segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Cadê o sentimento de brasilidade?


Escrevi a crônica intitulada “Um pouco de cidadania e civilidade”, onde tentei demonstrar a necessidade de os brasileiros precisarem ter dignidade para repudiar os homens públicos que são denunciados na Justiça, sob a acusação da suspeita da prática de atos irregulares com dinheiro público.
No texto, ficou bastante claro que a implicação com a Justiça se trata de situação absolutamente condenável e censurável, por que incompatível com o exercício de cargo público eletivo, de modo que os envolvidos sejam conscientizados para se afastarem da vida pública, enquanto não provarem, de moto próprio, a sua inocência, haja vista que é exatamente assim como agem e atuam os verdadeiros profissionais da política, pelo menos nas nações com o mínimo de seriedade e civilidade, onde o povo é respeitado, quanto aos sentimentos de civismo e cidadania.
Não obstante, o senhor Geraldo Moisés de Andrade, no alto da sua sabedoria, que imagina possuir, disse, certamente fazendo referência ao seu ídolo político, que “voto com vontade em Lula”, naturalmente debochando daqueles que defendem a moralização do país, uma vez que declarar que vota em quem se encontra preso, pela prática de atos contra a dignidade na administração pública, não condiz com os melhores sentimentos de brasilidade e muito menos com os princípios ínsitos da moralidade e da civilidade.
Com toda honestidade de avaliação sobre os fatos da vida real, é muito importante que as pessoas se manifestem sobre o que pensam acerca de tudo e principalmente de seus ídolos políticos, porque isso, com toda serenidade, faz parte do seu direito de cidadão do mundo, no contexto de sociedade pluralista, tendo total liberdade para apoiar quem quer que seja, em estrito respeito ao salutar princípio democrático.
Como ficou patenteado na minha crônica, a democracia nada mais é do que a vontade livre do povo e, partido desse princípio básico de cidadania, as pessoas podem usufruir o direito de escolher o candidato político que melhor lhe representa, porque é um direito inalienável do cidadão do mundo.
É induvidoso que os brasileiros precisam avaliar melhor os políticos e ficar muito à vontade para a escolha de seus representantes, porque o governo e, de resto, a delegação política, deveriam ser apenas o retrato fiel do povo, porque, se eles errarem, a culpa é do povo que não teve condições para selecioná-los com base no devido critério exigido pelos padrões de competência e eficiência, além dos importantíssimos e inafastáveis requisitos da idoneidade e da conduta moral.
Se o povo sabe e conhece o homem público que o quer para representá-lo politicamente, é exatamente assim que deve ser, porque, repito, o povo tem o governo que merece.
Não obstante, é dever intrínseco do povo criar vergonha na cara, para se dignar a valorização dos princípios da dignidade e do caráter moral de seus representantes políticos, para entender que o insensato apoio a homens públicos que estão implicados com a Justiça, que não conseguem demonstrar sua inocência quanto às suspeitas sobre a prática de irregularidades com dinheiro público, não se harmoniza com as atividades políticas de verdade.
É preciso se entender que a comprovação de inculpabilidade não é simplesmente dizer que não cometeu crime algum, porque, em termos jurídicos, a inocência se comprova por meio de elementos probantes, com contraprovas consistentes em elementos com força capaz de demover os fatos levantados contra é acusado.
O Brasil não merece mais essa esculhambação de políticos se envolverem em suspeitas e denúncias sobre práticas de atos irregulares e não conseguirem provar sua inocência, porque as pessoas de bem, aquelas que nada devem à Justiça, normalmente conseguem provar a sua inculpabilidade, quando elas são realmente imaculadas, por nada deverem, em termos de ilicitudes.
Ao contrário disso, em se tratando de políticos, eles dificilmente se livram das acusações e, quando isso acontece, procuram usar logo o inevitável recurso de injustiçado, julgamento sem provas e tantas outras desculpas esfarrapadas e infundadas, que são absolutamente dissonantes com o espírito ínsito das atividades políticas, que precisam ter por princípio o regramento da transparência, da decência, do decoro, da honorabilidade, da dignidade, entre outros que possam confirmar os sentimentos de idoneidade e de conduta moral sempre retilíneos, porque é exatamente dessa forma que a democracia se alicerça nos países com o mínimo de seriedade, civilidade e evolução, em termos políticos e democráticos.
Os brasileiros honrados precisam perder a virgindade, a vergonha na cara para fazerem exame de consciência sobre suas vocações políticas e suas ideologias, com vistas a terem a dignidade e a honradez de entender que a moralização do Brasil somente há de ocorrer um dia se o povo tiver o mínimo de sentimento de honestidade e decência, para exigir que seus representantes na política precisam apresentar atestado, passado pela Justiça ou por quem de direito, de idoneidade e conduta ilibada, acima de qualquer suspeita, porque isso é o mínimo que o homem público pode fazer em respeito ao povo dito honrado e de bem, que o apoia, nas urnas.
Ao contrario sensu, tem-se a verdadeira esculhambação do sistema político-eleitoral vergonhosamente afrontado com a insistência de político dizendo que é candidato, logo ao principal cargo da República, em estrondoso desrespeito ao ordenamento jurídico pátrio, em especial à legislação eleitoral, que estabelece que condenado por órgão colegiado da Justiça é considerado inelegível, ex-vi do disposto na Lei da Ficha Limpa, mas nada disso tem sido levado em conta, como se o Brasil fosse uma republiqueta de milésima categoria, onde é comum se ganhar as ações e as causas judiciais na base do grito, sob a influência do poder.
Os brasileiros, repitam-se, precisam ter vergonha na cara para não apoiar os políticos que se encontram com implicações na Justiça, mas sim terem coragem e dignidade para exigirem, no âmbito da sua responsabilidade e do seu dever cívicos, que os políticos que estão nessa situação se esforcem para limpar seus nomes na Justiça e obterem o devido atestado de bons antecedentes, como gestores de recursos públicos com o abono da legalidade, licitude e imaculabilidade.
Ao contrário disso, os brasileiros que não procedem com a devida responsabilidade cívica, porque isso é o correto, de exigir que os homens públicos, antes de pensar em representar o povo, tenham o dever moral e ético de mostrar pureza junto à Justiça do país, incorrem no crime de cumplicidade, estando em demonstração de plena solidariedade com os fatos delituosos por eles praticados.
A verdade é que as pessoas que se orgulham de apoiar políticos enquadrados na ficha-suja ou mesmo estando implicados na Justiça sob acusações da prática de irregularidades podem e devem ser consideradas, no mínimo, solidariamente coniventes na aceitação de atos delituosos, em evidente desmoralização das atividades públicas tão prejudicial ao interesse público, contribuindo não somente para a vergonha nacional, pelo indiscutível apoio à prática de atos ilícitos, mas, principalmente, para a banalização da corrupção e da impunidade.
É possível se imaginar que a defesa da moralização do país possa dizer com a imperiosidade da necessidade de novo Brasil, que poderia sim ser bastante diferente do atual se não tivesse gente com mentalidade que não consegue se envergonhar em apoiar políticos que são incapazes de provar na Justiça que são inocentes, quanto aos seus atos na vida pública e ainda achar que isso não fere os saudáveis princípios republicano e democrático.
À toda evidência, o Brasil tem pressa de assepsia moral e isso nunca vai acontecer se os brasileiros sentirem-se muito à vontade e orgulhosos em votar em homens públicos que estão com seus atos na vida pública sob graves suspeitas na Justiça, quando eles, por questão de honestidade e honradez pessoal, deveriam pensar no Brasil e exigir que esses políticos, antes de pensar em representar o povo, limpassem seus nomes na Justiça, como forma civilizada e de cidadania de se habilitar legitimamente ao exercício de cargos públicos eletivos, ante a exigência natural de imaculabilidade ínsita dos políticos cônscios da sua responsabilidade cívica e patriótica. Acorda, Brasil!
Brasília, em 6 de agosto de 2018

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