domingo, 30 de agosto de 2020

EM DEFESA DA DIGNIDADE DE UIRAÚNA

 

Na crônica intitulada “Apelo aos candidatos e ao povo de Uiraúna”, fiz apelo aos candidatos aos cargos eletivos dessa cidade, no sentido de se comprometerem, publicamente, no empenhamento da aprovação do importantíssimo título de herói e heroína, que tem por objetivo a valorização histórico-cultural tanto da cidade como do seu povo.

No mesmo sentido formulei pedido especialmente ao povo de Uiraúna, para que, apelando ao amor às tradições, à cultura, ao civismo e ao engrandecimento da própria cidade, defenda junto aos candidatos o comprometimento com a aprovação da aludida medida, permitindo o reconhecimento do precioso legado deixado pelas pessoas que honraram, dignificaram  e amaram verdadeiramente os princípios humanitários e cristãos, em devotamento voluntário às causas do seu semelhante.         

Por se tratar de proposição importante para o conceito cultural e tradicional do povo e da cidade, muitas pessoas se manifestaram em apoio à medida em tela, como no caso do conterrânea cidadão Roberto Fernandes.

A sua mensagem foi escrita nos seguintes termos: Acompanho, Adalmir, seu interesse pela nossa querida cidade da Uiraúna. Enceta campanha de mobilização para promover o bem da população. Por isso, faço-lhe uma proposta de acordar Uiraúna para o fato do esvaziamento do município, relativamente, à assistência judiciária. A comarca de Uiraúna tem, aproximadamente, 60 anos de instalação. Os membros do judiciário aportavam à cidade valores como autoridade, contribuição cultural e educacional, tornando-se professores e o Dr. Gentil um dos juízes, dos idos de 1960, criou o ginásio professor Afonso Pereira. Hoje, a cidade encontra-se despojada de um dos poderes, o judiciário. O que justifica isso, esse distanciamento dos prestadores de um serviço essencial à coletividade? Que mudança radical! Podemos pensar nas razões que levaram a tal decisão pelos burocratas desse poder. Os juízes e procuradores, atuais, são garotos acostumados nas capitais, que não suportam uma cidade do interior, por incapacidade de com ela interagir e o corporativismo os leva a se protegerem, criando feudos judiciários nas cidades maiores. Então, conclui -se que se está criando uma casta privilegiada, que cuida de seus interesses próprios em desfavor da prestação pronta e eficiente de serviço indispensável. Assim, há de se conclamar as forças vivas da cidade para reverter tal desprestígio, menosprezo e quase humilhação. Os poderes se falam quando interessa. Juntem-se as lideranças do município, com deputados estaduais, federais e, também, senadores e governador do Estado para um esforço de reversão desse ato de tamanha infelicidade. É o que proponho.”.

Quanto é lastimável a decadência referente à evaporação da assistência judiciária ao povo de Uiraúna, a tal ponto escandalosa que atingiu o ápice do escracho e da desmoralização para as autoridades públicas que têm a incumbência constitucional de cuidar, zelar e defender os interesses do município, em princípio os homens públicos que foram eleitos precisamente para representar o povo em grau máximo e em todos os sentidos, 

Cabe a essas legítimas autoridades dizerem à população, evidentemente por dever cívico e moral, antes de se prepararem na busca do precioso voto, para se eleger ou se reeleger, o que cada qual fez ou deixou de fazer, em termos de fidelidade ao seu dever de representante legal do povo, no sentido do estrebuchamento, em forma de inconformismo contra o fazimento e a transformação do município de Uiraúna em reles instância desprezível e abandonada da Justiça, sem a menor importância, quando a sua jurisdição deixou ter sede no próprio município, com a retirada da voz e da dignidade próprias, em termos de autonomia e cidadania.

Há clara e transparente demonstração de que tudo acontece nas barbas das autoridades constituídas da cidade e fica tudo por isso mesmo - se é que, nessas condições, se possa chamar-se de autoridades no sentido de representante legal do povo -, à vista da existência de homens públicos que se calam, se omitem e ainda permitem tamanha esculhambação, sem esboçar disposição alguma, em termos de reação para a briga em defesa da honra e da dignidade de seu povo, cada vez mais desprestigiado e desconsiderado.

Prezado senhor Roberto Fernandes, endosso as suas precisas palavras sobre tema que é essencial para a dignidade de Uiraúna, no que diz respeito, em especial, à assistência judiciária, que atualmente é inexistente, o que bem demonstra o descaso não só por parte do poder Judiciário, mas sim, em destaque, das autoridades públicas da cidade, em especial a classe política dominante de longa data, que nada fizeram nem possivelmente fazem para dignificar a cidade, em termos de lutar e defender seus interesses.

Sei que até posso ser mal interpretado nesse e noutros casos que me coloco em defesa do povo de Uiraúna, mas isso não vai ao caso, poque falo sobre fatos que são verdadeiramente incontestáveis, cuja culpa pela ruína é tanto dos homens públicos quanto do próprio povo, sendo que este tem maior parcela de responsabilidade, que tem originária competência para escolher seus representantes, a quem se delega o poder para guerrear em nome do povo.

Cabe frisar que são os representantes políticos que têm a incumbência legal de defender os interesses maiores tanto da cidade como da população, só que o resultado desse processo, à luz dos fatos, tem sido o pior e o mais atrapalhado possíveis, à vista dos péssimos resultados contabilizados nos últimos tempos, conforme mostram as manchetes do noticiário sobre Uiraúna, que têm sido bastante desagradáveis, sobressaindo assuntos como falta de água, improbidade administrativa, desinstalação da Comarca e outras que jamais deveriam ser objeto de notícia e muito menos em âmbito nacional.

À vista da evolução natural dos tempos, esperava-se que o município estivesse em nível de desenvolvimento satisfatório, diante da nobreza e do sentimento de esperança do seu povo, que tem se esforçado bastante para a melhoria cultural, educacional e econômica, com tantas pessoas alcançando níveis superiores de graduação escolar e de expansão no comércio, o que bem demonstra o progresso da cidade.

O mesmo sentimento de progresso parece não acompanhar no setor político, onde grupo de dominação se apoderou da chave da cidade, evidentemente com o consentimento da população, que certamente se satisfaz com essa forma de predominância político-administrativa, em que somente a ala do poder político-social entende normal que é exatamente assim que Uiraúna deva ser administrada, cada vez mais distanciada dos padrões ideais de cidade sob a normalidade administrativa, em que a comunidade precisa se sentir satisfeita com a qualidade da prestação dos serviços públicos essenciais que tem direito, em termos de plena cidadania.

Na realidade, muitos dos fatos nefastos que aconteceram em Uiraúna têm o condão de contribuir para que os uiraunenses, aqueles que verdadeiramente amam a sua cidade, possam refletir profundamente sobre a necessidade ou não de mudanças radicais na atual estrutura de governabilidade, posto que, à vista dos péssimos exemplos recentes, a tendência natural é a continuidade do que está aí, ou simplesmente a piora da administração, porque os fatos mostram a degradação do direito à cidadania, com destaque, por óbvio, no que se refere à falta da atuação da Justiça na cidade, salvo se há recurso em defesa da normalidade dos serviços na jurisdição de Uiraúna.

Enfim, não se pode olvidar que há importante provérbio popular que diz que o povo tem o governo que merece, evidentemente na presunção de que ele foi escolhido pelo povo, embora considerada a maioria de votos, mas, na democracia, sempre prevalece a vontade de metade mais um e que esse unzinho seja o fiel da balança, nas próximas eleições para o cargo majoritário da cidade.

Ou seja, a escolha é feita por aqueles que estão felizes com a gestão do município, não importado possíveis reverses, porque é o povo que precisa avaliar o seu grau de satisfação pela maneira como vem ele sendo administrado ou se seria o caso de mudança, que poderia vir acompanhada das exigências para a nova maneira de governo.

 Aproveitando o ensejo, ouso indagar ao povo de Uiraúna: se ele merece ser governado na maneira como vem sucedendo, em que há sim representação política, mas a cidade se perde no abandono, à vista do exemplo recente, com o sumiço dos órgãos da Justiça e ninguém se incomoda, salvo em esporádico pronunciamento, aqui e ali, quando é preciso brigar junto aos tribunais, por meio de recursos efetivos e indignados, exigindo respeito e dignidade ao povo de Uiraúna?

Na minha modesta concepção, com base na experiência, tenho entendimento segundo o qual, por mais competente que seja o governo, é sempre salutar que haja constante mudança de gestão, como forma de possibilitar a renovação das práticas político-administrativas, em benefício da oxigenação de ideias novas, normalmente com chances de a alternância de poder se traduzir em diferente e profícuo gerenciamento dos negócios do município, se assim for a vontade da população, que precisa eleger as suas prioridades para serem exigidas dos candidatos.

Na proximidade da eleição para os quadros da representação política da cidade, acolhendo o fiel e acertado pensamento do nobre conterrâneo Roberto Fernandes, concito os uiraunenses a exigirem dos candidatos compromissos de luta em defesa da recomposição dos órgãos do poder Judiciário em Uiraúna, de modo que as lideranças políticas reconheçam que a cidade foi desprestigiada nessa área.

É preciso se reconhecer, até sem muita dificuldade, que esse processo depreciativo da cidade vem contando com a inadmissível condescendência das autoridades constituídas, que se acomodaram, se calaram, conquanto a culpa pesa sobre seus ombros, certamente em maior parcela, cabe ao povo a obrigação da cobrança para a luta em defesa de seus interesses, porque o seu silêncio pode ser entendido tacitamente como aceitação da degeneração político-administrativa da cidade.

 Esse estado intolerável de insignificância precisa ser revertido o quanto antes, por meio de medidas capazes de mostrar a importância dos serviços judiciários ao povo do município, os quais jamais voltarão se nada for providenciado nesse sentido, pelos filhos que amam verdadeiramente a sua terra natal, que precisam ter firme consciência sobre a necessidade de se resgatar a dignidade de Uiraúna, de modo que o seu prestígio possa ser restabelecido, como forma de justificar a confiança do povo aos homens públicos, no sentido de que sejam eleitos aqueles que também se comprometam com a honra dos cargos para os quais tenham sido eleitos.   

Enfim, como filho de Uiraúna que torce intensamente para o bem de seu povo, embora não tendo direito ao voto no município, nada impede que eu faça apelo a ele para que reflita com profundidade sobre a melhor maneira de governança para cidade, de modo que ela possa satisfazer aos interesses exclusivamente da população e da cidade, com embargo das formas de gratidão pessoal que comumente vem acontecendo nos pleitos eleitorais, porque, no caso, estão em jogo o interesse público, que é bem diferente da retribuição de bondades.

          Brasília, em 30 de agosto de 2020

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