como verdadeiros seres humanos com capacidade para se respeitarem mutuamente, em condições de igualdade, de valorização dos direitos individuais e de reconhecimento da capacidade de empreender e produzir para o bem comum e o progresso do Brasil.
Constitui indiscutível marco de bestialidade e mediocridade se imaginar que tudo que acontece é pura "demonstração da violência dos setores da elite brasileira dispostos a promover uma onda de violência e ódio contra os setores populares", quando esse argumento já caiu por terra há muito tempo e não passa, atualidade, de chavão comum e próximo da ridicularização, por representar expressão vulgar, sem o menor sentido plausível, mesmo porque se trata muito mais de falta de argumento para ser dado sempre como a mesma justificativa sem fundamento, culpando a elite e a burguesia, que seriam contrários aos pobres, que não é exatamente assim e que, na verdade, eles têm sido muito mais usados para seus propósitos de sugar verbas públicas, sem o menor escrúpulo, tanto que os líderes de movimentos e de entidades sociais de esquerda não sejam pobres, embora tenham sido no passado não muito distante.
Impõe-se que os líderes de entidades sociais procurem exercer suas funções com a devida competência, responsabilidade e exclusivamente na tentativa de alcançar seus objetivos institucionais, sem necessidade do emprego de violência, estupidez ou mascaramento da realidade, que somente têm o condão de angariar e potencializar as piores formas de repúdio e de antipatia da sociedade que é, enfim, quem também mantém os sistemas sociais do governo em funcionamento, com os pesados tributos impingidos a ela, que ainda é incompreendida e maltratada com agressões e incitação à violência pelos movimentos sociais. Acorda, Brasil!           
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de setembro de 2015

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