sábado, 15 de agosto de 2020

Brasília: exemplo de dignidade

No início do discurso inflamado, na famigerada reunião de 22 de abril de 2020, realizada no Palácio do Planalto, que deve passar para a história republicana brasileira como a mais desastrada de todos os tempos, o então ministro da Educação iniciou a sua fala contando sobre a percepção que tinha de Brasília.

Ele declarou, ipsis litteris: "Eu não quero ser escravo nesse país. E acabar com essa porcaria que é Brasília. Isso daqui é um cancro de corrupção, de privilégio. Eu tinha uma visão extremamente negativa de Brasília. Brasília é muito pior do que eu podia imaginar.”.

Diante dessa declaração extremamente deseducada e desrespeitosa ao povo de Brasília, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou moção no sentido de considerá-lo persona non grata em Brasília.

O título significa, de forma bem clara e definitiva, que a pessoa a que se refere a moção é considerada desprestigiada, sem caráter e de péssimo comportamento diante dos brasilienses, em contraposição à incivilizada atitude de ter tratado a cidade sede dos poderes da República, das representações diplomáticas mundiais e de nobres famílias da sociedade, inclusive à dele, se assim ela pode merecer esse tratamento, servindo como mecanismo para repudiar as inaceitáveis e injustificáveis ofensas gravemente proferidas por esse cidadão de índole desqualificada, em termos de cidadania e civismo, conforme a sua monstruosa manifestação contra o povo de Brasília, que merece, como todos os brasileiros, os maiores carinho e respeito.

Como justificativa para a aprovação da moção de desagravo, o seu autor disse que o mencionado ex-ministro “merece o repúdio de toda a sociedade brasileira, e em especial da sociedade brasiliense. Brasília não pode se permitir ficar calada diante das agressões sofridas. Por essas razões, com muita justiça, o ex-ministro não merece consideração desta cidade e, agora, é persona non grata”.

No texto, o parlamentar brasiliense disse que “Além de sua pública e notória incompetência na condução das políticas educacionais e da sua completa falta de educação e de respeito à democracia e às instituições, ele também resolveu desmerecer a cidade e seus habitantes”.

O autor do projeto de repúdio externou seu sentimento de revolta às palavras ditas pelo ex-ministro, por ocasião da referida reunião ministerial, com destaque para o trecho em que ele classifica Brasília como “porcaria e cancro de corrupção e privilégio”.

O parlamentar afirmou que a “A maioria dos malfeitos praticados em Brasília são realizados por pessoas de fora, que são eleitas em outros estados. Cabe aos eleitores dos estados eleger melhor quem será enviado para cá. A maioria dos cargos de alto escalão em ministérios, por exemplo, não são ocupados por pessoas de Brasília. A gente só fica com a culpa, com a impressão de que a cidade não presta (sic).”.

O título de persona non grata, na verdade, é documento oficial que declara o mínimo que se poderia aprovar, na inexistência de outro que melhor e mais apropriadamente pudesse representar a insignificância de pessoa que, de maneira absolutamente graciosa e injustificável, faz colocações completamente dissonante com a realidade, ao colocar Brasília no centro de suas concepções malignas, absurdas e tresloucadas, sem a menor plausibilidade para justificar o sentimento de insatisfação do desempenho de quem ele considera não condizente com o pensamento dele de satisfatoriedade funcional, ou mais especificamente que não guarda sintonia com a linha político-administrativa do Executivo, segundo o seu ideal padrão de governabilidade.

Na verdade, a forma completamente equivocada de interpretação do ex-ministro sobre Brasília, que, segundo ele, “é um cancro de corrupção, de privilégio.”, só tem aceitação para cabeça doentia e oca de bons propósitos, eis que a capital federal é sede permanente de pessoas dignas e responsáveis, salvo alguns representantes que se prostituíram na política, a exemplo de muitos homens públicos, que, eventualmente, se desvirtuam, possivelmente, por força da convivência política, o que é bem diferente da normalidade da vida de muita luta dos autênticos brasilienses, que são exemplo de trabalho e progresso, tendo como base os princípios de boa conduta e cidadania.

Diante do exposto, roga-se que os brasileiros de mentalidade sadia acreditem na pureza do povo de Brasília, de modo que possam ter a melhor visão a respeito da sua dignidade, que não pode ser confundida com sentimento nefasto de alguém que, de maneira irresponsável, faz generalização sobre fatos que até podem ser verdadeiros, mas não com relação à Brasília propriamente, cujo povo procura observar, com fidelidade, os melhores princípios de cidadania e civilidade.

          Brasília, em 14 de agosto de 2020

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