sábado, 12 de setembro de 2015

O legado da conveniência

Logo depois que a Polícia Federal indiciou o ex-ministro da Casa Civil e o ex-tesoureiro do PT, por envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato, o ex-presidente da República petista admitiu que alguns petistas cometeram “erros” e disse ainda que “na vida a gente paga pelo erro”.
Não obstante, segundo o petista, as impropriedades cometidas pelos companheiros não podem contaminar o partido, porque “O PT tem um milhão e não sei quantos mil filiados. É evidente que em uma família deste tamanho existe o risco de alguns companheiros terem cometido erros. Na vida, quando a gente comete erro a gente paga pelo erro. Temos defeitos, mas ninguém fez mais do que nós fizemos por este país.”.
O ex-presidente classificou o momento como “delicadíssimo”, notadamente porque as manifestações contra o PT e o governo da sua afilhada evidenciam “irracionalidade emocional da sociedade”. Ele, porém, fez distinção entre dois tipos de manifestantes e disse que o partido não pode reclamar de quem vai às ruas, para cobrar melhorias.
O petista disse que “A única coisa é que temos que medir as consequências, se estamos fazendo aquilo que nós nos propusemos a fazer. E a gente tem que medir a pressão para saber por que eles estão se manifestando”. A frase foi interpretada como um recado para a presidente.
O ex-presidente se opôs aos manifestantes que saem às ruas para pedir a volta dos militares ao poder, o fim das cotas nas universidades públicas e outros “retrocessos”.
O petista ainda fez um ataque indireto ao ex-presidente tucano, possivelmente por ele rechaçar encontro entre os dois, afirmando que “Tem presidente que fez reunião enquanto era presidente com empresário para arrecadação. A imprensa finge que não ouve”, fazendo referência ao fato de o tucano ter reunido empresários no Palácio da Alvorada, no fim de seu mandato, para colher contribuições para o seu Instituto. Enquanto o petista tem sido alvo de ataques após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter enviado aos investigadores da Operação Lava-Jato informações sobre doações de empreiteiras investigadas ao seu instituto, ou seja, o petista pretende, com isso, justificar seu erro com a falta que teria sido praticada pelo tucano.
A expressão “Temos defeitos, mas ninguém fez mais do que nós fizemos por este país.” transparece com extrema patetice e enorme imaturidade de estadista, por dar a entender que a população deve ser compreensiva com os graves defeitos dos governantes, por conta do que eles tenham feito pelo país, como se não fosse obrigação dos homens públicos fazerem o melhor, com regularidade, em benefício do interesse público.
No caso específico do governo petista, já está mais do que comprovado que a distribuição de renda, por meio do programa Bolsa Família, tão ressaltado pelos petistas, não constitui nada de extraordinário, por ser medida estritamente de competência do Estado, realizada com recursos dos brasileiros, que visa amparar as pessoas carentes de recursos materiais e financeiros e que o governo petista se aproveitou muito, com competência nesse particular, da ingenuidade de brasileiros para transformar algo que era para ser apenas institucional do Estado em atividade com fins populista e eleitoreiro em beneficio de seus candidatos.
Essa assertiva é confirmada com o resultado da última eleição presidencial, onde a candidata à reeleição foi indiscutivelmente beneficiada com os votos dos eleitores que integram o programa em apreço, que teria sido manipulado pelo governo, no sentido de que seus adversários, se eleitos, iriam acabar com o beneficio, em clara demonstração de extrema violação dos princípios democráticos e civilizatórios, que deveriam ter sido objeto de sanção pelos órgãos de controle e fiscalização sobre os procedimentos eleitorais e as normas aplicáveis à espécie.
A malandragem do ex-presidente é exuberante, que enaltece, como legado, os bons resultados do governo petista – “... ninguém fez mais do que nós fizemos por este país.” – mas, inteligentemente, omite a desastrada gestão da sua afilhada, que simplesmente conseguiu quebrar o Brasil e empurrá-lo para o poço sem fundo da recessão, em tremendo desastre da gestão pública da história do país, em que pese ter prometido melhorar as condições de vida dos brasileiros.
É sintomático que o petista, ainda com enorme sacrifício, venha admitir que alguns companheiros tenham cometido erros, porque até pouco tempo essa forma de compreensão sobre a participação de correligionários em falcatrua jamais seria aceita pelo todo-poderoso, ante o pensamento predominante do partido de que eles estavam acima de tudo e da lei, sendo que qualquer suspeição não passava de intriga da oposição e da imprensa, que não admitiam que os metalúrgicos, os sindicalistas e os trabalhadores pudessem administrar o país.   
Também impressiona bastante a maneira habilidosa e maquiavélica como o petista consegue manipular e distorcer os fatos a seu favor, sempre na tentativa de se livrar dos males por ele causados ao país e aos brasileiros, em clara demonstração do poder de verdadeiro golpista de mão cheia e profissional de altíssima perspicácia para o atingimento de seus objetivos, sempre conseguindo que seus fanáticos simpatizantes acreditem piamente nas suas façanhas e histórias mirabolantes.
          Na verdade, foi graça somente às investigações da Operação Lava-Jato, e não do mensalão, que tem as mesmas características de esquema de desvio de recursos públicos, para prevalecer a presença sobranceira da verdade para incomodar terrivelmente os todo-poderosos e prepotentes petistas, porquanto, para eles, tudo não passava de acusações levianas e infundadas, com viés golpista contra seu projeto hegemônico de absoluta dominação e de perenidade no poder.
Conforme mostram os fatos, os erros de poucos companheiros terminaram beneficiando os próprios protagonistas e principalmente o PT, a presidente da República e o seu antecessor, uma vez que o dinheiro da propina serviu para comprar a consciência de parlamentares, no caso do mensalão, e, entre outros, para alimentar os cofres do partido e custear as campanhas absolutamente dispendiosas e perdulárias petistas, no caso do petrolão.
Ou seja, tudo indica que os erros dos correligionários contribuíram de alguma forma para beneficiar o ilustre petista que, inexplicavelmente, ainda não foi interpelado como envolvido nesse verdadeiro mar de lama resultante das reiteradas corrupções no governo petista, cujas investigações dos fatos irregulares pela Operação Lava-Jato apenas se multiplicam com o passar dos dias, como verdadeira teia de aranha que parece não ter fim.
A sociedade precisa se conscientizar, com urgência, sobre a necessidade de serem exigidos dos homens públicos competência, sinceridade, dignidade, honestidade, moralidade, abnegação e dedicação à exclusiva satisfação do interesse público, com embargo das vergonhosas e indignas defesas das causas pessoais e partidárias, com o emprego de recursos públicos, que têm sido indecentemente objetivadas para absoluta dominação e perenidade no poder, em cristalina infringência aos princípios democráticos e da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 12 de setembro de 2015

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