Ainda
repercute intensamente no cenário político a conclusão do vice-presidente da
República acerca da sua avaliação sobre a dificuldade de a presidente da
República concluir os próximos três anos de mandato, se os índices de
popularidade continuarem tão baixos como os atuais. Ele disse que "Hoje o índice (de popularidade) é realmente muito baixo. Ninguém vai
resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se continuar assim, 7% de
popularidade, de fato fica difícil passar de três anos".
Alguns
peemedebistas concordaram que o vice tenha dito o que realmente pensa sobre o
cenário político-econômico, mas ele que não deveria ter participado de evento
promovido por movimento que defende o impeachment da presidente.
Por
seu turno, os peemedebistas favoráveis ao rompimento com o governo declararam que
as palavras do vice-presidente foram apenas honestas e refletiram a realidade do
momento do país. Já outro correligionário do vice disse que "Ele trocou o otimismo pelo realismo. É uma
declaração que não pode ser considerada simplesmente um ato falho. O
vice-presidente Michel relatou uma realidade".
Outro
peemedebista disse que o governo precisa vencer a crise econômica, se quiser reverter
a crise de popularidade, tendo acrescentado que "Ou o governo demonstra capacidade de reverter essa situação ou se
demonstra incompetente para governar o país. A popularidade da presidente é uma
consequência. O maior problema é a crise de credibilidade, que ela não reverte
mais. Ela pode reverter a crise econômica. Se reverter, mesmo com a credibilidade
abalada, melhora a popularidade".
Aliados
do vice avaliaram que ele apenas teria dado voz ao que está na cabeça de todo
mundo, fazendo uma espécie de desabafo em razão de ter se sentido fritado pela
cúpula do governo, especialmente por parte de ministros petistas, depois do
pronunciamento dele no sentido de que "É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos". À época, ministros do PT ventilaram que a frase
indicava a atuação de um conspirador.
Na
concepção de alguns petistas, que tentaram amenizar a repercussão das frases em
apreço, o peemedebista foi "mal
interpretado" e a expressão teria sido tirada do contexto. Um petista
disse que o vice vem se mostrando "muito
leal a Dilma" e que ambos têm o mesmo objetivo de lutar para tirar o
país da crise.
É evidente que o vice-presidente foi mal
interpretado tão somente na concepção daqueles que resistem bravamente a
enxergar a realidade nua e crua sobre os fatos pelos quais o país foi
desgraçadamente açambarcado, por força das desastradas políticas e ações
protagonizadas pelo governo, que conseguiu derreter as estruturas do Estado,
com sua equipe formada basicamente por políticos laçados pelo medíocre sistema
do fisiologismo instituído pelo PT, do qual é integrante privilegiado desde a
origem o PMDB, que nunca ameaçou se rebelar como agora, apenas e tão somente
porque as crises criadas pela incapacidade gerencial da presidente do país
podem afetar profunda e decisivamente os objetivos políticos do partidão, que
não está nada acostumado a participar de projetos fracassados, porque sempre
esteve se beneficiando das benesses do Planalto e das salutares influências do
poder.
Enquanto a hipocrisia servir de principal motivação
para o desempenho dos cargos públicos eletivos, quando sempre há desculpas
fajutas, como essa de má interpretação, quando deve prevalecer a realidade dos
fatos e das circunstâncias, a democracia deste país não passa de verdadeira
embromação bem apropriada às republiquetas, constituídas de seletos e
deprimentes aproveitadores e oportunistas.
O vice-presidente foi generoso ao afirmar que a
presidente do país pode não terminar seu mandato se a baixa popularidade dela
continuar rasteira ao nível do piso do Planalto, quando, na verdade, o governo
dela já acabou há muito tempo, mas ela resiste bravamente no cargo, conforme
mostram os fatos.
A declaração do peemedebista apenas é consentânea
com o seu pensamento oportunista e demonstra a sua verdadeira personalidade,
segundo a qual não haveria motivo algum para insatisfação caso o país estivesse
sendo administrado com competência e o governo surfando na maior onda da avaliação
por seu desempenho.
Nessas circunstâncias, estaria mantido o status quo estabelecido desde o início
do governo petista, em que o PMDB esteve sempre na preferência dele como
principal aliado, com a distribuição generosa de ministérios e empresas
estatais, em troca de apoio aos projetos políticos do PT, inclusive ajudando à
perenidade no poder e a burlar os limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade
Fiscal, conforme a indigna extrapolação do déficit primário, em dezembro
último.
Nenhum partido foi tão ostensivamente beneficiado
com o fisiologismo implantando pelo governo, como forma de composição destinada
à governabilidade, que teve como finalidade precípua o fortalecimento dos
partidos e a continuidade no poder, em indiscutível detrimento dos interesses
nacionais, que ficaram em planos secundários, como bem demonstram os fatos
deletérios que contribuíram para empurrar o país para a terrível derrocada,
onde todos os indicadores, inclusive econômicos, apontam para dificuldades
ainda maiores para o governo, país e povo.
Os homens públicos precisam se conscientizar, em
quaisquer circunstâncias, sobre a necessidade de serem enxergados os fatos sob
a ótica do realismo, de modo que ninguém tenha o direito de interpretá-los
segundo as suas conveniências políticas ou tão somente quando a oportunidade se
adeque à satisfação de seus interesses pessoais ou partidários, em clara
demonstração de indignidade e de desonestidade quanto às práticas políticas.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de setembro de 2015
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