O
ex-presidente da República petista reclamou do delegado da Polícia Federal que solicitou ao Supremo Tribunal Federal autorização para ele ser ouvido em inquérito sobre desdobramento da Operação Lava-Jato.
Ele teria
afirmado que o desejo de ouvi-lo é tentativa de atingi-lo em termos políticos, porquanto
o próprio delegado esclarece, em seu relatório, que não há provas de seu
envolvimento direto no clamoroso escândalo da Petrobras.
Na
avaliação do petista, o pedido poderá ser usado pela oposição como munição para
atacá-lo. Por sua vez, o ex-presidente entende que houve excessos cometidos por
delegados da PF, que têm a subordinação ao ministro da Justiça.
Já um dos
principais interlocutores do petista ressaltou que o pedido em causa é "despropositado" e que ele "foi criado para beneficiar a oposição. Não
conversei com Lula, mas se ele não pensasse assim eu discordaria dele. Estou
preocupado com essa partidarização da PF".
O delegado
pondera, no seu relatório, que ainda não tem provas do envolvimento direto de do
ex-presidente, mas entende que a investigação "não pode se furtar à luz da apuração dos fatos" se o
ex-presidente foi ou não beneficiado "pelo
esquema em curso na Petrobras, obtendo
vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a
manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios
ilícitos na referida estatal".
Ao mencionar
possíveis indícios sobre o papel do petista no esquema da Petrobras, o delegado
admite que o doleiro e o ex-diretor de Abastecimento da estatal, delatores que
se encontram presos, apenas "presumem
que o ex-presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção",
tendo em vista "as características e
a dimensão do mesmo".
A reação
autoritária do ex-presidente à simples tentativa para ouvi-lo demonstra, com
todas as letras, o quanto ele procura se esquivar até mesmo para prestar
informações sobre o pior caso de corrupção da história da República, que teve
origem justamente em pleno governo dele, que, diante da repercussão sobre os
fatos clamorosos, tudo se justifica que o presidente da República de então
seja, no mínimo, ouvido, para contar exatamente o que sabe sobre os fatos que
aconteceram na sua gestão.
Não há a
menor dúvida de que o petista se julga acima de tudo e de todos, tentando ser
superior às leis do país, que têm também como princípio a necessidade da
transparência e da verdade, quanto mais em se tratando do homem público que já
foi o mandatário da nação, que tem o dever permanente de prestar contas sobre
seus atos, em qualquer momento, para que não pairem dúvidas sobre questões
remanescentes.
Nos
países sérios e desenvolvidos, os homens públicos fazem questão de exigir que
as investigações sobre a menor suspeita que envolva seus nomes sejam
devidamente apuradas, como forma de mostrar a lisura sobre os atos pertinentes
à sua administração, independentemente o que possa pensar a oposição, porque o
que interessa é tão somente se demonstrar que a sua gestão transcorreu sob o
pálio da regularidade, moralidade e honestidade.
Nesses
países, os políticos são desprestigiados quando não têm a oportunidade de
esclarecer os fatos envolvendo seus nomes, porquanto, somente nas
republiquetas, os homens públicos sentem-se, por motivos não declarados,
injustiçados e perseguidos pelo fato de apenas poderem ser convocados para
esclarecer situações importantes para a elucidação de possíveis citações
ocorridas em suas gestões.
Custa
acreditar que a Polícia Federal teria a ingenuidade e até mesmo a mesquinhez de
pretender ouvir alguém, por mais importante que ele seja, tão somente para “beneficiar a oposição”, cuja ilação não passa
de mentalidade medíocre e distanciada dos verdadeiros princípios democráticos,
que têm por finalidade, entre tantos benefícios, a plena transparência na
administração pública, como forma de prestigiar as instituições públicas.
Ao
invés de reagir contra a sua convocação para prestar esclarecimentos sobre
fatos acontecidos no seu governo, o ex-presidente poderia ter a humildade e a
dignidade de se oferecer espontaneamente para elucidar possíveis dúvidas que
suscitaram no bojo dos depoimentos das pessoas envolvidas nas irregularidades
objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
Seria
enorme contribuição por parte dele ao país, como forma de prestação de contas,
em harmonia com os saudáveis princípios democráticos de transparência e de
reafirmação da verdade, porque as pessoas não contaminadas pela idolatria de
líderes políticos gostariam de conhecer a verdade sobre os fatos da história
político-administrativa do país.
Embora
seja da índole dos homens públicos não serem simpatizantes da transparência,
por motivos completamente inaceitáveis, à luz das conquistas da humanidade,
compete à sociedade exigir que eles passem a observar os regramentos
constitucional e legal que os obrigam a prestar contas ao povo sobre seus atos
e a esclarecer questões relacionadas com as suas gestões, uma vez que tal
procedimento apenas se enquadra nesse conceito de se contribuir para a verdade
sobre os fatos, além de lançar luzes ao aperfeiçoamento dos salutares princípios
democráticos.
Os
brasileiros, no âmbito da sua responsabilidade cívica, têm o dever de repudiar
os homens públicos que resistem a contribuir para os esclarecimentos dos fatos
da administração pública, procurando dificultar o importante e imprescindível
trabalho da respeitável Polícia Federal, símbolo de competência e padrão de
qualidade do serviço público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de setembro de 2015
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