quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Complacência com a tirania

Na sua passagem por Cuba, o papa teve demorado encontro com o ditador afastado, por motivo de doença, do comando do país, tão somente para conversar e trocar presentes entre ambos.
É evidente que o papa não deve ter ido visitar o famoso "paredon", onde milhares de seres humanos foram sacrificados, e orar pelas almas dos que ali pereceram, de forma cruel, pelo simples fato de não comungar com a mesma cartilha da ditadura devastadora.
É lamentável que o papa tenha ido a Cuba para fazer turismo, como no caso de se encontrar, por mera cortesia, com um dos ditadores mais sanguinários da face da terra, em demonstração de mui respeito por declarado anticristo.
O papa deveria ter a sensibilidade de repudiar as atrocidades da ditadura ao povo cubano, que é privado dos direitos humanos e das liberdades democráticas.
É inaceitável que o papa, no alto da sua santidade terrena, faça tour a Cuba para beijar as mãos de cruéis e impiedosos ditadores.
Durante a permanência do papa em Cuba, ele foi completamente incapaz de mencionar a situação de escravização do povo cubano, não fazendo a mínima referência ao coas social e ao atraso econômico que destroçaram por completo aquela nação, cujos ditadores culpam, por tal desastre, pasmem, o bloqueio econômico dos Estados Unidos da América, quando a origem do fracasso e derrocada da ilha é creditada às relações de Cuba à antiga União Soviética e à adoção do comunismo como regime, em antagonismo ao sistema democrático dos EUA.
Aliás, para não dizer que o pontífice não foi totalmente omisso, ele ousou mandar recado para o povo, sim, para o povo cubano, ao dizer que é importante se derrubar os muros e se construir pontes, dando a entender, de forma extremamente suavizada, que a culpa pela irracionalidade do regime cubano é do povo, porquanto os brutamontes e trogloditas tiranos não precisam mudar absolutamente nada, eis que a transformação havida no comportamento escravocrata tem o horroroso beneplácito do sumo pontífice, como sendo processo normalíssimo.
A omissão do santo padre, na visita a Cuba, foi tão expressiva que ele sequer se dignou a se reunir com os líderes da oposição, que é tratada naquele país com rédeas curtas e menos direitos que os dados aos demais cidadãos, que também não os têm, em razão de não se conformar com a dureza do regime.
Ultimamente, Cuba tem sido motivo de destaque no noticiário internacional por conta da normalização das relações diplomáticas com os Estados Unidos da América, cujo coroamento aconteceu com a reabertura das embaixadas nos dois países, em agosto último.
Contudo, Cuba continua tal qual sendo Cuba, ou seja, em que pese a "abertura" do regime amaldiçoado, a tirania segue reprimindo os opositores, a exemplo da prisão preventiva de muitos deles, como forma de se evitar a sua aproximação ao papa.
Há relatos de que diversas organizações contrárias ao regime castrista passaram a se reportar a prisões arbitrárias. Em uma dessas ações policiais, vinte mulheres do movimento "Damas de Blanco" foram presas quando andavam pelas ruas de Havana. Pelo interior do país, agente da inteligência cubana identificavam carros e ônibus que seguiam para a capital, transportando oposicionistas.
Não fica nada bem para o representante da Igreja Católica se dirigir ao papa do comunismo, para simplesmente beijar-lhe as mãos ensanguentadas das vítimas da revolução cubana. É lamentável que o maior líder dessa igreja se preste a esse desprezível papel de visitar pessoa responsável por massacrar milhares de seres humanos, em nome de ditadura arrasadora e violenta, que somente contribuiu para o retrocesso social, político, econômico e democrático daquele país.
Em harmonia com a liturgia do relevante cargo de sumo pontífice, caberia ao papa repudiar o regime comunista cubano, principalmente o tratamento dispensado pelos ditadores daquele país ao seu povo, que é absolutamente privado dos direitos humanos e das liberdades democráticas.
Não se viu o papa fazer a menor menção sobre essa desagradável situação, como é do seu dever como conciliador dos direitos humanos e não das relações políticas, como parece que é o que ele tem feito, sendo até elogiado por seu trabalho nesse sentido, em menosprezo às condições do ser humano.
Em que pese o sumo pontífice não ter, inexplicavelmente, se posicionado nem de passagem à grave e deplorável situação social dos cubanos, ele, voluntariamente, se esforça, como potencial representante diplomático da tirania cubana, a defender o fim do embargo econômico imposto ao regime comunista daquele país.
Esse esdrúxulo registro nada mais é que página negra escrita na história papal, por não condizer com a verdadeira missão de representante de Cristo, por se referi a atividade própria da diplomacia estritamente do país interessado, que jamais poderia ser invocada pelo líder da Igreja Católica.
Na verdade, e de se lamentar que o papa ultrapasse os muros do Vaticano para prestar relevantes serviços ao regime comunista cubano, em hercúleo esforço de enaltecer ainda mais a reafirmação, de forma veemente, tão somente o prestígio da autoridade tirânica castrista, sem se atentar, minimamente, para as graves e cruentes dificuldades do povo ilhéu, que continua sendo massacrado com a privação dos direitos humanos e das liberdades individuais, em especial o pleno exercício dos princípios democráticos, em evidente e marcante prejuízo pra a dignidade e a valorização do ser humano, que poderiam ter sido resgatadas com a autoridade papal, em nome da sua importância no contexto mundial.
É pena que ele, nesse particular, não tenha cumprido seu importante papel de mensageiro de Jesus Cristo, que é de se buscar a felicidade do ser humano.
Com certeza, como o santo padre tem enorme influência mundial, ele poderia ter voz ativa em defesa dos indefesos cubanos, no sentido de conseguir abertura para as liberdades tão ansiadas na ilha caribenha.
A sua visita a Cuba teria verdadeira importância, em cumprimento à missão de representante de Jesus Cristo na terra, se ele a tivesse aproveitado para o benfazejo propósito de convencer os insensíveis ditadores a respeitarem os direitos humanos e os princípios democráticos, mostrando a eles o verdadeiro sentido da humanização e da dignidade do ser humano. 
Há comentários de jornalistas que acompanham o Vaticano criticando a atuação do santo padre em Cuba, por sua evidente demonstração de apatia quanto à obrigação de cobrar posição firme dele no sentido de exigir do ditador daquele país medidas verdadeiramente de abertura do regime comunista, como forma de libertar o povo da submissão à desumanidade, ao atraso e ao ostracismo do desenvolvimento científico e tecnológico, ao invés da visível complacência papal com a tirania, que não condiz com os sentimentos e os princípios disseminados por Jesus Cristo, que não se curvou aos poderosos e demonstrou que o ser humano deve ser tratado segundo os conceitos de fraternidade, igualdade, liberdade, independência e plena autonomia dos direitos humanos e democráticos, podendo usufruir livremente os sentimentos inerentes ao ser humano. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de setembro de 2015

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