quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A expressão da verdade?

Depois da estrondosa repercussão sobre a afirmação de que a continuidade da baixa popularidade da presidente do Brasil pode ensejar a sua renúncia, a assessoria do vice-presidente descarta qualquer espécie de conspiração contra a petista, em evidente tentativa de responder às reportagens e análises publicadas pela imprensa, dando a entender que ele teria ficado em situação de desconforto no governo.
O texto ressalta que o peemedebista "Trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje. Todos seus atos e pronunciamentos são nessa direção. Defende que todos devem se unir para superar a crise. Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos.".
Foi dado destaque para o fato de que "Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração. Repudia-a. Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições nacionais".
A assessoria ressalta que o vice-presidente sempre expôs suas posições políticas de forma aberta e franca, em mais de 30 anos de vida pública, e "Como acadêmico, seus raciocínios têm premissa e conclusão. Não é frasista. Não se move pelos subterrâneos, pelas sombras, pela escuridão.".
Não há dúvida de que, nas circunstâncias, a emenda ficou pior que o soneto, porque a tentativa de arrumação do estrago põe mais lenha na fogueira e reacende as disputas pelo poder, para o qual, nos últimos dias, os caciques estão dando lances cada vez mais estratégicos no tabuleiro político.
Causa espanto se saber que a desgraça da presidente, na condução das políticas públicas, acarreta igualmente o infortúnio do próprio vice-presidente, porque ambos estão atrelados ao mesmo governo, por força da coalizão de governabilidade, embora ele não tenha a menor autonomia para executar absolutamente nada, pois a sua contribuição consiste basicamente no apoio ao governo no Congresso Nacional, em troca de cargos em ministérios e empresas estatais, com a materialização do espúrio fisiologismo que expõe ao ridículo a prestação da essencialidade dos serviços públicos, que tem sido de péssima qualidade, objeto do repúdio e da insatisfação dos brasileiros, da impopularidade da presidente do país e da frase que se transformou no cerne da celeuma.
Também causa perplexidade não se mencionar o fato de o PMDB ter patrocinado as peladas fiscais e outras irregularidades, autorizando, no Congresso Nacional, a extrapolação dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, cujas irresponsabilidades contribuíram para alimentar e potencializar as crises que afetam de forma letal a gestão da petista, que tem coparticipação do PMDB, ante o seu integral apoiou.
          É evidente que o vice-presidente não disse mais do que a pura verdade sobre situação que o bom senso reconhece como normal, mas, para a infelicidade dele o seu comentário teve por principal alvo logo a presidente do país, que já demonstrou que não aceita com naturalidade menções sobre a verdade dos fatos acerca do seu governo, tanto que, nesse caso, a reação foi instantânea pelo Palácio do Planalto e tratada como ato de conspiração contra a presidente.
Na forma como o vice se posicionou, nas circunstâncias, foi mais um alerta a mandatária do país, no sentido de que a situação não pode permanecer nesse estado de letargia, mediocridade e tragédia, sob pena de as pressões aumentarem de maneira insuportável e a alternativa é realmente a saída honrada dela do Planalto.
No fundo, o vice-presidente quis tão somente prestar contribuição à presidente brasileira com seu sincero alerta, para que ela possa diligenciar no sentido de organizar e estruturar mecanismos com vistas às providências capazes de sanear as questões e os gargalos que estão sufocando as estruturas do governo, que não podem continuar como estão ou piorar ainda mais, sob pena de a popularidade dela despencar a ponto de precipitar a sua inevitável saída pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. Acorda, Brasil!         
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de setembro de 2015

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