O presidente da República afirmou, com base no entendimento pessoal, em conversa com apoiadores, que a máscara de proteção utilizada contra o novo coronavírus tem eficácia "quase nula".
O
presidente, em tom de indagação, disse: “Tem algum médico aí? A eficácia
dessa máscara é quase nula”, ao responder a uma senhora que disse que só
iria tirar fotos com o presidente quando não precisasse mais do acessório.
Vejam-se o peso da afirmação do presidente, que imediatamente foi acompanhado
por um cidadão, seu apoiador, que disse "Não tem nada a ver o uso da
proteção contra o vírus. Também não concordo, não. Acho que não deveria ter
máscara porcaria nenhuma.”.
Outra
apoiadora afirmou que havia sido contaminada com a Covid-19, mas que já estava
curada.
Foi
quando o presidente perguntou à cidadã: “Qual o remédio?, que respondeu
"cloroquina", substância reiteradamente recomendada por ele, no
tratamento precoce da doença, embora ele, por questão ética, nem deveria se
imiscuir nesse assunto, por ser de competência alheia à função presidencial.
A
referida senhora concluiu: “Cloroquina, tomei tudo que o senhor recomendou.”.
Na
verdade, há comprovação em contrário do que entende o presidente brasileiro,
porque, de acordo com as pesquisas, o uso de máscaras pode impedir que pessoas
espalhem germes pelas vias aéreas, como no caso do terrível Covid-19.
Os
pesquisadores apontam ainda para uma série de evidências, ao sugerirem que “as
máscaras também protegem as pessoas que as usam, diminuindo a gravidade dos
sintomas ou, em alguns casos, impedindo completamente a infecção.”.
Uma
médica especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, em
São Francisco, EUA, disse que diferentes tipos de máscaras "bloqueiam o
vírus em um grau diferente, mas todos impedem a entrada do vírus. Se
alguma partícula de vírus romper essas barreiras, a doença ainda pode ser mais
branda".
A
mencionada médica e seus colegas defendem esse argumento em artigo publicado no
Journal of General Internal Medicine, tendo por base experimentos com
animais e observações de vários eventos durante a pandemia e ainda que “as
pessoas que usam coberturas faciais absorvem menos partículas de coronavírus,
facilitando o sistema imunológico a se proteger.”.
Outro
estudo realizado pela Universidade de Hong Kong comprovou que “o uso
da máscara reduz acentuadamente a propagação do coronavírus”.
Um
professor chinês, especialista renomado em coronavírus, afirmou, verbis:
"Está muito claro que utilizar máscaras em pessoas infectadas é mais
importante do que em qualquer outra. Agora que sabemos que grande parte dos
infectados não apresentam sintomas, o uso universal das máscaras é realmente
fundamental".
O
presidente do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia sublinhou
que “a máscara é importante não apenas para a proteção de seu usuário, mas
também para as pessoas ao redor”.
A
referida autoridade enfatizou que “Já está comprovado, inclusive pela
Organização Mundial de Saúde, que as máscaras são eficazes para conter a
transmissão de doenças respiratórias. Elas também são um instrumento importante
contra a dispersão viral e a proteção comunitária. Seu uso é uma questão de
responsabilidade pública.”.
E
ponderou, em avaliação sobre o tema, que “o melhor método para evitar a
infecção por coronavírus é o isolamento social. Outros modos de proteção, porém,
não podem ser deixados de lado: lavar a mão com água e sabão, usar álcool-gel e
a máscara. Acredito que não poderemos descartar a máscara a curto prazo.
Ela é necessária na pandemia e muito eficiente. Certamente é melhor do que a
cloroquina.”.
Por
fim, o Congresso Nacional derrubou o veto presidencial referente à
obrigatoriedade, durante a pandemia do coronavírus, do uso de máscara, vazado
nestes termos "estabelecimentos comerciais e industriais, templos
religiosos, estabelecimentos de ensino e demais locais fechados em que haja reunião
de pessoas".
A
toda evidência, mais uma vez, o presidente da República conspira contra as
regras saudáveis recomendadas para o combate ao coronavírus, ao opinar, de
maneira extremamente insensata, indevida e irresponsável, contra prática absolutamente
consensual, diante das evidências hauridas por meio de estudos científicos que não
permitem a menor discussão sobre a validade do emprego de máscaras, nas atuais
circunstâncias da maior gravidade para a saúde da população.
Quer
queira ou não, a opinião do presidente do país precisa ser rigorosamente ponderada
e sopesada, diante do seu impacto perante a opinião pública, porque, em muitos
casos, as pessoas a seguem fielmente, como no exemplo acima, em que uma cidadã disse,
verbis: “Cloroquina, tomei tudo que o senhor recomendou.”.
Ou
seja, fica muito evidente que grande parcela da população faz exatamente o que
o mandatário do país diz e recomenda, mesmo nos casos em que ele não têm competência
funcional para tanto ou que, por cautela, diante da especificidade do assunto,
ele prestaria importante contribuição aos brasileiros, em termos de saúde
pública, se simplesmente ficasse calado e se fingisse de ausente, deixando que
os órgãos governamentais competentes se manifestassem sobre a matéria, evitando
se passar por ridículo, como nesse caso, em que a sua opinião tem o peso
terrivelmente prejudicial aos interesses da saúde e da população, à vista de
fazer afirmações inverídicas, no sentido de que “A eficácia dessa máscara é
quase nula”, quando as experiências médicas dizem exatamente o contrário.
Não
há a menor dúvida de que essa forma de comportamento funcional não condiz
precisamente com a liturgia do verdadeiro estadista, que precisa, sobretudo, tratar
as questões importantes do governo com muita severidade e sentimento de abnegação
aos conceitos de seriedade e responsabilidade públicas, quando mais em se
tratando de assunto que envolve a saúde dos brasileiros, onde se exige, no
caso, o estrito respeito aos princípios da moderação, ponderação e acatamento aos
estudos científicos, sob pena de se permitir a ridicularização de opinião
contrária aos doutos ensinamentos recomendados e cabíveis à espécie.
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