domingo, 20 de setembro de 2015

Negociatas da dignidade

A presidente da República deixou escapar que pretende negociar com o PMDB a indicação de, pelo menos, três nomes para compor seu novo ministério, como forma de atender, em especial, os grupos do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do vice-presidente da República.
Segundo foi apurado pela Folha de S.Paulo, a ministra da Agricultura, que é senadora pelo PMDB, teria transmitido aos peemedebistas o desejo da presidente de negociar a indicação de nomes ligados ao vice-presidente, ao presidente do Senado e ao líder do partido na Câmara.
Em se tratando de principal partido aliado ao governo, o PMDB é assediado sob forte pressão para liderar o movimento de impeachment da petista, com o que o Palácio do Planalto teme que possa haver o rompimento do partido com a presidente, possibilitando facilidades para a abertura do processo de impeachment dela pela Câmara.
          Com o agravamento das crises política e econômica, a presidente tenta aproximação com lideranças do PMDB, em harmonia com orientação do seu padrinho político, por considerar que o presidente do Senado tem papel relevante na votação da chamada Agenda Brasil, lista de propostas para a retomada do crescimento econômico do país. Enquanto na Câmara, a maior bancada é do PMDB, onde eventual processo de impeachment pode ter início, o que será dificultado sem o apoio do partidão.
A presidente, que até então não tinha o menor pudor para distribuir ministérios e empresas estatais em troca de apoio aos seus projetos políticos, agora perdeu de vez a prudencial cerimônia que se exige na liturgia do cargo presidencial, ao deixar escapar que pretende negociar, ao menos, três ministérios com o PMDB, para ter a garantia do apoio dele, em caso de se tornar possível o processo de seu impeachment.
Ou seja, a petista escancarou a falta de dignidade no exercício do mais importante cargo do país, na tentativa de ficar a salvo do afastamento dele por incompetência gerencial e administrativa, depois de ter quebrado a economia nacional e torrado o patrimônio da Petrobras, com a ingerência do Palácio do Planalto, i.e., ela quer leiloar o Brasil para se manter no poder, apesar da cabal demonstração de incapacidade para governar e/ou administrar o país, conforme evidenciam os fatos, que são substanciosos e palpáveis.
Na falta de condições para a governabilidade do país, a presidente se vale do poder de barganha dos ministérios, de forma bisonha e melancólica, como moeda de troca, em lastimável exemplo de indignidade que a vil política transmite para a população, que, incrédula, infelizmente assiste, de forma passiva, à decadência da cada vez mais velha e ultrapassada República.
Alguém precisa informar à presidente e à classe política que não é para atos indignos que servem os ministérios, quais sejam, meros instrumentos de compra de apoio politico para se conseguir aprovar projetos de interesse pessoal, do governo ou de partido, à custa do erário, cujas consequências são a completa ineficiência da máquina pública e a péssima qualificação dos serviços públicos prestado à população, com o beneplácito de quem deveria dar o exemplo de preparo, qualificação e dignidade.
À toda evidência, caso se concretize a sua intenção, trata-se de mais um ato de indignidade praticado pela presidente do país, que pretende negociar o loteamento de cargos públicos entre o principal partido da coalização em troca de apoio político, ou seja, ela demonstra não ter o menor pudor para barganhar apoio político em troca da fidelidade de aliados à permanência dela no cargo, que nunca esteve tão fragilizado, depois de suas graves derrapadas na condução das ações e políticas públicas.
A precipitação demonstrada pela petista, no presente caso, pode ser fruto do estrondoso estouro das contas públicas e da inserção da recessão econômica no país, cujas consequências são de enormes dificuldades para os brasileiros, em face do aumento do desemprego, da redução da renda dos trabalhadores, da desindustrialização, da retirada e do afugentamento do país do capital estrangeiro, da drástica diminuição da arrecadação, da inexistência de investimentos público e privado, além de tantas outras mazelas prejudiciais ao desenvolvimento da nação.
Na realidade, tudo isso ocorre em dissonância com as promessas pra lá de generosas disseminadas pela candidata à reeleição, na campanha eleitoral, segundo as quais o Brasil, que já se encontrava, no seu dizer, às mil maravilhas, deveria passar, no seu segundo mandato, por mudanças benfazejas para a população, mas as trágicas e terríveis situações política, econômica e administrativa simplesmente deflagraram o pior quadro possível para a reputação da presidente, que vislumbra como medida passível o loteamento de ministérios em troca de apoio político.
Ela pretende se salvar no cargo, driblando o seu impeachment, mediante a implementação do deplorável e recriminável toma lá, dá cá, em evidente privilégio ao igualmente condenável ideologismo ideológico de que é dando que se apoia, em harmonia com a politicagem retrógrada e ultrapassada que nem as republiquetas a praticam mais, por haver nisso explícito ferimento aos princípios da ética, moralidade, legalidade e dignidade, os quais devem necessariamente imperar na administração do país.
          Impende se ressaltar que a prática censurável de se negociar cargos em troca de apoio político não apequena somente a moralidade e a dignidade da presidente da República, mas igualmente do partido e de seus integrantes, por se submeterem à formalização de maracutaia exclusivamente em atendimento à indiscutível conveniência política, embora em completo menosprezo aos salutares princípios da moralidade, dignidade e nobreza que jamais deveriam ser inobservados em pleno século XXI, quando as nações sérias e evoluídas somente dão exemplos de civilidade e de humanização dos procedimentos político-administrativos.
Compete, em especial, aos brasileiros imbuídos dos princípios cívicos e patrióticos demonstrarem indignação e repúdio, com o máximo de veemência, contra mais esse possível vil procedimento administrativo que poderá ser implementado pelo governo, de promover a troca de cargos públicos por apoio político, em evidente contrariedade aos saudáveis princípios que regem a administração pública e em total desaprovação dos conceitos democrático e republicano. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de setembro de 2015

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