quinta-feira, 23 de março de 2023

Politicamente incorreto?

 

O presidente do país foi às lágrimas, ao relembrar o período que ficou preso, tendo admitido ter nutrido sentimentos de vingança com relação ao então juiz da Operação Lava-Jato.

          O presidente, visivelmente emocionado, fez o desabafo durante entrevista a um canal da TV, no YouTube, onde relatou guardar rancor de sua prisão na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

Em disse, textualmente, "Quando lembro disso fico com uma certa mágoa, porque é um processo de destruição que não é fácil suportar. Acredito muito em Deus, pois acho que é muita força para sobreviver aquilo, nem todo mundo suporta".

O presidente confessou ter declarado a procuradores que o visitavam "que só se sentiria melhor quando f.... o Moro".

O político afirmou que "De vez em quando ia um procurador, de sábado ou de semana, para visitar, ver se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: 'Tá tudo bem?'. 'Não tá tudo bem, só vai estar bem quando eu f.... esse Moro. Eu estou aqui para me vingar dessa gente'. Eu falava todo dia que eles entravam lá: 'Se prepare que eu vou provar' (sic)".

As palavras do político são indiscutivelmente convincentes de que se trata de pessoa de mente completamente fora do normal, quando engendra os piores sentimentos de ódio e vingança contra a pessoa que o julgou, tendo por base as provas constantes dos autos, conforme os resultados das investigações policiais sobre os fatos irregulares sobejamente denunciados à Justiça.

Ao contrário disso, o único desejo possível de vingança, para a pessoa realmente digna, honesta, sensata, justa e racional, não era nada desse pensamento mórbido e satânico, de tentativa de destruição do ex-juiz, mas sim de se imaginar primordialmente em provar a sua inocência com relação aos fatos pelos quais ela foi acusada e, finalmente, condenada à prisão  injustamente, diante da convicção de que nada fez de errado contra o erário, quando sempre se houve em estrita observância aos princípios da legalidade, do decoro, da honestidade, da moralidade e da dignidade.

Agora, diante dos fatos devidamente apurados e historiados por meio de provas circunstanciadas, observados os processos legais, na estrita conformidade com o rito da ampla defesa e do contraditório, com a lavratura das sentenças judiciais condenatórias sob absoluta lisura, à vista dos pronunciamentos confirmatórios pelas instâncias revisoras superiores da Justiça, o apenado ainda se julga no direito de se vingar com medida drástica e cruel.    

À toda evidência, não é exatamente assim que deve proceder o verdadeiro homem público, que honra o seu nome, diante das acusações que precisam ser resolvidas na forma da lei, tendo em conta os direitos constitucionais da ampla defesa e do contraditório, por meio de mecanismos naturalmente colocados à disposição das pessoas inteligentes e sensatas que se envolverem em suspeitas de atos ilícitos, na vida pública.

Assim, depois de provada a sua inocência, evidentemente com base nos elementos comprobatórios do nada consta, de ficha imaculada, na vida pública, o político se dignaria a evitar o instinto selvagem e desumano de ódio e vingança, mas sim de compaixão e tolerância, por ter conseguido provar, por meios normais e legais, que teria sido punido injustamente, quando os culpados pelas falhas ficariam passíveis a severas penalidades, tudo na forma da lei, observados os princípios civilizados e democráticos.

Essa forma de se buscar a inocência, na Justiça, jamais foi feita pelo político e nunca será, uma vez que o político se julga a pessoa mais honesta da face da Terra e ainda mais, ao contrário, diante das suas palavras, de se considerar a pessoa mais injustiçada, como verdadeira vítima por conta das decisões adotadas por única pessoa da Justiça, quando ele foi julgado também por outros oito juízes, de instâncias superiores, tendo por base provas materiais referentes a atos suspeitos de elevados teores de irregularidades, que não foram infirmadas por ele.

À vista dos pronunciamentos do político, evidenciado a sua irrequieta e mordaz vontade de vingança, sem que haja qualquer cabimento para tanto e mesmo que houvesse, que somente exporia insensibilidade humana, ganha relevo o sentimento de que brasileiros elegeram pessoa de instinto silvestre, extremamente vingativa, repudiado pelos mais comezinhos princípios de civilidade, cuja índole desumana exige o repúdio e o protesto dos verdadeiros brasileiros.

Essa clara e natural repulsa ao mórbido impulso de vingança manifestado pelo político se compadece por sua dissonância com a relevância do cargo presidencial, cuja liturgia exige sensatez, racionalidade e espírito público de civilidade, sem que jamais se possa imaginar tamanha recaída da dignidade humana.

Por fim, cabe o registro no sentido de que não se surpreende que esse político se revele mais uma vez como pessoa que demonstra desvio de conduta como homem público de quem tem o dever de sempre observar os princípios republicano e democrático, em especial no que diz respeito à dignidade humana.

Infelizmente, essa forma errática de comportamento nunca será revisada, corrigida, em benefício da seriedade e do respeito aos princípios políticos modernos e de normalidade civilizada, enquanto os seus eleitores tiverem a mesma mentalidade do entendimento dele, no sentido de que a sua liderança perde sentido com a mudança de conduta para pessoa digna de bons exemplos, conquanto mais desvio de comportamento significa maior crescimento de idolatria, demonstrando o pior nível de degeneração da sociedade, que se compraz com atitudes indignas e inadequadas politicamente incorretas.    

Brasília, em 23 de março de 2023

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