sexta-feira, 28 de agosto de 2020

"Matar" de inveja?

               Recebi na minha caixa “Menssenger” um vídeo que mostra o ex-presidente da República petista sendo homenageado com a entrega de alguns importantes títulos de Doutor Honoris Causa, por diversas universidades de renome da Europa e da América do Sul.

Junto com o aludido vídeo tem a seguinte mensagem, in verbis: “Lula é o brasileiro com mais diplomas de Doutor Honoris Causa PRA MATAR DE INVEJA: Relembre alguns dos títulos de Doutor Honoris Causa conferido a Lula por importantes universidades do mundo. O melhor presidente do Brasil também é o brasileiro com maior número de prêmios e honrarias.”.

À toda evidência, o citado vídeo tem por finalidade chamar a atenção para fatos importantes ocorridos na vida do político, a par de fazer promoção da imagem dele, ao abordar algo que é realmente fabuloso como feito extraordinário para quem tem poucos estudos e conseguiu ser homenageado pelas principais universidades do mundo, com a concessão de títulos honoríficos, em razão do seu notável trabalho em defesa do social, o que, por certo, o faz merecedor das importantes láureas.

A outra evidência, por mera ilação, é que os autores dessa vídeo pensam iguaiszinhos

Esse contexto poderia ser bastante interessante, com o propósito  também para se relembrar, que, no mesmo vídeo, constasse a desagradável história desse grande brasileiro, que surpreendeu e envergonhou o mundo.

O mesmo colecionador de importantes títulos foi envolvido em rumorosos casos policiais, pertinentes à improbidade administrativa, por decorrência do seu arrolamento no tenebroso episódio do petrolão, que consiste propriamente em complexa operação criminosa de desvio de bilhões de reais dos cofres da Petrobras, cujos atos irregulares não foram assumidos por ninguém, embora não haja a menor dúvida de que eles ocorreram no curso do governo dele e os brasileiros não têm a orgulho algum dos horrorosos fatos delituosos.

Normalmente quando se pretende “matar” as pessoas de inveja, convém que não se mostre somente os grandes feitos do homenageado, porque elas certamente têm interesse em conhecer também tudo sobre o completo currículo do agraciado, como nesse caso proposital do petrolão.

 É sempre muito estranha a omissão a esse notório episódio, ignorado pelas pessoas que adoram “matar” alguém de inveja, embora esse caso tenha importância fundamental para compreender se não seria o caso de se “matar” de vergonha, pelo fato de que a mesma pessoa que foi alvo de extrema valorização com a conquista maravilhosa de tantas e magníficas láureas internacionais também foi capaz de se envolver em casos indignos de polícia, já tendo sido condenado à prisão, diante da incapacidade de provar a própria inculpabilidade com relação aos fatos denunciados, em que pese a invejável coleção internacional de títulos de Doutor Honoris Causa.

Não se conhece exatamente como é o comportamento conceitual, em termos de princípios cultuados pelas universidades que concederam títulos ao brasileiro, diante dos conceitos da moralidade e da dignidade atribuídas aos seus títulos de Doutor Honoris Causa, conquanto, à luz da decência e da valorização, especificamente sob o aspecto da credibilidade, impunha-se que elas promovessem reavaliação ética, se já não a fizeram, quanto à imperiosa necessidade da suspensos dos títulos pertinentes, até que os laureados condenados à prisão consigam provar a sua inocência.

Isso condiz com a forma de respeito aos demais laureados, que devem se sentir horrorizados na companhia de pessoa sob penosas condições de suspeita de desvio de conduta ética e moral, enquanto atuante na vida pública, assim decretado pela Justiça brasileira, com base em fatos que estão em plena validade para criminais e penais.  

Enfim, o que adianta ser colecionador de importantes títulos internacionais concedidos por renomadas universidades, as mais relevantes que sejam, e não se conseguir provar a sua inocência em dois processos criminais, nos quais já foi condenado à prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sendo que, em um dos quais, já houve a condenação até na terceira instância, ou seja, no Superior Tribunal de Justiça?

O que adianta a pessoa ser tão laureada e ainda responder, como réu na Justiça brasileira, a outros seis processos, todos pertinentes à denúncia da prática de crimes relacionados à improbidade administrativa?

Seria bem melhor para o homem público que ele não colecionasse condecoração alguma, mesmo que fossem as mais singelas do mundo, mas sim tivesse a consciência tranquila de não ter envolvimento algum com a Justiça do seu país, sob a certeza de que a sua vida pública é respaldada por atos absolutamente imaculados e ainda pudesse se apresentar à sociedade, em qualquer local e em qualquer momento, com as mãos limpas, merecendo o respeito e o carinho da população.

Há de se convir de que nenhum dos títulos honorários de Doutor Honoris Causa foi concedido ao político depois do seu arrolamento pela Justiça, o que vale dizer que o seu envolvimento com as denúncias referentes à prática de aos suspeitos de irregulares pode ter contribuído para que ele não fosse mais laureado, em que pese aqueles atos em defesa do social permanecerem em plena validade, a justificar os citados títulos.

Espero que o Brasil se orgulhe dos títulos de seu filho homenageado por universidades destacadas do mundo, mas somente quando ele tiver a grandeza de provar a sua inocência em todos os processos nos quais é acusado, denunciado e julgado como no deplorável sinete de criminoso, que não condiz em nada com os títulos recebidos por ele, ainda quando se encontrava na glória, embora os cofres da Petrobras, em especial, já eram saqueados no governo chefiado por ele, conforme mostram as investigações levadas a efeito pela Operação Lava-Jato.

O que impressiona bastante são as pessoas apenas conseguirem a proeza de enxergar as qualidades em alguém, o que é natural, mas, por dever de justiça, por qual razão elas também não verem os erros, os desvios de comportamento, quando estes têm a sublime condição de provar a real nobreza da pessoa, em termos de submissão aos princípios da moralidade e fidelidade à melhor conduta de cidadania?

Afirmo que nada tenho contra essas pessoas que amam os títulos honoríficos e desprezam os deslizes na vida pública, como se estes fossem realmente desprezíveis e irrelevantes mesmo, porque cada qual é dono da sua consciência, mas seria muito mais convincente se essas pessoas exigissem que os acusados, denunciados e condenados à prisão provassem, primeiro, a sua inocência, para depois merecerem os devidos aplausos, tanto mais por terem provado que sempre agiram sob o manto da licitude, na vida pública.

À vista das robustas provas materiais constantes dos autos, enquanto elas não forem infirmadas, de preferência pelo próprio interessado, para dar peso e importância ao fato em si, cai por terra toda importância dos títulos conquistados, diante da imputação da prática de atos indignos com capacidade de extrema degeneração do que pode ter existido no passado, enquanto estes não forem extirpados de quem colecionava capaz de “matar” de inveja seus opositores.        

É preciso ficar claro que a presunção de inocência somente tem validade quando for validada, declarada pela Justiça, não tendo o menor cabimento que as pessoas assim entendam, por contra própria, sob o respaldo, normalmente, em razão da melhor governabilidade ou de a pessoa ser a melhor da face da Terra, em menosprezo aos atos suspeitos de irregulares, os quais não têm o condão de abonar os atos de desacerto, em razão do que consta dos processos criminais que estão em curso e com plena validade, que não podem ser ignorados por mais boa vontade que seja e muito menos por mera piedade.

É de se lamentar profundamente ter que se pensar diferentemente de muitos brasileiros, que, infelizmente, não conseguem enxergar a realidade sobre os fatos, diante do entendimento segundo qual o verdadeiro homem público é aquele que precisa caminhar sobre a linha reta e nunca ser acusado de absolutamente nada, mas se o for, deve, em respeito aos princípios da ética, da dignidade, da moralidade e da honorabilidade, se afastar da vida pública e somente retornar a ela depois de obter o certificado de nada consta de quem de direito e que, na sua ficha corrida, não haja nada que macule a sua conduta na vida pública.

Pensar dessa maneira é como deva agir o verdadeiro cidadão que cultua os princípios e as condutas que possam contribuir para a pureza das atividades políticas, em estrita sintonia com os conceitos e regramentos republicano e democrático.            

          Brasília, em 27 de agosto de 2020

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