segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O extremo da hipocrisia

O ex-presidente da República petista disse que o rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P) é um sinal de que as agências de classificação de risco querem "mais arrocho". "Elas têm facilidade para tomar medidas quando a dor de barriga é na América Latina".
Segundo ele, a decisão da S&P "não significa nada" e deveria estimular os países a não fazer o que essas agências querem, "Porque, quando elas diminuem (a nota), vem a (queda na) receita, mais arrocho, mais ajuste, mais desemprego, mais corte de gastos, mais não sei o quê. Não vem nunca mais educação, mais profissionalismo, mais investimento. Não vem".
O petista disse ainda que as agências de classificação "não têm coragem de diminuir nota de nenhum país europeu, apesar de todo mundo saber quantos países da Europa estão quebrados".
Entrementes, de maneira extremamente surpreendente, em 2008, durante governo do petista, quando o Brasil recebeu o grau de investimento pela S&P, que agora foi retirado pela mesma agência, o ex-presidente, em tom de extrema euforia, classificou, pasmem, o feito como "vantagem extraordinária neste mundo globalizado... e... significa que o Brasil é um país sério e mundialmente respeitado”.
Na ocasião, o petista, ao anunciar a conquista brasileira do "investment grade", brincou dizendo que nem saberia dizer corretamente a palavra.
No entanto, ele disse que "Se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e com isso passamos a ser merecedores da confiança internacional. É uma conquista do povo brasileiro, que esperou por isso durante tantos e tantos anos. É o aval de que passamos a ser donos do nosso nariz e podemos determinar a política que acharmos convenientes para o Brasil.".
O otimismo do petista foi tão alarmante que ele ressaltou que o grau de investimento é considerado ótimo por uns e preocupante por outros, pela possibilidade do maior ingresso de dólares no país.
Ainda na oportunidade, em tom de ironia, ele declarou: "Confesso a vocês que quando saí de Garanhuns em 1952 jamais imaginei que pudesse chegar o dia em que os brasileiros passassem a ter preocupação com o ingresso de dólar".
Em harmonia com sua costumeira onipotência, ele afirmou, in verbis: "Quis Deus que fosse exatamente no momento em que um presidente de sorte assumisse a Presidência da República.".
Não há a menor dúvida de que as declarações do ex-presidente, agora, denotam exatamente a sua coerência de apenas considerar importantes e corretos os fatos que possam contribuir para satisfazer tão somente seu ego ideológico, como forma de atender a sua conveniência política.
É lamentável que a sua personalidade se amolde tão somente aos resultados satisfatórios que possam demonstrar alguma conquista para enaltecer as qualidades como sendo o suprassumo dos heróis nacionais.
Não obstante, a perda dessa conquista é transformada pelo petista como algo desprezível, simplesmente em um piscar de olhos, como se não tivesse a menor importância, quando os fatos mostram exatamente o contrário, e também como se ela não tivesse sido objeto dos maiores espalhafatos como algo extraordinário e fantástico protagonizado por ele.
Os brasileiros precisam conhecer mais intimamente essas façanhas do poder de engrandecimento dos atos que interessam, de forma absolutamente para atender à conveniência política, para se transformar em notoriedade e da facilidade para minimizá-los quando a repercussão contribui para causar prejuízo à causa da ideologia programática, que tem sido colocada acima de quaisquer outras causas.
A hipocrisia do petista é tão escancarada que transborda os limites da racionalidade, uma vez que, na interpretação dele, a diminuição do grau de investimento seria ato de maldade por parte da agência de classificação, como se o país envolvido não fosse exatamente o cerne do fato analisado, ficando sob a responsabilidade dela a culpa pela incompetência que, na verdade, é exclusivamente do governo, que não teve capacidade para evitar que a economia decrescesse, se fragilizasse e não preenchesse os requisitos de confiabilidade, como no caso do Brasil, que se encontra em estado falimentar, em fase aguda de recessão econômica, mas o petista acha mais cômodo e simplista atribuir maldade à agência que apenas tem a incumbência de dizer a situação do país que se encontra fraco no seu desempenho econômico.
Convém que a sociedade se conscientize, com urgência, sobre a necessidade de enxergar o contraste e a inocência de quem é considerado o principal líder do país, que somente tem sensibilidade para enxergar e valorizar a utilidade dos fatos que interessam e satisfaçam seus fins político-partidários, em demonstração de absoluto desprezo e redução da importância daquilo que possa denotar perigo às suas conveniências, bem assim de deformação quanto o equilíbrio sobre a acepção do realismo ideológico. Acorda, Brasil!     
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de setembro de 2015

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