O
noticiário bombástico do momento se reporta à acusação feita por antigo núncio
apostólico (embaixador) do Vaticano nos EUA, nos anos de 2013 a 2016, de que o
papa teria acobertado casos de abusos sexuais de um clérigo americano, ou seja,
de um eminente cardeal, que havia sido denunciado por ele e o caso foi abafado.
O
referido ex-núncio considera da maior gravidade a atitude do pontífice, tendo
aproveitado para pedir a renúncia dele, sob a alegação de que o papa sabia,
desde 23 de junho de 2013, que o mencionado religioso se relacionava com jovens
seminaristas, ou seja, que ele era potencial predador, considerado indigno para
os conceitos e padrões religiosos da Igreja Católica, mas, mesmo assim, não foi
punido pelo chefe da igreja.
Diante
dessa notícia, o papa disse que não responderia às referidas acusações, porque
entende que o documento “fala por si só”.
Ele
disse que “não dirá uma palavra”,
tendo pedido que os jornalistas lessem cuidadosamente o documento e decidissem
por si mesmos sobre a sua “credibilidade”.
Em
resumo, o pontífice afirmou, ipsis
litteris: “Eu não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu acho que a declaração
fala por si e você (o jornalista) tem
capacidade jornalística suficiente para chegar às suas próprias conclusões
(sic)”.
Em
verdade, o santo padre, nesse episódio, comete gravíssimo pecado de ofício,
notadamente porque a acusação, mesmo que seja de facílima interpretação, é tão
alarmante diante do rebanho da Igreja Católica que meras conclusões de
jornalistas poderiam ser suficientes para elucidar o imbróglio apenas no seio
da classe de jornalistas, mas ficam sem as devidas justificativas do próprio
acusado para os católicos do resto do mundo, como se imagina que seja do dever
dele prestar amplos esclarecimentos sobre o objeto da denúncia, que é da maior
implicação, em termos da religiosidade cristã.
Embora
o documento em referência tenha o papa como signatário, parece estranho que ele
ache por bem delegar aos jornalistas – que não têm nada a ver com a história de
que se trata - a incumbência de o lerem e tirarem as suas conclusões sobre o
objeto da acusação, quando, por questão de respeito ao dignitário acusatório e
em especial à comunidade católica, cabe exclusivamente ao santo pontífice fazer
as próprias conclusões e, na melhor maneira da sociabilidade, conforme
recomenda a liturgia papal, responder à altura a tão pesada acusação, que não
faz o menor sentido ficar no vácuo, sem a devida importância.
A
toda evidência, não se trata de simplista interpretação de jornalista com
capacidade para o encerramento do grave episódio, considerando que o documento
sinaliza para a necessidade da renúncia do papa, dando a entender que ele perdeu, pelos menos no entendimento
de quem acusa, as necessárias condições de comandar e dirigir a santa Igreja
Católica e isso, por si só, seria mais do que suficiente para que o papa
defendesse a dignidade do seu postulado, sobretudo porque não se pode olvidar o
importante adágio popular segundo o qual “quem cala consente”.
Além
do mais, a autoridade papal foi acusada de ser cúmplice, por importante cardeal
da igreja, que exerceu relevante cargo de embaixador do Vaticano nos EUA, com a
prática do gravíssimo crime de abusos sexuais e ele não teria agido prontamente
no âmbito da sua competência de autoridade máxima da instituição que, nas
circunstâncias, precisa mostrar aos seguidores da Igreja Católica que inexiste
impunidade na igreja, mesmo que envolvido em denúncia seja cardeal, que precisa
sim também ser punido, para servir de exemplo acerca de seu péssimo
comportamento como cristão e em termos de lição pedagógica ao rebanho do mestre
Jesus Cristo.
Em
que pese o papa dá a entender não acreditar no que consta escrito na peça
acusatória, isso, por si só, não é suficiente para que a documento não seja
respondido por ele, que precisa desmascarar, se for o caso, os falsos
religiosos ou aqueles que estão querendo se opor a ele, com acusações
infundadas e inconsistentes, mas é preciso que o santo padre diga isso com a
devida clareza, para evitar que o seu silêncio tenha o condão de contribuir
para piorar ainda mais esse caldeirão de más notícias envolvendo a Igreja
Católica, nos últimos tempos.
O
papa precisa ser informado, a tempo, que, por a Igreja Católica ser instituição
milenar, que tem por regras consolidadas e consagradas ao longo da sua
existência, a verdade suprema precisa ser dita e jamais omitida, como nesse
caso, porque não há a menor justificativa que ele fique calado diante de
tamanha e gravíssima acusação sobre os possíveis pecados da omissão e da
complacência com relação à prática de crime de abusos sexuais praticados por
cardeal da Igreja Católica, porque o silencia dele, nas circunstâncias,
mostra-se como o antítese da transparência onde se assenta a essência da
verdade, que precisa ser dita em contribuição ao importante processo evolutivo
e construtivo da humanidade. Acorda, Brasil!
Brasília,
em 27 de agosto de 2018
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