domingo, 19 de março de 2023

Virar a página?

 

O último ex-presidente da República, que se encontra nos Estados Unidos da América, depois de ter fugido para lá, em 30 de dezembro último, apareceu em vídeo para dizer que pretende “virar a página”, na esperança de que o partido no qual ele é filiado fará bonito em 2026 e orientou os deputados e senadores da sigla a concentrarem esforços na criação da CPI mista (na Câmara dos Deputados e no Senado Federal) sobre os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.

O político afirmou que "Temos um sonho, temos um ideal, sofremos derrotas, mas a gente, acreditando em Deus e na força do nosso povo, nós atingiremos os nossos objetivos. Por vezes acontecem coisas na nossa vida que a gente não tem como explicar, mas vamos virar a página, vamos pensar no futuro".     

Em outro trecho, o ex-presidente declarou: "Pessoal federal aí, deputados e senadores, vamos focar na CPMI [CPI mista], porque vamos fazer valer João 8:32 (Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará). A verdade vai nos libertar. Tenho certeza de que nosso partido fará muito bonito ano que vem e mais bonito ainda em 2026".

O discurso do ex-presidente foi acompanhado com muitos aplausos e gritos de "mito".

O discurso do ex-presidente segue rigorosamente a praxe desgastada e demagoga dos velhos políticos derrotados e desbotados, mas sempre sonhadores, com novos ideais e novas promessas, como se o passado sombrio não contasse para nada, em termos de oportunidade para a realização de grande governo, que ficassem na história de grandes obras e serviços em benefício da população.

Nunca um presidente do país prometeu tanto e realizou talvez o mínimo necessário, apenas o indispensável exigido de qualquer governante, uma vez que o seu legado não contabiliza nenhuma obra de impacto inaugurada, nenhum serviço excepcional criado ou qualquer reforma estrutural do Estado, com a marca do seu governo que servisse de exemplo para lembrar a sua passagem no principal cargo da República.

É preciso lembrar, a propósito, que o ex-presidente recebeu incumbência especial, embora por caminho inverso, de cuidar da saúde dos brasileiros, quando surgiu, no seu governo, a pandemia do coronavírus, em que ele tinha excepcional e maravilhosa oportunidade para mostrar capacidades naturais de competência, eficiência e especial sensibilidade humanitária para a condução do processo exigido para o combate ao mal do século.

Não obstante, a sua atuação se caracterizou como a mais desastrosa possível, quando, sem experiência alguma nas áreas de medicina e sanitarismo, ele entendeu de opinar e se manifestar sobre todos os assuntos inerentes ao combate ao vírus, cuja horrorosa atuação mereceu, com o devido mérito, o cognome de negacionista, exatamente porque ele foi muito mais prejudicial do que benéfico ao combate à Covid-19, conforme os fatos mostrados pela imprensa.

Na qualidade de estadista sem experiência na área de saúde pública, o ex-presidente deveria ter se comportado apenas como o cuidadoso administrador que se mostrasse preocupado com a situação que era realmente gravíssima e tivesse a sensibilidade de conduzir as medidas de combate da melhor maneira possível, como a constituição de comissões especiais de alto nível dos participantes, com os melhores especialistas sobre o assunto, inclusive com a participação das entidades da federação, mantendo-se a distância em tudo, mas sendo atento às necessidades da população, mostrando solidariedade com o que fosse necessário para o mais eficiente possível ao combate da pandemia, sem jamais interferir nem criticar as medidas em realização por quem de direito.

Ao contrário disso, como prova de infinita incompetência e irresponsabilidade públicas, o ex-presidente colocou um especialista em suprimento de materiais dos quartéis do Exército, sem qualquer experiência em medicina ou sanitarismo, no auge da crise causada pela pandemia do coronavírus, logo para chefiar, pasmem, o principal órgão do governo incumbido das políticas de combate à Covid-19, cujo resultado não poderia ter sido o mais horroroso possível, com estatística estratosfera de progressivas mortes, que ocorriam incontrolavelmente em razão da inexistência de medidas capazes e necessárias ao combate eficiente e eficaz da doença.

É preciso que o povo seja realmente demente para dar crédito às promessas de quem ainda diz que tem “um sonho”, “um ideal”, quando ele já teve importantes oportunidades para realizar tanto o sonho como o ideal, se tivesse o mínimo de racionalidade, bom senso e inteligência política para entender que o destino do Brasil já esteve sob as suas mãos, quando ele poderia ter contribuído para evitar que o poder voltasse, sem qualquer resistência, para o domínio da banda podre da política brasileira, à vista dos terríveis exemplos de desonestidade e aderência aos esquemas de criminalidade, na gestão dos recursos públicos.

Pois bem, é inacreditável que político que não teve a mínima percepção para entender que a falta da decretação da intervenção militar, exigida a despeito da caótica crise política, demandada, em especial, pela visível e indevida interferência do sistema na escolha do novo presidente do país, à vista de inúmeras denúncias de irregularidades na operacionalização da votação pertinente, levaria à drástica situação pela qual se encontra o Brasil, que poderia ter outro destino, depois das normais medidas efetivadas pelas Forças Armadas, por força da incumbência sobre os necessários saneamentos.

A verdade é que, não fosse essa inaceitável omissão, o Brasil poderia ter sido salvo do abismo que se encontra, exatamente por culpa dele, porque a incumbência da decretação das medidas saneadoras era exclusivamente dele, com base no art. 142 da Constituição, e em especial de ele ter deixado de dizer a verdade sobre a covardia de se omitir, quando o Brasil mais precisou dele para não ser entregue ao domínio da maldade, que ele sabia muito bem sobre os riscos da sua inaceitável omissão.

Agora, à toda evidência, funciona como bastante estranho o ex-presidente vir suscitar o João 8:32, que se refere precisamente sobre a necessidade da verdade, medida essa que ele omitiu dos brasileiros quando deixou de decretar a intervenção militar, tendo ficado em absoluto silêncio até o presente momento, quando ele tinha a obrigação de esclarecer e justificar perante os verdadeiros brasileiros os motivos da sua inadmissível omissão, mas mesmo assim ele acha normal exigir a verdade dos outros, como no caso referentes aos atos antidemocráticos, fato este que somente mostra a dupla personalidade dele.

Enfim, é preciso que os brasileiros honrados e dignos se conscientizem de que o último ex-presidente do Brasil já teve importantes oportunidades para virar a página, com absoluta grandeza em todos sentidos, se ele tivesse tido o cuidado de ter dirigido o seu governo com o mínimo de racionalidade, sensibilidade, bom senso, competência, eficiência e a observância dos demais princípios constantes da cartilha do verdadeiro estadista, tendo a exclusiva preocupação de zelar das atividades relacionadas com o interesse público, de forma a atender à integral satisfação das causas da população.  

Brasília, em 19 de março de 2023

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