segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Voltas às aulas?


Há experiências de países que decidiram retomar às aulas presenciais, em meio à pandemia, a exemplo de Israel que, ao ser verificada a diminuta incidência de contágio do Covid-19, de apenas dez casos, em nível despreocupante, as autoridades que cuidam do assunto entenderam por bem que já havia chegado o exato momento para se autorizar o reinício das aulas, por imaginarem que o sinal verde havia sido acendido de vez e não haveria mais perigo pelo caminho de ninguém.

Naquele país, foi levada em consideração a sensível queda da curva, por ocasião do retorno às aulas, mas não houve a necessária preocupação com a adoção de cuidados preventivos, a exemplo de escalonamento de turmas, da obrigatoriedade do uso de máscaras, da assepsia das mãos com álcool em gel, respeito ao distanciamento de pessoas, como se nada tivesse acontecido de mais grave e que não precisasse mais de qualquer medida preventiva, porque o perigo maior já havia dissipado.

Por via de consequência desse brutal cochilo, o resultado dessa aventura foi terrível, porque, em poucos dias, logo apareceram pessoas infectadas pelo Covid-19 e a tendência foi a sua disseminação entre alunos, familiares, professores e funcionários, em escala alarmante.

Um órgão oficial de Israel disse ao site The Daily Beast que o pico do contágio teve origem exatamente na retomada precipitada às atividades escolares, mesmo com os cuidados pertinentes de controle, que não conseguiram evitar 1.400 israelenses diagnosticados com Covid-19, em julho, sendo que 657 (47%) foram infectados nas escolas, ou seja, quase a metade dos casos aconteceram nas unidades escolares.

Diferentemente de Israel, há países mais cautelosos que, em posicionamento bastante radical, decidiram simplesmente cancelar o ano letivo, na expectativa de que as aulas presenciais somente deverão recomeçar para valer em 2021, caso haja segurança para todos.

Em muitos países, as aulas presenciais continuam interrompidas, havendo a sua transmissão apenas por acesso remoto, cujo procedimento vem sendo normalmente prejudicado, diante das notórias desigualdades sociais, em razão do baixo acesso à internet, que prepondera em muitas localidades, como é paradigma disso o Brasil, onde a rede, quando existe, funciona quase sempre em extrema precariedade, o que dificulta o funcionamento das atividades escolares, mesmo em condições precárias.

O histórico de pressão à volta às aulas, no mundo afora, muitas vezes vem sendo decidido com base no grito e essa forma precipitada de agir pode perfeitamente se repetir no Brasil, sob interesses de toda ordem, principalmente de se alegar, de maneira irresponsável, tão somente a necessidade do salvamento do ano escolar, como se ele fosse mais importante do que a vida humana, diante das incertezas abissais sobre a inevitabilidade de contágios, porque não há a mínima garantia de que todas as pessoas vão realmente se cuidar como manda o protocolo, a ponto de ficarem seguramente imunes ao contatado com o perigoso vírus, principalmente diante da impossibilidade de testes viral para a população.

Acontece que, à vontade de salvamento do ano escolar brasileiro, soma-se a necessidade de muitos pais, que gostariam de, ao mesmo tempo, retornarem ao trabalho presencial, tendo a certeza de que os filhos ficariam nas escolas, em boa e segura companhia dos professores.

No momento, o retorno imediato às aulas certamente não será a melhor solução, tendo em conta que ainda não houve, em nenhum lugar do Brasil, o efetivo controle do vírus, que continua a causar seríssimos estragos na população, com o surgimento de muitos infectados e quantidade alarmante de óbitos.

À toda evidência, trata-se de sério dilema que justifica o embate em nível elevado, envolvendo autoridades de saúde pública, educacionais e principalmente os pais, para que se busque o consenso em questão da maior relevância, por envolver, nesse caso, a saúde, na expressiva maioria, de crianças e jovens, que precisam de absoluta proteção, sobrelevando ainda o fato de que o adiamento das aulas poderá implicar na certeza a importante medida de preservação de vidas, enquanto as aulas podem esperar a vacinação, por exemplo, de modo que a vida humana permaneça na sua integridade.

Vejam-se que, nesse caso, já estão apelando para a Justiça, que tem decidido sobre a retomada das aulas, embora essa questão deveria ser estudada e resolvida no âmbito da saúde pública, que tem a precípua incumbência de analisar e avaliar as condições de garantia da segurança sobre a existência de ambiente com saúde pública, de modo que a palavra da autoridade do setor possa tranquilizar a população quanto ao momento ideal para a volta às aulas presenciais.

É preciso sim que pais, professores e funcionários das escolas, gestores da saúde e da educação, empresários, autoridades políticas e a sociedade em geral possam participar da discussão sobre a questão, como forma de enfrentamento de impasse que diz respeito a todos, porque é bastante temerário que somente os governantes entendam o momento ideal da volta às aulas, salvo de eles dispõem de elementos capazes de assegurar plenas condições de imunidade contra o vírus, nas unidades escolares.

Conforme mostram as experiências, há indicativo de que crianças e adolescentes são menos susceptíveis ao contágio com o Covid-19, mas,  mesmo assim, é imperativa a necessidade da compreensão do problema no sentido coletivo, independentemente de faixa etária, visto que os mais jovens podem servir de vetores de transmissão do vírus aos mais velhos e é justamente aí que corre o maior perigo.

O certo é que o reinício das aulas exige estratégias muito bem planejadas por parte das escolas, mediante a adoção de cuidadosas restrições e medidas de proteção tanto dos alunos como de todos envolvidos com o funcionamento das unidades de ensino.

Convém, como medidas inevitáveis, a aplicação de testes antivírus nos alunos e nas demais pessoas, o distanciamento de, pelo menos, um metro e meio; a medição da temperatura na entrada da escola; a permanente higienização das mãos com álcool em gel; o uso de máscara; nenhum contato físico; e tudo o mais que possa dificultar ao máximo o contágio com o vírus.

Enfim, é preciso que não haja precipitação para a volta às aulas presenciais, apenas por mera vontade governamental, quando a gravidade da pandemia do coronavírus exige o máximo de bom senso e racionalidade, diante de questão que é relevantíssima, por envolver basicamente a preservação da vida humana, por meio de cuidados e mecanismos que sirvam para a garantia da saúde, de modo que não haja qualquer risco contra a segurança das pessoas.  

          Brasília, em 16 de agosto de 2020

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