sexta-feira, 25 de setembro de 2015

É melhor perder a dignidade?

O ex-presidente da República petista aconselhou a sua sucessora, pasmem, a atender às reivindicações do PMDB, mesmo que possa haver desidratação do PT na reforma ministerial.
Segundo relatos de ministros de seu partido, o petista foi enfático, ao verberar que “É melhor perder ministérios do que a Presidência”. 
As mesmas fontes disseram que o ex-presidente avaliou que a estratégia de se atrair os aliados rebeldes, entregando o Ministério da Saúde à bancada do PMDB na Câmara dos Deputados dá fôlego para a presidente barrar pedidos de impeachment no Congresso Nacional.
Além da entrega do citado ministério, a presidente pretende evitar contrariar ala do PMDB, deixando de fundir das Secretarias de Portos e Aviação Civil e permitir que partido fique com seis ministérios e não mais com cinco, como previsão inicial da reforma.
O ex-presidente petista e o vice-presidente sugeriram que a presidente não deixasse “na chuva” o filho do presidente do Senado Federal, para se evitar foco de rebelião.
O petista argumentou que a presidente deve “amarrar bem” os acordos, uma vez que a ideia é pôr agora nos ministérios “quem tem voto” e pode ajudar o governo no Congresso, tendo concluído: “Você (a presidente) não pode errar”. 
Depois que a presidente concordou em transferir a Saúde para o PMDB na Câmara, o Palácio do Planalto venceu uma batalha no Congresso e conseguiu manter importantes vetos a projetos que aumentavam o rombo nas contas públicas.
Foi com esse diagnóstico que o ex-presidente pediu à presidente que se aproximasse mais do vice-presidente, que comanda o PMDB, e dos presidentes do Senado e da Câmara.
Ou seja, fica muito clara a estratégia maquiavelicamente arquitetada pelo governo para a articulação das manobras necessárias à formalização de esquemas que se adequem aos interesses e às conveniências políticas da presidente, mesmo que isso custe a integridade moral e a dignidade do gestor público, que perde seu respeito com o artificialismo da estrutura da administração pública.
 Trata-se de indiscutível loteamento de maneira absolutamente injustificável e irresponsável de ministérios tão somente com o objetivo de tentar garantir a governabilidade, embora ela já tenha ido para as calendas com o descontrole das contas públicas, o completo desarranjo dos indicadores da economia e dos princípios da moralidade, com as reiteradas corrupções, que infernizam, martirizam e prejudicam os interesses dos brasileiros. 
Se o PMDB tivesse o mínimo de dignidade, é evidente que a presidente do país não seria capaz de protagonizar sozinha espetáculo tão deprimente, vil, ilegal, imoral ou inominável como esse episódio de lotear os ministérios em nome da governabilidade.
Não há a menor dúvida de que a petista dá prova da maior indignidade que o presidente da República pode promover contra o interesse da nação, ao tentar salvar seu governo em nome da potencialização da ineficiência e da precariedade da prestação dos serviços públicos, ao se permitir que políticos comprovadamente desqualificados, despreparados, oportunistas e interesseiros comandem ministérios incumbidos da execução de importantes políticas e ações estratégicas nacionais, quando eles próprios já demonstraram a capacidade de destruição do Parlamento brasileiro.
Há evidente demonstração de incompetência da presidente do país em comandar a nação, por permitir que seu antecessor seja o fiel orientador sobre a reforma ministerial, com o aproveitamento das peças de reposição que ele considera mais adequadas à salvação do governo, evidentemente com a avidez do oportunismo do maior partido nacional, que também demonstra completa deformação moral em aceitar a titularidade dos ministérios em troca de apoio no Congresso Nacional.
As práticas espúrias e inescrupulosas expostas à luz solar, com a transparência que confirma a extrema falta de pudor e de caráter da classe política lamentavelmente responsável pelos interesses nacionais, revelam o tanto de atraso por que passa o Brasil, que perdeu por completo o rumo da história de avanço e de modernidade, em benefício da sociedade.
Não há dúvida de que a reforma ministerial em comento vai ficar na história republicana como a reafirmação da pior baixeza político-administrativa, em razão da total desmoralização dos princípios da dignidade, moralidade e nobreza que devem imperar na administração do país.
Não há, na atitude da presidente, nada que justifique a formalização do deprimente e indecente procedimento do toma lá, dá cá, com o envolvimento de recursos públicos, que certamente não serão aplicados com a eficiência e a eficácia exigidas na forma do ordenamento constitucional de economicidade, eis que os executores das políticas públicas carecem das devidas qualificações técnico-especializadas e também por não terem o comando e a coordenação da presidente do país, eis que os ministérios foram simplesmente loteados entre os partidos e cada qual se responsabiliza pelas precariedades de por seus resultados não confiáveis, conforme mostram à saciedade os fatos fartamente noticiados pela imprensa.
As negociatas para a formalização do novo ministério se encerram no velho e surrado jargão de que “tudo pelo poder”, inclusive o restante de dignidade e moralidade, que se vai ao embalo das tramoias, maracutaias, conchavos, enfim todo tipo de arranjos e artimanhas para tentar garantir o poder conquistado à custa de não menos desprezíveis métodos de mentiras, omissões de importantes informações oficiais e tantas endiabradas que somente o socialismo tem condições de manipular para não entregar o poder, mesmo que os fatos deletérios justifiquem que o governo já inexiste há muito tempo, diante da acefalia da titular do cargo, que nada decide sozinha sem a suprema orientação do seu criador.
Neste momento de completa desmoralização dos princípios da administração pública, conviria que a oposição se fizesse presente, para mostrar a destruição da dignidade da gestão pública e exigir respeito aos valores da República, que são mandados para o espaço sideral, em nome da tentativa de salvação da governabilidade, por meio de medida incompatível com a seriedade e moralidade que se exigem na gestão dos recursos públicos.
A expressão dita pelo ex-presidente de que é "melhor perder ministérios que a presidência" revela exatamente o significado daquela que diz: “os fins justificam os meios”, em clara alusão à personalidade desse político que apenas pensa e valoriza o cargo público como símbolo de onipotência, ostentação e instância de domínio, valendo qualquer sacrifício para mantê-lo, mesmo que possa envolver a perda da dignidade e do pudor, que não deveriam se afastar do homem público, em nenhuma circunstância, mesmo diante das crises, porque são justamente nesses momentos que esses princípios se tornam mais importantes para a superação das dificuldades.
Em se tratando do envolvimento e da aplicação de verbas públicas, compete aos órgãos de controle externo, como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal, por força de suas incumbências constitucionais e legais, questionarem a regularidade dessa perniciosa atitude de cunho nitidamente fisiológico, materializada mediante verdadeiro balcão de troca de órgãos públicos por apoio político.
Compete ainda à sociedade repudiar a descarada entrega de ministérios a aliados políticos, com a finalidade de receber em troca a fidelidade no Congresso Nacional, em clara demonstração do ferimento dos salutares princípios da moralidade, legalidade, dignidade e honradez, que jamais deveriam faltar nas atividades político-administrativas e nos homens públicos, em razão do respeito à magnitude da representação emanada do povo, que certamente não compactua com procedimentos indignos e censuráveis. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 25 de setembro de 2015

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