quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A minimização dos escândalos

As torrenciais acusações que pesam sobre o “magnífico” ex-ministro da Casa Civil e fundador do PT deixaram estarrecidos os próceres do partido, que preferiram não sair em defesa dele, apenas disseram que ele tem direito à defesa prévia e ao contraditório constitucionais. Ou seja, a reação petista foi de absoluta cautela em relação à nova prisão do ex-ministro e, diante dos fatos alarmantes, o PT somente o saudará em recintos fechados, como de costume, porque ele será sempre o grande herói, para não dar a ideia de que defender bandido faz parte da sua índole, embora, no mensalão, onde foi julgado e condenado, ele mereceu o acolhimento dos correligionários de salvador da pátria e supremo herói.
Embora as acusações feitas por dois importantes delatores são assustadoras, à vista da qualidade e quantidade de detalhes, o PT continuará a desacreditar que ele tenha sido capaz de sujar a dignidade do partido que se dizia o mais ético da face da terra.
Desta feita, porém, causou preocupação ao governo e ao PT a diferença de comportamento do ex-ministro, entre os atos imputados a ele no mensalão e agora no petrolão, quando comparadas as suas condutas, em que, neste último caso, segundo os investigadores, foram descobertas provas irrefutáveis de enriquecimento pessoal, o que se trata de algo inacreditável, porque isso não se harmoniza com a personalidade que ele sempre transmitiu para o partido.
O consolo do PT é de que o ex-ministro nega as acusações, como se isso fosse o bastante, sob a alegação de que teria prestado consultorias para empresas brasileiras interessadas em investir no exterior e que recebeu recursos quando estava preso porque eles seriam resultado de serviços realizados antes de ir para a cadeia, fato, aliás, que o juiz responsável pelas investigações não acredita nem um pouco nessa versão, como deixou consignado, em destaque, no seu despacho para justificar a nova prisão do ex-ministro da Casa Civil.
O certo é que, no rumoroso caso do mensalão, o PT cometeu o grave erro de minimizar e contemporizar a gravidade do episódio, tendo preferido atacar pesadamente a atuação do Supremo Tribunal Federal, acusando-o de promover julgamento político, quando os fatos de corrupção eram cristalinos e materializados à luz solar, não deixando a menor dúvida sobre a esculhambação protagonizada por líderes petistas encastelados dentro do palácio presidencial.
À vista das fortes evidências e das provas levantadas, no caso da Operação Lava-Jato, fica bastante temerário o PT adotar comportamento semelhante ao mensalão com relação às investigações que estão em curso sobre o escândalo na Petrobras, porquanto os fatos apontados nas delações são previamente checados e confirmados, para, depois, serem adotadas as medidas pertinentes, com base segura e de difícil contestação.
Diante disso, o PT ficou sem muito argumento para defender as acusações sobre as irregularidades que estão vindas à tona a todo instante, cabendo melhor reflexão bem antes de embarcar em teorias persecutórias ou manobras sem fundamento com relação às ações decorrentes da Operação Lava-Jato.
Por seu turno, custa compreender, aliás, nem dá para se entender como o PT pode se preocupar com os depoimentos dos delatores, quando ele garante, de forma reiterada e peremptória, que as doações recebidas são legais e chanceladas pela Justiça, fato este que, se verdadeiras as afirmações, o imuniza sobre qualquer suspeita quanto ao seu envolvimento com as irregularidades ocorridas na Petrobras, mas somente o partido acredita nessa fantasiosa versão.
O Brasil precisa urgentemente acabar com tanta incoerência, prepotência e indignidade, porque isso não condiz com as verdadeiras atividades políticas, que têm por premissas a exclusiva satisfação do interesse público.
Diante da falta de sinceridade e de priorização das políticas públicas, o país foi conduzido a essa situação de terríveis dificuldades, em que as classes políticas dominantes confundiram, de maneira maliciosa, o público com o privado, na intencional priorização dos interesses pessoais ou partidários, em completo detrimento do bem comum e em prejuízo do primado da nacionalidade.
          Compete ao povo se conscientizar sobre a urgente necessidade de se repensar o Brasil, exigindo profundas reformulações dos conceitos de políticas partidárias e principalmente sobre as reais funções dos lídimos representantes do povo, que não podem se afastar do exclusivo atendimento das necessidades públicas, com embargo da generalizada defesa de interesses pessoais ou partidários, como forma de possibilitar o aprimoramento dos princípios democrático e republicano e a contribuição ao desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de setembro de 2015

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