quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A farra com dinheiro público


Nas proximidades das eleições, os parlamentares brasileiros encontraram algumas fórmulas milagrosas para ficarem com a imagem bonita nas urnas eletrônicas, tendo encontrado aquele “jeitinho” brasileiro para burlarem regras constitucionais e contornarem condutas que seriam absolutamente impossíveis em países com o mínimo de seriedade e civilidade, onde as comezinhas regras de bons e salutares procedimentos são devidamente observadas, sob pena de censura imperdoável.
     Justamente visando o jogo próprio da campanha eleitoral, os parlamentares prepararam pautas-bomba que causarão enorme rombos de valores superiores a R$ 100 bilhões nos cofres públicos, em cristalina evidência de que eles estão nada preocupados com o estouro da boiada e muito menos com as consequências de suas irresponsabilidades e com o futuro dos brasileiros;
Os políticos, aos aprovarem substanciais e extraordinárias verbas para projetos de interesse absolutamente eleitoreiros, sem a menor preocupação de que isso contribui, de forma injustificável e absurda, para o atendimento de alternativas para sanar a drástica redução dos recursos que eram provenientes das doações generosas das empreiteiras para o financiamento das campanhas eleitorais
Diante da proibição dos financiamentos das empresas, os parlamentares buscam alternativas com o uso das verbas destinadas ao exercício das atividades legislativas, sem a menor preocupação para o ajustamento das despesas às finalidades para as quais elas foram realmente instituídas, porque não raro os congressistas têm excedido no uso das verbas disponíveis para passagens aéreas, divulgação do mandato e outras destinações normalmente ao arrepio da lei, ante a falta de controle, que deveria ser bastante rigoroso, para se evitar abusos por parte justamente daqueles que precisam ser modelos de correção e bons zeladores dos orçamentos públicos, porque eles são as autoridades que têm a incumbência de fiscalizar o bom e regular emprego dos recursos públicos.
O mais grave de tudo isso é que os parlamentares que teriam o dever moral de ser exemplo de contendores dos gastos públicos seriam os presidentes das Casas do Congresso Nacional, mas eles são alvo de denúncias de abusadores do uso de aviões oficiais, por distorcerem a regra que permite o uso de jatinhos da FAB para seus deslocamentos, embora eles garantam que a utilização dos aviões da Aeronáutica é feita somente no cumprimento de “agendas políticas”.
Somente o presidente da Câmara dos Deputados fez uso de aeronaves oficiais, este ano, pelo menos, 52 vezes, o que equivale ao uso de duas vezes por semana, para itinerário ou localidade que tem voos comerciais a preços, no mínimo, 50 vezes mais econômicos.
Quem não tem jatinho da FAB, caça mesmo com o chamado cotão, que tem sido outro atalho encontrado pelos parlamentares para conseguir atenuar os efeitos das restrições eleitorais de 2018, que consiste em cota para o exercício da atividade parlamentar (CEAP) e somente com passagens aéreas, os gastos, em 2018, já alcançaram a cifra de R$ 1,1 milhão, na Câmara dos Deputados, enquanto no Senado Federal, a cifra já encostou no valor de  R$ 3 milhões.
Por haver indiscutível abuso com o dinheiro proveniente da verba indenizatória, por parte dos congressistas, à toda evidência, os benefícios dela decorrentes precisam ser eliminados, como forma de se tornar mais justo e equânime o processo eleitoral, em razão de que esses benefícios se prestam como indiscutível fator de desequilíbrio das estruturas do pleito eleitoral.
Como se não bastasse a superestrutura criada para a perpetuação no Congresso, os congressistas ainda têm suas ações e atividades legislativas divulgadas também às custas do suado dinheirinho dos contribuintes, em verdadeira farra com recursos públicos.
Somente no primeiro semestre deste ano, foram gastos na Câmara, pasmem, valores aproximados de R$ 27 milhões com publicidade, para divulgação do que são chamadas atividades parlamentares, enquanto, no Senado, houve gastos, nessa rubrica, que totalizaram o valor de R$ 1,3 milhão, sendo que, nessa cota, há gastos de toda ordem, porque os parlamentares incluem um pouco de tudo, englobando pagamentos referentes a provedores de internet de seus sites pessoais, propaganda pessoal, custeio de serviços de alimentação de redes sociais, impressão de jornais, criação de vídeos, aluguel de outdoors nos domicílios eleitorais etc.
O abuso dos recursos públicos por parlamentares demonstra o verdadeiro nível da falta de compromisso e irresponsabilidade deles perante a coisa pública, deixando muito claro que os congressistas não estão nenhum pouco preocupados com a crise econômica, que garante rombo extraordinário nas contas públicas, da cifra que já supera a 200 bilhões de reais, mas os “lídimos” representantes do povo não querem nem saber o que seja esse tal de déficit fiscal, porque, para eles, o que importa mesmo é satisfazer seus objetivos pessoais, tenha crise ou não, porque eles são capazes de extrapolar os limites do bom senso e da razoabilidade, no tocante à contenção de gastos, que são verbetes inexistentes no dicionário deles, porque eles estão em outro mundo de muita fartura, onde crise econômica não passa de mera fantasia, à vista do seu desprezo pelo salutar princípio da economicidade.
          Na verdade, o controle e a fiscalização dos gastos públicos são da competência exclusiva do Congresso Nacional, que tem a incumbência não só de acompanhar a execução das despesas públicas, por meio do Tribunal de Contas da União, mas também de julgar as contas do governo, na forma constitucional, mas nada disso faz sentido para os parlamentares, que têm o seu mundinho particular de gastança e de farra com o suado dinheiro dos contribuintes.  
Agora, no âmbito da responsabilidade cívica, até se poderia ser atribuída ao povo, principalmente agora, no momento da eleição, alguma forma de controle sobre os maus políticos, deixando de votar naqueles que imaginam que sejam os reais danos do patrimônio público, tão somente porque estão exercendo cargos públicos eletivos, que, ao contrário, as suas responsabilidades como homens públicos são exatamente de dar bons exemplos de cidadania e civilidade, como forma de contribuir para a contenção das despesas públicas, principalmente diante dos arrochos dos cintos que precisam ser dados por todos os níveis de governo, inclusive e ainda cada vez maior pelos parlamentares. Acorda, Brasil!
Brasília, em 2 de agosto de 2018

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