quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A falta da dignidade ao realismo

Ainda repercute intensamente no cenário político a conclusão do vice-presidente da República acerca da sua avaliação sobre a dificuldade de a presidente da República concluir os próximos três anos de mandato, se os índices de popularidade continuarem tão baixos como os atuais. Ele disse que "Hoje o índice (de popularidade) é realmente muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se continuar assim, 7% de popularidade, de fato fica difícil passar de três anos".
Alguns peemedebistas concordaram que o vice tenha dito o que realmente pensa sobre o cenário político-econômico, mas ele que não deveria ter participado de evento promovido por movimento que defende o impeachment da presidente.
Por seu turno, os peemedebistas favoráveis ao rompimento com o governo declararam que as palavras do vice-presidente foram apenas honestas e refletiram a realidade do momento do país. Já outro correligionário do vice disse que "Ele trocou o otimismo pelo realismo. É uma declaração que não pode ser considerada simplesmente um ato falho. O vice-presidente Michel relatou uma realidade".
Outro peemedebista disse que o governo precisa vencer a crise econômica, se quiser reverter a crise de popularidade, tendo acrescentado que "Ou o governo demonstra capacidade de reverter essa situação ou se demonstra incompetente para governar o país. A popularidade da presidente é uma consequência. O maior problema é a crise de credibilidade, que ela não reverte mais. Ela pode reverter a crise econômica. Se reverter, mesmo com a credibilidade abalada, melhora a popularidade".
Aliados do vice avaliaram que ele apenas teria dado voz ao que está na cabeça de todo mundo, fazendo uma espécie de desabafo em razão de ter se sentido fritado pela cúpula do governo, especialmente por parte de ministros petistas, depois do pronunciamento dele no sentido de que "É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos". À época, ministros do PT ventilaram que a frase indicava a atuação de um conspirador.
Na concepção de alguns petistas, que tentaram amenizar a repercussão das frases em apreço, o peemedebista foi "mal interpretado" e a expressão teria sido tirada do contexto. Um petista disse que o vice vem se mostrando "muito leal a Dilma" e que ambos têm o mesmo objetivo de lutar para tirar o país da crise.
É evidente que o vice-presidente foi mal interpretado tão somente na concepção daqueles que resistem bravamente a enxergar a realidade nua e crua sobre os fatos pelos quais o país foi desgraçadamente açambarcado, por força das desastradas políticas e ações protagonizadas pelo governo, que conseguiu derreter as estruturas do Estado, com sua equipe formada basicamente por políticos laçados pelo medíocre sistema do fisiologismo instituído pelo PT, do qual é integrante privilegiado desde a origem o PMDB, que nunca ameaçou se rebelar como agora, apenas e tão somente porque as crises criadas pela incapacidade gerencial da presidente do país podem afetar profunda e decisivamente os objetivos políticos do partidão, que não está nada acostumado a participar de projetos fracassados, porque sempre esteve se beneficiando das benesses do Planalto e das salutares influências do poder.
Enquanto a hipocrisia servir de principal motivação para o desempenho dos cargos públicos eletivos, quando sempre há desculpas fajutas, como essa de má interpretação, quando deve prevalecer a realidade dos fatos e das circunstâncias, a democracia deste país não passa de verdadeira embromação bem apropriada às republiquetas, constituídas de seletos e deprimentes aproveitadores e oportunistas.
O vice-presidente foi generoso ao afirmar que a presidente do país pode não terminar seu mandato se a baixa popularidade dela continuar rasteira ao nível do piso do Planalto, quando, na verdade, o governo dela já acabou há muito tempo, mas ela resiste bravamente no cargo, conforme mostram os fatos.
A declaração do peemedebista apenas é consentânea com o seu pensamento oportunista e demonstra a sua verdadeira personalidade, segundo a qual não haveria motivo algum para insatisfação caso o país estivesse sendo administrado com competência e o governo surfando na maior onda da avaliação por seu desempenho.
Nessas circunstâncias, estaria mantido o status quo estabelecido desde o início do governo petista, em que o PMDB esteve sempre na preferência dele como principal aliado, com a distribuição generosa de ministérios e empresas estatais, em troca de apoio aos projetos políticos do PT, inclusive ajudando à perenidade no poder e a burlar os limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme a indigna extrapolação do déficit primário, em dezembro último.
Nenhum partido foi tão ostensivamente beneficiado com o fisiologismo implantando pelo governo, como forma de composição destinada à governabilidade, que teve como finalidade precípua o fortalecimento dos partidos e a continuidade no poder, em indiscutível detrimento dos interesses nacionais, que ficaram em planos secundários, como bem demonstram os fatos deletérios que contribuíram para empurrar o país para a terrível derrocada, onde todos os indicadores, inclusive econômicos, apontam para dificuldades ainda maiores para o governo, país e povo.
Os homens públicos precisam se conscientizar, em quaisquer circunstâncias, sobre a necessidade de serem enxergados os fatos sob a ótica do realismo, de modo que ninguém tenha o direito de interpretá-los segundo as suas conveniências políticas ou tão somente quando a oportunidade se adeque à satisfação de seus interesses pessoais ou partidários, em clara demonstração de indignidade e de desonestidade quanto às práticas políticas. Acorda, Brasil!    
       
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de setembro de 2015

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