quarta-feira, 12 de agosto de 2020

"Carteirada" ou mediocridade?

            Apenas confirmando a desgraçada índole dos brasileiros, alguns dos piores e marcantes traços da falta de caráter nacional vem à tona nos últimos dias e se manifesta com frequência, nos últimas tempos, em que muitas autoridades da República se expõem de maneira ridícula, na tentativa de mostrar a sua influência e o seu poder, a ponto de colocar a sua autoridade bem acima da incolumidade inexistente, como se ela estivesse bem acima dos parâmetros fiscalizatórios a cargo do Estado a quem essas autoridades apenas servem como meros servidores.

Tudo isso mostra que essa extremada arrogância se equipara à forma explícita de bestialidade própria de quem, culturalmente ainda se encontra nas trevas da ignorância e apenas mostra o desconhecimento da inteligência e da sabedoria, em termos da tolerância e da cordialidade ínsitas de pessoas evoluídas e civilizadas.

Essas autoridades se expõem ao ridículo e se mostram carentes de sentimentos humanos, quando não se envergonham de se igualarem aos demagogos e aos aproveitadores da influência que melhor poderia ser empregada para a prática do bem e da construção de bons exemplos de cidadania.

Essas autoridades de mentes doentias aparecem em público, onde são destituídas do poder quando investidas do exercício do cargo, imaginando estarem acima da lei e de todos, sempre querendo ganhar discussões na base do grito, impondo autoridade inexistente, por meio de truculentas e melancólicas  “carteiradas”, inclusive se achado no direito de agredir, com palavras pessoas  inocentes, no exercício do cumprimento do seu dever funcional, a exemplo de guardas municipais e outros servidores investidas sim de autoridade para fazer se cumprir a regra vigente, normalmente instituída para a proteção da sociedade.

Nesses casos, há visível tentativa da inversão da ordem natural da autoridade pública, na vã ilusão de que as normas padronizadas de cidadania não se aplicam às autoridades, que tentam se excluírem delas, por força do seu sentimento autoritário interpretado como tendo também o direito de autodiferenciação dos demais brasileiros.

Á todo evidência, o salutar princípio de cidadania parece funcionar como verdadeira ofensa pessoal e a grosseria a essas autoridades que se rebelam às normas estatuídas normalmente como padrão de comportamento social e em benefício da população, inclusive das autoridades.

É evidente que os problemas dessa ordem se potencializaram nesta fase da pandemia, mas eles são próprios da cultura brasileira e estão mais intrincados nas raízes do povo, a exemplo das exigências do uso de máscaras para proteção contra a Covid-19 e a proibição de aglomerações, que se tornaram os maiores disparadores de discórdias e de desrespeito aos comezinhos cuidados de proteção pessoal contra o contágio do Covid-19.

Sem dúvida alguma, qualquer forma de fiscalização não causa boa impressão junto à sociedade e, normalmente, nesse caso da pandemia, agentes de saúde pública e profissionais de segurança, que tentam o cumprimento das regras de prevenção, são os principais alvos de pessoas e autoridades que se acham superiores e poderosas, com direito de expor o seu instinto mais incompreensível da cultura brasileira ou da falta dela, que a tem na sua índole e fazem questão de mostrá-la, por meio da medíocre expressão: “Sabe com quem está falando?”, que já se tornou chavão preferido desses pobres de mentalidade, como se isso não fosse sinônimo de autoridade com mente doentia, involuída e incivilizada.

          Brasília, em 12 de agosto de 2020

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