O
presidente do país foi às lágrimas, ao relembrar o período que ficou preso,
tendo admitido ter nutrido sentimentos de vingança com relação ao então juiz da
Operação Lava-Jato.
O
presidente, visivelmente emocionado, fez o desabafo durante entrevista a um
canal da TV, no YouTube, onde relatou guardar rancor de sua prisão
na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Em
disse, textualmente, "Quando lembro disso fico com uma certa mágoa,
porque é um processo de destruição que não é fácil suportar. Acredito muito em
Deus, pois acho que é muita força para sobreviver aquilo, nem todo mundo
suporta".
O
presidente confessou ter declarado a procuradores que o visitavam "que
só se sentiria melhor quando f.... o Moro".
O
político afirmou que "De vez em quando ia um procurador, de sábado ou
de semana, para visitar, ver se estava tudo bem. Entravam três ou quatro
procuradores e perguntavam: 'Tá tudo bem?'. 'Não tá tudo bem, só vai estar bem
quando eu f.... esse Moro. Eu estou aqui para me vingar dessa gente'. Eu
falava todo dia que eles entravam lá: 'Se prepare que eu vou provar' (sic)".
As
palavras do político são indiscutivelmente convincentes de que se trata de
pessoa de mente completamente fora do normal, quando engendra os piores
sentimentos de ódio e vingança contra a pessoa que o julgou, tendo por base as
provas constantes dos autos, conforme os resultados das investigações policiais
sobre os fatos irregulares sobejamente denunciados à Justiça.
Ao
contrário disso, o único desejo possível de vingança, para a pessoa realmente
digna, honesta, sensata, justa e racional, não era nada desse pensamento mórbido
e satânico, de tentativa de destruição do ex-juiz, mas sim de se imaginar
primordialmente em provar a sua inocência com relação aos fatos pelos quais ela
foi acusada e, finalmente, condenada à prisão injustamente, diante da convicção de que nada
fez de errado contra o erário, quando sempre se houve em estrita observância
aos princípios da legalidade, do decoro, da honestidade, da moralidade e da
dignidade.
Agora,
diante dos fatos devidamente apurados e historiados por meio de provas
circunstanciadas, observados os processos legais, na estrita conformidade com o
rito da ampla defesa e do contraditório, com a lavratura das sentenças
judiciais condenatórias sob absoluta lisura, à vista dos pronunciamentos confirmatórios
pelas instâncias revisoras superiores da Justiça, o apenado ainda se julga no
direito de se vingar com medida drástica e cruel.
À
toda evidência, não é exatamente assim que deve proceder o verdadeiro homem público,
que honra o seu nome, diante das acusações que precisam ser resolvidas na forma
da lei, tendo em conta os direitos constitucionais da ampla defesa e do
contraditório, por meio de mecanismos naturalmente colocados à disposição das
pessoas inteligentes e sensatas que se envolverem em suspeitas de atos ilícitos,
na vida pública.
Assim,
depois de provada a sua inocência, evidentemente com base nos elementos
comprobatórios do nada consta, de ficha imaculada, na vida pública, o político
se dignaria a evitar o instinto selvagem e desumano de ódio e vingança, mas sim
de compaixão e tolerância, por ter conseguido provar, por meios normais e
legais, que teria sido punido injustamente, quando os culpados pelas falhas ficariam
passíveis a severas penalidades, tudo na forma da lei, observados os princípios
civilizados e democráticos.
Essa
forma de se buscar a inocência, na Justiça, jamais foi feita pelo político e
nunca será, uma vez que o político se julga a pessoa mais honesta da face da
Terra e ainda mais, ao contrário, diante das suas palavras, de se considerar a
pessoa mais injustiçada, como verdadeira vítima por conta das decisões adotadas
por única pessoa da Justiça, quando ele foi julgado também por outros oito juízes,
de instâncias superiores, tendo por base provas materiais referentes a atos
suspeitos de elevados teores de irregularidades, que não foram infirmadas por
ele.
À
vista dos pronunciamentos do político, evidenciado a sua irrequieta e mordaz vontade
de vingança, sem que haja qualquer cabimento para tanto e mesmo que houvesse,
que somente exporia insensibilidade humana, ganha relevo o sentimento de que brasileiros
elegeram pessoa de instinto silvestre, extremamente vingativa, repudiado pelos
mais comezinhos princípios de civilidade, cuja índole desumana exige o repúdio e
o protesto dos verdadeiros brasileiros.
Essa
clara e natural repulsa ao mórbido impulso de vingança manifestado pelo político
se compadece por sua dissonância com a relevância do cargo presidencial, cuja
liturgia exige sensatez, racionalidade e espírito público de civilidade, sem que
jamais se possa imaginar tamanha recaída da dignidade humana.
Por
fim, cabe o registro no sentido de que não se surpreende que esse político se
revele mais uma vez como pessoa que demonstra desvio de conduta como homem
público de quem tem o dever de sempre observar os princípios republicano e
democrático, em especial no que diz respeito à dignidade humana.
Infelizmente,
essa forma errática de comportamento nunca será revisada, corrigida, em
benefício da seriedade e do respeito aos princípios políticos modernos e de
normalidade civilizada, enquanto os seus eleitores tiverem a mesma mentalidade
do entendimento dele, no sentido de que a sua liderança perde sentido com a
mudança de conduta para pessoa digna de bons exemplos, conquanto mais desvio de
comportamento significa maior crescimento de idolatria, demonstrando o pior nível
de degeneração da sociedade, que se compraz com atitudes indignas e inadequadas
politicamente incorretas.
Brasília, em 23 de março de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário