Um estudante da PUC-Rio desenvolveu mochila que armazena e filtra água com impurezas e a transforma em substância própria para o consumo, cuja invenção já vem sendo usufruída por algumas famílias do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que receberam o equipamento, por doação.
O projeto foi denominado de “Água Camelo”, por seu
inventor, de 23 anos, o qual foi concebido dentro da sala de aula, em estudos e
trabalhos com outros colegas.
O jovem universitário, que estuda design de
produto, explicou que os usuários podem ter acesso à fonte segura de água, por
até dez anos, e que “A pessoa para ter água potável em casa, caso ela não
seja abastecida por um encanamento até a casa dela, teria que fazer quatro
etapas para ter água potável em casa, que é captar a água, transportá-la para
casa, armazenar em casa e filtrar essa água. Então, a gente resolveu (criar)
um Kit Camelo, que é composto por uma mochila, um filtro portátil de água e um
suporte de parede. Eles conseguem solucionar essas 4 etapas”.
O inventor desse projeto disse ainda que iniciativa
começou em fevereiro último e já levou água potável para 11 famílias, algo em torno
de 50 pessoas, sendo que uma delas é uma moradora de 33 anos, que contou que “antes
de receber a mochila, o consumo dela e da família era menor” e que “Ela
vive com dois filhos em Jardim Gramacho e as crianças apresentavam feridas pelo
corpo e sofriam com diarreia devido à qualidade da água.”.
A moradora afirmou que “Melhorou bastante porque
estava com gosto de água pesada, ruim, e a qualidade melhorou, parece água
mineral. (Antes do kit) era horrível, porque de mês em mês eu parava com
meus filhos nos hospitais e os médicos não descobriram o que era. Depois da
mochila minha vida melhorou muito”.
O estudante-inventor disse que “Eu estou
extremamente feliz com o trabalho que a gente tem feito nesses últimos meses,
porque a gente em fevereiro e com a pandemia a gente parou um pouco, entendeu
como seria a melhor forma para atuar e desde então a gente vem conseguindo
impactar as famílias e levar para elas uma forma até de elas conseguirem
minimizar, mitigar os impactos sofridos com essa pandemia, essa crise toda que
o corona vem trazendo”.
O ele informou que o projeto, por enquanto, vem
sendo custeado com a criação de campanha de apadrinhamento que conseguiu
viabilizar a entrega da Água Camelo para as famílias, contendo kit no valor de R$
350, cuja arrecadação pode ser realizada por meio de doação, em contato com o
projeto mantido nas redes sociais.
Hoje, administrando o projeto e estudando, o
inventor olha para o passado, quando era skatista profissional, e comemora a
trajetória até aqui.
Ele contou que o projeto Água Camelo o transformou
e incentivou outras pessoas a investirem em projetos sociais, extremamente para
a população pobre e sem água potável.
O inventor disse que, como profissional skatista, “Eu
já competi, já participei de inúmeros campeonatos, já fui campeão brasileiro
júnior e todas as conquistas me deixaram muito feliz e me encheram de orgulho,
mas nada se compara quando a gente entrega um kit para uma família, quando a
gente vê uma criança dar um sorriso e a mãe agradecer. Quando a gente entrega o
kit e o primeiro copo d’água que elas bebem, o sorriso é impagável".
Em conclusão, o aluno-inventor disse que "Se
todo mundo botasse a mão na consciência e pensasse em como fazer a diferença no
mundo, como gerar impacto, como tornar a vida de uma pessoa um pouquinho mais agradável,
eu acho que teríamos inúmeros projetos assim como a Água Camelo impactando quem
mais precisa”.
Não há a menor dúvida de que o projeto em causa é
maravilhoso, por representar gesto de cidadania, solidariedade, humanismo e
especialmente de caridade, porque ele tem por objetivo contribuir para a
melhoria da vida de pessoas pobres, que moram em locais onde inexiste água
potável, vivendo em condições de absoluta exclusão dos serviços públicos
básicos, principalmente de saneamento básico e fornecimento do precioso líquido
livre de impurezas, com o que possibilitaria garantir o mínimo de dignidade ao
ser humano, por meio de gesto de puro amor.
Diante da ideia genial, o aluno-inventor é digno de
encômios pelo tanto do gesto maravilhoso como pela invenção representar
verdadeiro pensamento criativo que tem o condão de reverter-se, de forma magistral,
na melhoria das condições de vida do seu semelhante, que pode se beneficiar com
o consumo de água sadia e de qualidade e ainda contribuindo para se evitar a
ocorrência de doenças, que teria custo social muito elevado.
O fantástico invento da Água Camelo, além de acenar
para a solução de gravíssimo problema de abastecimento de água e de saúde
pública, tem ainda o condão de mostrar para os governantes a sua primordial obrigação
constitucional de garantir água de qualidade para todos os brasileiros, não
importando onde eles morem, porque isso é o mínimo que jamais poderia deixar de
ser garantido para as pessoas, que precisam viver com saúde e uma condição essencial
é o fornecimento de água tratada, pura.
Nesse
ponto, é oportuno se ressaltar a importância de o Brasil ostentar o título de um
dos campeões das maiores cargas tributárias do mundo, enquanto também figura
entre os países que seguem nas piores posições no ranking na prestação de
serviços públicos à população, ou seja, o retorno oferecido em razão dos extraordinários
tributos arrecadados, na medição do Índice de Retorno ao Bem-estar da Sociedade,
fato este que é lastimável, porque parcela expressiva da população sequer tem água
potável encanada nas suas residências.
Indaga-se
qual a dificuldade dos governantes para a conscientização sobre o fornecimento
de água pura para a população carente do precioso líquido, porque a
consequência disso é a proliferação e o descontrole de doenças graves e
crônicas, segundo declaração daquela senhora que experimentou essa lamentável
realidade, que tem reflexo tanto na saúde da população como na saúde pública,
que nem consegue assistir, de maneira conveniente, a enorme demanda de pessoas
infectadas pela impureza das águas usadas por parcela expressiva da população carente.
Enfim,
percebe-se que a forma de arrecadação de fundos para o custeio do projeto Água
Camelo parece não ser ainda ideal nem a mais otimista possíveis, porquanto a arrecadação
ainda é muito acanhada, à vista de o valor até então arrecadado foi suficiente
para a aquisição de somente 11 kits, diante da sua relevância social, à vista do
mundo de gente carente Brasil afora, o que abrangeria campanhas publicitárias com
maior apelos social e humanitário.
Não
obstante, considerando a importância do projeto em si, seria extremamente diferente
se essa ideia fosse abraçada tanto pelos governos federal, estadual e municipal,
evidentemente em casos esporádicos e excepcionais, além da participação de empresas,
principalmente daquelas relacionadas com os sistemas de abastecimento de água,
quando maior quantidade de pessoas poderiam ser beneficiadas com esse excepcional
empreendimento, que precisa ser valorizado por meio de recursos que normalmente
são destinados à publicidade das empresas, que bem poderiam passar para esse
lado social, de muita carência, fato que poderia causar grande impacto junto
aos consumidores em geral.
Finalmente,
lembro, por oportuno, que o projeto “Água Camelo” poderia cair como verdadeira
luva em muitas regiões do Nordeste, onde há enorme carência de água pura,
principalmente nas regiões onde a água é de péssima qualidade, com o que a
solução seria a instituição de programa voltado exclusivamente para solucionar
casos específicos.
Assim,
sob a inspiração desse brilhante estudante-inventor, que presta importante contribuição
à vida do ser humano, vem a ideia de que o governo federal poderia se sensibilizar
para a essencialidade da vida também das famílias que vivem em locais de extrema
pobreza e que a elas são negados os serviços públicos básicos, a exemplo de saneamento
e água potável, para o fim de se priorizar a solução dessas mazelas ou, na pior
das hipóteses, na impossibilidade do atendimento generalizado, se pensar no
aproveitamento da maravilhosa ideia da “Água Camelo” para os casos isolados considerados
excepcionais, envolvendo famílias com crianças e pessoas idosas e com
comorbidades, como maneira de se minimizar o sofrimento de parcela expressiva de
brasileiros.
Brasília, em 8 de agosto de 2020
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