quinta-feira, 17 de setembro de 2015

CPMF: tentativa de privilegiar a incompetência

Eu sou contra a CPMF... A CPMF foi feita para ser uma coisa e virou outra. Acho que a CPMF foi um engodo nesse sentido... De usar o dinheiro pra saúde, não pra saúde... O dinheiro foi desviado... O dinheiro não foi usado onde devia.”.  Dilma Rousseff, presidente do Brasil (11/09/2011)
 
Alguns governadores, pretendendo surfar na onda do Palácio do Planalto, fizeram apelo aos congressistas da base aliada, para que eles aprovem a proposta de ressuscitação da CPMF, pasmem, com a alíquota de 0,38%, ou seja, 18% maior do que a proposta de 0,2% apresentada pela presidente petista, aquela que, em 2011, declarou, conforme vídeo que circula pela internet, que era contrária a essa contribuição.
Para os governadores, o tributo deverá ser dividido entre a União (0,2%) e os Estados e municípios (0,18%).
Um dos governadores argumentou que todos os estados passam por difícil crise econômica e precisam de mais receitas, embora, de forma leviana e irresponsável, ele não tenha assumido suas deficiências e incapacidades para conduzir as políticas públicas, principalmente por não terem as condições de racionalizar as estruturas do Estado, com a eliminação de injustificáveis desperdícios, vantagens, benesses, gastos perdulários, entre tantos abusos com recursos públicos.
No encontro com os parlamentares, os governadores omitiram a sua soberba de não ter explicado para eles, como forma de justiça e de dignidade, que os contribuintes também passam por situação periclitante e não tem a quem recorrer para pedir socorro para as suas dificuldades diante da sobrecarga do enorme fardo da carga tributária que pesa sobre seus ombros.
Embora seja o governador do Estado que mais recebe royalties, não teria motivo algum para reclamar caso o administrasse com eficiência e otimização dos recursos, mas, mesmo assim, não teve a menor cerimônia para afirmar: "Acho que dificilmente algum governador não precise desses recursos, tanto para a Previdência quanto para a saúde. E os municípios também precisam muito. Temos prefeituras fechadas. A gente quer ter essa chance. A Previdência é um gargalo de todos os governos estaduais".
Não há a menor dúvida de que o périplo dos governadores da base aliada pelo Congresso seguiu, por certo, rigoroso script traçado pelo governo, que espertamente lançou a CPMF no percentual de 0,2%, mas teve a maquiavélica iniciativa de, em seguida, convoca-los para sugerir que eles procurassem suas bancadas para propor aumento na alíquota, de mais 0,18%, e o compartilhamento dos recursos entre os executivos da federação, quando o produto da contribuição seria inicialmente destinado somente para a União e serviria para suprir exclusivamente os gastos com a Previdência Social.
Na ocasião, o presidente da Câmara dos Deputados, coerente com seu posicionamento em defesa dos brasileiros e da eficiência na administração dos recursos públicos, voltou a criticar a cobrança de CPMF, classificando-a de "perniciosa" e acusou: "O governo está tentando dividir a derrota com os govenadores, jogando os governadores aqui para fazer o papel que o governo não consegue fazer porque não tem uma base articulada. [...] O efeito prático é nenhum, porque isso não vai mudar a votação por essa motivação. Ele pode buscar aqui aumento de arrecadação no Congresso e propor, mas nós não temos a obrigação de resolver o déficit do governo. O governo tem que resolver o seu déficit.". No entanto, segundo ele, o efeito prático da estratégia do Executivo de pedir a participação dos governadores será nulo.
Em que pesem os esforço e empenho dos governadores, a CPMF deve enfrentar resistência tanto na Câmara quanto no Senado, segundo afirmação dos deputados da base aliada, que alertaram a presidente do país sobre as dificuldades para a aprovação do tributo.
Os congressistas precisam demonstrar resistência à sanha e à agressão tributária dos governantes, como forma de se exigir deles atitudes de austeridade e parcimônia na condução da máquina pública, que deve ser racionalizada, aperfeiçoada e modernizada, evitando-se os desperdícios e os abusos que são a causa dos descontroles das contas públicas.
Os governantes não têm nenhuma moral para reivindicar a criação de tributo, se eles são incapazes de dar o exemplo efetivo de economia de seus gastos, preferindo passar a fatura para os contribuintes que já estão no limite dos encargos tributários.
Ainda bem que ainda existem os parlamentares conscientizados e sensibilizados sobre a real situação de dificuldade dos contribuintes, que também passam por enorme crise com a imposição da famigerada e pesada carga tributária, comparável aos tributos cobrados nos países desenvolvidos, que são justos, diferentemente do que acontece no país tupiniquim, quanto à forma da prestação dos serviços públicos naqueles países, que são normalmente de qualidade, além da permissividade dos descontos integrais de sues encargos, por ocasião do ajuste anual do Imposto de Renda.
          A criação da contribuição em apreço demonstra indiscutível ato de extremo autoritarismo, diante da injustificável falta de sensibilidade da presidente da República, dos ministros, de governadores e de alguns parlamentares em somente reconhecerem, muito contristados e preocupados, a real crise econômica que grassa na União, nos Estados e municípios, sem que muitos poucos tenham demonstrado vocação para racionalizar e aperfeiçoar a máquina pública, com a finalidade de se buscar economia de gastos.
Essas autoridades demonstram enorme menosprezo à grave situação dos contribuintes, daqueles que já estão sendo sacrificados com pesada carga tributária e ainda são compelidos a pagar pela incompetência gerencial e administrativa dos governos, que permitiram o agravamento do rombo de suas contas, graças às gastanças desmedidas e incontroláveis.
Os governantes demonstram enorme insensibilidade quando pretendem agredir o bolso de quem já se encontra assoberbado tanto com os encargos tributários como com o custo de vida, a inflação, os juros nas alturas, as contas de água, de luz, de remédios, transportes, combustíveis, escolas etc., cujos componentes deveriam ser levados na devida conta quando se pretende solucionar, da forma mais simplista possível, a crise do Estado, que é também do povo, mas não foi este que deu causa a ela, mas sim a incompetência, repita-se, de gerenciamento governamental.
Os homens públicos devem ter a sensibilidade, dignidade e nobreza para considerar, no estudo, no planejamento e na elaboração de seus planos de governo, como os orçamentos, a situação global, tendo em conta não somente as carências e as prioridades do Estado, mas, sobretudo, o contexto geral, abrangendo também a sociedade, mais especificamente a sua capacidade contributiva, em razão do que já existe como imposição tributária, que deveria, por questão de justiça e responsabilidade administrativa, cujos tributos devem retornar para o cidadão, em forma de serviços públicos de qualidade, que possam atender às suas necessidades básicas, diferentemente da precariedade que tem sido a marca registrada dos governos, que demonstram enorme habilidade para reivindicar a criação de tributo, sem se preocuparem com a real situação dos contribuintes.
Compete à sociedade repudiar e rejeitar, com veemência, a absurda, injusta e inaceitável iniciativa da criação de tributo, sem qualquer justificativa constitucional quanto à contraprestação do Estado, aumentando ainda mais a já pesadíssima carga tributária imposta aos contribuintes, à vista, em especial, dos péssimos serviços públicos por ele prestados, ante o dever institucionalizado, ex-vi dos princípios constitucionais, de se buscar justiça quanto ao estabelecimento de obrigação tributária, que não tem o menor cabimento no caso da CPMF, à vista, sobretudo, da realidade sobre a existência de firme e indiscutível crise que também afeta impiedosamente os brasileiros. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de setembro de 2015

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