Integrantes
da cúpula do Palácio do Planalto, em
especial os principais assessores presidenciais, querem blindar o presidente da
República do mais novo capítulo da crise envolvendo o policial militar
aposentado, amigo do presidente e ex-assessor de um de seus filhos.
Assessores
do presidente admitem que a estratégia adotada desde que esse imbróglio veio à
tona agora tem interpretação mais complicada, já que envolve a primeira-dama
brasileira, que vive com o presidente no Palácio da Alvorada.
Os
assessores compartilharam e discutiram a reportagem da revista Crusoé, que revelou
que a quebra do sigilo bancário do ex-assessor de seu filho revela novos
empréstimos do amigo do presidente à sua esposa, em valores que precisam ser
esclarecidos à opinião pública.
É
curioso que os auxiliares palacianos monitoram as reações e se disseram na
expectativa de como o presidente irá reagir ao ser confrontado por jornalistas.
Conforme
foi publicado pela revista Crusoé, os elementos constantes dos extratos do assessor
contrariam a versão apresentada até aqui
pelo presidente do país, uma vez que, as transações feitas por ele eram no
sentido de que haveria repasses que somavam o valor de R$ 24 mil, para a mulher
do presidente.
Na
ocasião, o presidente do país disse que o ex-assessor repassou à sua esposa dez
cheques no valor individual de R$ 4.000, para a quitação do valor de R$ 40 mil
que tinha com ele, mas, estranhamente, essa dívida nunca foi declarada junto ao
Fisco, e que os recursos foram para a conta de sua mulher em razão de "não
ter tempo de sair".
Segundo
a revista Crusoé, os cheques em questão foram depositados na conta da
primeira-dama, no total de R$ 72 mil e não de R$ 24 mil, até então revelados
pelo presidente, que também são diferentes do valor de R$ 40 mil, que teria sido
o total da dívida.
De
acordo com levantamento da regista Crusoé, pelo menos 21 cheques foram
depositados pelo assessor na conta da primeira-dama, no perde 2011 a 2018.
A
quebra de sigilo bancário do assessor teve acesso à sua movimentação financeira,
no período de 2007 a 2018, período em que não há depósitos do presidente do país
na conta do ex-assessor, a comprovem o possível empréstimo alegado.
O
jornal Folha de S.Paulo confirmou as informações obtidas pela revista Crusoé,
tendo apurado ainda que a mulher do
assessor também depositou pelo menos quatro cheques na conta da primeira-dama
brasileira, em 2011, no valor total de R$ 11 mil.
Em
síntese, os repasses ocorreram em dois períodos, de 2011 a 2013, com os depósitos
do assessor e da sua mulher, no valor de R$ 40 mil, por meio de cheques à
primeira-dama, enquanto, em 2016, foram
outros nove cheques, no valor de R$ 4.000 cada.
Acerca
dessas novas e gravíssimas acusações, o Palácio do Planalto se mantém em
completo silêncio, tendo contribuído seriamente para que o presidente fique
cada vez mais explosivo quando alguém questiona sobre assunto que exige que ele
preste os devidos esclarecimentos à sociedade, à vista de se tratar da transparência
dos atos envolvendo a pessoa dele e a da sua família, a exemplo a primeira-dama.
O
homem público, não importa o cargo ocupado por ele, precisa demonstrar plena
transparência sobre seus atos, na vida pública e qualquer suspeita de ato inquinado
de irregularidade precisa ser imediata e prontamente esclarecida, sob pena de se
admitir que ela é verdadeira, fato este que não condiz com a figura de
estadista de verdade.
Nesse
caso nebuloso da esposa do presidente do país, não resta a menor dúvida de que é
preciso que os fatos sejam imediatamente esclarecidos, tendo em vista que não é
nada normal que alguém deposite, de maneira continuada, dinheiro na conta de alguém
sem que não haja motivação plausível para isso, segundo a tradição da ética e
da moralidade, como forma de preservação dos valores ínsitos da dignidade da
cidadania, de modo a justificar a regularidade das transações, à luz dos comezinhos
princípios da legalidade e da transparência.
Diante
da relevância do assunto, convém que o presidente do país tenha sensibilidade
suficiente para que não é caso de se delegar a seus assessores a incumbência de
prestar os devidos esclarecimentos sobre a verdade que precisa urgentemente vir
a público, tendo em vista que se trata de grave acusação envolvendo família dele,
em caso particular anterior ao atual mandato, cujo fato se reporta a possível
irregularidade da maior gravidade, que diz respeito à suspeita do recebimento
de dinheiro cujas origem e destinação precisam ser devidamente justificadas, à
luz da verdade e da regularidade.
Não
tem o menor cabimento que o presidente da nação espere que seus auxiliares
encontrem motivos para justificar fatos extraídos de documentos bancários,
dando conta de transações efetivamente concretizados, que exigem a maior
transparência possível, sob pena de serem aceitos como sem a devida explicação,
o que é bastante grave, para quem se vangloria de ser o suprassumo da
honestidade, enquanto os extratos autênticos evidenciam que a primeira-dama pode
ter participado de esquema ilegal.
O
presente episódio suscita a invocação de fato histórico famosíssimo, ocorrido
em 62 a.C., em que a primeira-dama de então, de nome Pompeia, esposa de César,
pontífice máximo, o sumo-sacerdote da religião estatal romana, realizou, no
palácio pontifício, festival em homenagem a Bona Dea (boa deusa), com restrição
à participação de homem, mas o jovem Públio Pulcro conseguiu entrar no local da
festa, disfarçado de mulher, que foi pego e processado por sacrilégio.
Como
César não apresentou evidência sobre o crime contra Públio, ele foi inocentado,
mas, mesmo assim, o pontífice se divorciou da esposa, sob o argumento de que: "minha
esposa não deve estar nem sob suspeita".
A
célebre frase deu origem ao igualmente famoso provérbio, cujo texto tem sido
usado por grandes intelectuais, que diz o seguinte: "À mulher de
César não basta ser honesta, deve parecer honesta".
O
presidente da República precisa, com a máxima urgência, vir a público para
esclarecer, de maneira minudente, os fatos relacionados com a presente acusação,
sob pena de ser considerado conivente e cúmplice com atos nada republicanos,
eis que os fatos envolvendo a primeira-dama colocam o seu esposo em situação de
responsabilidade solidária, à luz do ordenamento jurídico pátrio, o que pode comprometer
seriamente a dignidade da figura do presidente do país, quando ele se esquiva a
demonstrar a regularidade dos fatos questionados.
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