terça-feira, 14 de março de 2023

Por que o celibato?

 

O papa disse, em declaração para um portal argentino, que o celibato pode ser revisto pela Igreja Católica.

O pontífice disse que não acredita que o fim do celibato para os padres poderia contribuir para aumentar o ingresso de pessoas no sacerdócio, mas ele reconhece e defende que não há contradição em padre se casar.

O papa declarou que "O celibato na Igreja ocidental é uma prescrição temporária: não sei se está resolvido de uma forma ou de outra, mas é provisório nesse sentido; não é eterno como a ordenação sacerdotal, que é para sempre, goste você ou não.".

O pontífice também mencionou exemplos de igrejas católicas orientais, que, segundo ele, permite que seus sacerdotes se casem, tendo acrescentado que "Todos da Igreja oriental são casados. Ou quem quiser. Lá eles fazem uma escolha antes da ordenação: há a opção de se casar ou ser celibatário".

Não obstante, o papa não foi claro, em forma de detalhes, quanto à eventual mudança da regra católica, nem mesmo se ela estaria em estudo ou nem tampouco sobre a possibilidade de a implantação da importante medida durante o papado dele, que completa 10 anos, exatamente nesta segunda-feira.

O pontífice enfatizou, em tempos passados, que o celibato não se trata de "dogma de fé" no catolicismo, tendo feito referência à existência sacerdotes casados nos ritos orientais e declarado que "a porta está sempre aberta" a tratar o assunto.

Em tempos idos, o pontífice deixou claro que "O celibato não é um dogma de fé. É uma regra de vida, que eu aprecio muito e acho que é um presente para a igreja".

O celibato sacerdotal, mantido pela igreja desde muitos séculos como preciosidade histórica, resiste, inexplicavelmente, ao tempo e se conserva imutável com a mesma valorização original, em que pese a modernidade e a evolução da humanidade, que se caracterizam por profundas transformações, principalmente na mentalidade e nas estruturas do pensamento humano.

Em consonância com essa transformação, os novos hábitos acenam, há bastante tempo, para novos posicionamentos dos cardeais da Igreja Católica, no sentido de se manifestarem quanto à imperiosa necessidade do exame do princípio do celibato, até mesmo por imposição das circunstâncias da atualidade, notadamente pela evasão dos padres que, nos últimos anos, já ultrapassam de 60 mil, causando enormes dificuldades e deficiências para os trabalhos de evangelização apostólica da igreja.

É bem possível que, à época da instituição do celibato, há séculos, seria necessária e até imperiosa a imposição dessa regra, como experimentação compreensível e consentânea com a realidade da igreja primitiva.

Não se pode negar que o celibato deve ter sido salutar em épocas de dificuldades da formação da igreja, com a imposição aos sacerdotes sobre a dedicação exclusiva às atividades eclesiásticas, em que a instituição pode ter se firmado e se desenvolvido em razão disso, por se tratar de situação necessária aos hábitos e costumes de então, dadas as peculiaridades e os propósitos daqueles tempos, a se justificar exigência extrema de castidade, que até contraria princípios do cristianismo, quanto ao ensinamento bíblico sobre o dito de que crescei e multiplicai, fato que conspira contra a ideologia do catolicismo cristão.

Não obstante, séculos se passaram e com eles o homem passou por profundas experiências e adquiriu novos hábitos, costumes e formas de vida, que não se comparam com os tempos remotos da origem do celibato, certamente motivado por alguma ideologia experimental, que se tornou algo secular e vez por outra, importante religioso, como o papa se lembra de lembrar aos católicos que o celibato não faz mais qualquer sentido de existir, precisamente por nada, absolutamente nada justificar a sua permanência.

Embora o cristianismo seja rígido acerca da manutenção dos mesmos dogmas e princípios, a igreja precisa acompanhar essa evolução, como forma de atualização aos tempos de modernidade dessa severa e transcendente regra entre os homens, que não se harmoniza mais com o pensamento evoluído e atualizado do homem, que já se acostumou com as mudanças sapientemente vindas em seu benefício.

A propósito, se o mundo, o conhecimento e tudo enfim passaram por maravilhosas evoluções e aperfeiçoamentos em benefício do filho de Deus, por certo, nada disso teria subsistido sem o consentimento Dele, que jamais teria permitido as conquistas tecnológicas e científicas pelo homem, principalmente se os avanços não tivessem aparecidos com a finalidade de contribuir para a melhoria da humanidade, como vieram e sobre isso não há a menor dúvida.

Além de tudo isso, não parece que seja propósito do Criador que haja discriminação entre os homens, salvo a importante especificidade de que o sacerdote, em especial, ter a sagrada missão de servir a Deus, tendo a nobre e especializada responsabilidade particularizada da pureza necessária para o contato com as coisas sagradas.

Isso, por si só, não justifica, em absoluto, a diferenciação entre os homens, que, à luz dos princípios cristãos, são todos iguais perante o Ser Supremo, não sendo justo que haja qualquer espécie de segregação quanto às funções orgânicas, sentimentais e psicológicas pelo simples fato de alguém optar pelo exercício do sacerdócio.

Segundo os princípios cristãos, não há racionalidade se impedir, por qualquer meio, que o ser humano seja livre para viver segundo seus sentimentos, principalmente sociais, em plena igualdade quanto aos direitos e às obrigações, inclusive no âmbito da Igreja Católica, que não pode ignorar os princípios modernizantes legados à humanidade, necessariamente aplicáveis àqueles que ocupam o sacerdócio religioso.

Embora o celibato seja uma opção de vida, esse vínculo com a igreja impede que o homem se relacione intimamente com a pessoa que possa amar e viver em família, sem qualquer restrição, porque, certamente, o Grande Mestre não teria chancelado nada que impedisse a disseminação do verdadeiro amor.

Como não há experiência sobre a união conjugal entre padre e mulher, então não se pode negar como sendo absoluto que isso seria prejudicial ao trabalho apostólico nem que ele não poderia contribuir para a melhoria e o benefício da evangelização apostólica.

 À toda evidência, os fatos mostram que o celibato sacerdotal tem sido muito prejudicial à missão da igreja, por motivar a escassez clerical à plena realização dos planos de evangelização.

Não há a menor dúvida de que não se trata de dogma, mas não existe doutrina ou tratado comprovando que a falta da perfeita castidade no sacerdócio possa prejudicar, de alguma forma, a missão evangélica, trazer transtorno ao cristianismo ou contribuir para quaisquer atividades eclesiásticas, sendo, por isso, absolutamente dispensável a existência de regra de vida que não faz sentido e ainda prejudica sobejamente à instituição religiosa.

A verdade é que a Igreja Católica precisa apenas avaliar o verdadeiro sentido da existência do sacerdote, que tem a especial função de profissional especialista em religiosidade, que estudou os seus princípios, dogmas e doutrinas, exatamente como fazem, mutatis mutandis, o médico, o advogado, o professor e as demais especialidades, tendo por propósito ser útil à humanidade, na prestação dos serviços sob o seu domínio, sem que esses profissionais precisem ser segregados como acontece com o padre que recebe o pior castigo da própria igreja que serve, pela obrigação da castidade, sem que nada exista de substancialidade a justificar a perenidade de algo que faça sentido.

Se o papa quisesse realmente acabar, em um piscar de olhos, com essa imposição absurda e estapafúrdia do celibato, bastaria ele ordenar altos estudos no Vaticano, junto aos cardeais, para o levantamento de argumentos capazes de justificá-lo e isso seria o começo do fim de algo absolutamente desnecessário e injustificável, na atualidade, em que o mundo passou, necessariamente por revolução modernizante, por força das conquistas científicas e tecnológicas, salvo a Igreja Católica, que esquece que todos os avanços experimentados foram permitidos exatamente pelo Criador do universo, que, por sinal, é a razão da própria igreja.

O papa precisa agir em forma de ação, por meio de medida efetiva, conquanto esta não é a primeira vez que ele se refere ao mesmo assunto e, estranhamente, nada foi feito nem nada acontecerá se não houver a materialização de providência nesse sentido, porque qualquer mudança da estrutural da igreja depende da determinação dele, que é o chefe supremo da instituição.

A princípio, não é de bom alvitre que o papa, na qualidade de autoridade suprema da Igreja Católica, fique, de quando em vez, se referindo a assunto de suma importância como o celibato, se manifestando favorável à sua extinção, sem que exista qualquer iniciativa em pauta, uma vez que isso só despertar inútil expectativa no seio da igreja, que não resulta em nada, como já aconteceu no passado.

Convém que o santo padre somente se manifeste sobre a revisão do celibato depois que tiver a materialização de medidas nesse sentido, quando então ele pode dizer o seu sentimento acerca do assunto, que certamente terá o apoio dos católicos, por não haver nada que impeça o normal avanço também da Igreja Católica.   

Urge que o papa e os cardeais se dignem a enxergar a realidade da modernidade operada pelas transformações no mundo até a atualidade, em todos os quadrantes, que propiciaram significativos benefícios à humanidade, cujos fluidos benfazejos precisam aspergir também na Igreja Católica, que tanto anseia por esse despertar transformador das ideias, para que os benefícios da evolução da humanidade consigam transpor seus vitrais e permitirem que o celibato passe a existir apenas como peça de museu, apenas sendo lembrado pelos saudosistas, uma vez que não há qualquer justificativa para a existência dele.  

Brasília, em 14 de março de 2023

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