O
papa disse, em declaração para um portal argentino, que o celibato pode ser
revisto pela Igreja Católica.
O
pontífice disse que não acredita que o fim do celibato para os padres poderia
contribuir para aumentar o ingresso de pessoas no sacerdócio, mas ele reconhece
e defende que não há contradição em padre se casar.
O
papa declarou que "O celibato na Igreja ocidental é uma prescrição
temporária: não sei se está resolvido de uma forma ou de outra, mas é
provisório nesse sentido; não é eterno como a ordenação sacerdotal, que é para
sempre, goste você ou não.".
O
pontífice também mencionou exemplos de igrejas católicas orientais, que,
segundo ele, permite que seus sacerdotes se casem, tendo acrescentado que
"Todos da Igreja oriental são casados. Ou quem quiser. Lá eles fazem
uma escolha antes da ordenação: há a opção de se casar ou ser celibatário".
Não
obstante, o papa não foi claro, em forma de detalhes, quanto à eventual mudança
da regra católica, nem mesmo se ela estaria em estudo ou nem tampouco sobre a possibilidade
de a implantação da importante medida durante o papado dele, que completa 10
anos, exatamente nesta segunda-feira.
O
pontífice enfatizou, em tempos passados, que o celibato não se trata de "dogma
de fé" no catolicismo, tendo feito referência à existência sacerdotes
casados nos ritos orientais e declarado que "a porta está sempre aberta"
a tratar o assunto.
Em
tempos idos, o pontífice deixou claro que "O celibato não é um dogma de
fé. É uma regra de vida, que eu aprecio muito e acho que é um presente para a igreja".
O
celibato sacerdotal, mantido pela igreja desde muitos séculos como preciosidade
histórica, resiste, inexplicavelmente, ao tempo e se conserva imutável com a
mesma valorização original, em que pese a modernidade e a evolução da humanidade,
que se caracterizam por profundas transformações, principalmente na mentalidade
e nas estruturas do pensamento humano.
Em
consonância com essa transformação, os novos hábitos acenam, há bastante tempo,
para novos posicionamentos dos cardeais da Igreja Católica, no sentido de se
manifestarem quanto à imperiosa necessidade do exame do princípio do celibato,
até mesmo por imposição das circunstâncias da atualidade, notadamente pela
evasão dos padres que, nos últimos anos, já ultrapassam de 60 mil, causando
enormes dificuldades e deficiências para os trabalhos de evangelização
apostólica da igreja.
É
bem possível que, à época da instituição do celibato, há séculos, seria necessária
e até imperiosa a imposição dessa regra, como experimentação compreensível e
consentânea com a realidade da igreja primitiva.
Não
se pode negar que o celibato deve ter sido salutar em épocas de dificuldades da
formação da igreja, com a imposição aos sacerdotes sobre a dedicação exclusiva
às atividades eclesiásticas, em que a instituição pode ter se firmado e se
desenvolvido em razão disso, por se tratar de situação necessária aos hábitos e
costumes de então, dadas as peculiaridades e os propósitos daqueles tempos, a
se justificar exigência extrema de castidade, que até contraria princípios do
cristianismo, quanto ao ensinamento bíblico sobre o dito de que crescei e multiplicai,
fato que conspira contra a ideologia do catolicismo cristão.
Não
obstante, séculos se passaram e com eles o homem passou por profundas experiências
e adquiriu novos hábitos, costumes e formas de vida, que não se comparam com os
tempos remotos da origem do celibato, certamente motivado por alguma ideologia
experimental, que se tornou algo secular e vez por outra, importante religioso,
como o papa se lembra de lembrar aos católicos que o celibato não faz mais
qualquer sentido de existir, precisamente por nada, absolutamente nada
justificar a sua permanência.
Embora
o cristianismo seja rígido acerca da manutenção dos mesmos dogmas e princípios,
a igreja precisa acompanhar essa evolução, como forma de atualização aos tempos
de modernidade dessa severa e transcendente regra entre os homens, que não se
harmoniza mais com o pensamento evoluído e atualizado do homem, que já se
acostumou com as mudanças sapientemente vindas em seu benefício.
A
propósito, se o mundo, o conhecimento e tudo enfim passaram por maravilhosas
evoluções e aperfeiçoamentos em benefício do filho de Deus, por certo, nada
disso teria subsistido sem o consentimento Dele, que jamais teria permitido as
conquistas tecnológicas e científicas pelo homem, principalmente se os avanços
não tivessem aparecidos com a finalidade de contribuir para a melhoria da
humanidade, como vieram e sobre isso não há a menor dúvida.
Além
de tudo isso, não parece que seja propósito do Criador que haja discriminação
entre os homens, salvo a importante especificidade de que o sacerdote, em especial,
ter a sagrada missão de servir a Deus, tendo a nobre e especializada responsabilidade
particularizada da pureza necessária para o contato com as coisas sagradas.
Isso,
por si só, não justifica, em absoluto, a diferenciação entre os homens, que, à
luz dos princípios cristãos, são todos iguais perante o Ser Supremo, não sendo
justo que haja qualquer espécie de segregação quanto às funções orgânicas,
sentimentais e psicológicas pelo simples fato de alguém optar pelo exercício do
sacerdócio.
Segundo
os princípios cristãos, não há racionalidade se impedir, por qualquer meio, que
o ser humano seja livre para viver segundo seus sentimentos, principalmente
sociais, em plena igualdade quanto aos direitos e às obrigações, inclusive no
âmbito da Igreja Católica, que não pode ignorar os princípios modernizantes
legados à humanidade, necessariamente aplicáveis àqueles que ocupam o sacerdócio
religioso.
Embora
o celibato seja uma opção de vida, esse vínculo com a igreja impede que o homem
se relacione intimamente com a pessoa que possa amar e viver em família, sem
qualquer restrição, porque, certamente, o Grande Mestre não teria chancelado
nada que impedisse a disseminação do verdadeiro amor.
Como
não há experiência sobre a união conjugal entre padre e mulher, então não se pode
negar como sendo absoluto que isso seria prejudicial ao trabalho apostólico nem
que ele não poderia contribuir para a melhoria e o benefício da evangelização
apostólica.
À toda evidência, os fatos mostram que o
celibato sacerdotal tem sido muito prejudicial à missão da igreja, por motivar
a escassez clerical à plena realização dos planos de evangelização.
Não
há a menor dúvida de que não se trata de dogma, mas não existe doutrina ou
tratado comprovando que a falta da perfeita castidade no sacerdócio possa
prejudicar, de alguma forma, a missão evangélica, trazer transtorno ao cristianismo
ou contribuir para quaisquer atividades eclesiásticas, sendo, por isso,
absolutamente dispensável a existência de regra de vida que não faz sentido e
ainda prejudica sobejamente à instituição religiosa.
A
verdade é que a Igreja Católica precisa apenas avaliar o verdadeiro sentido da
existência do sacerdote, que tem a especial função de profissional especialista
em religiosidade, que estudou os seus princípios, dogmas e doutrinas, exatamente
como fazem, mutatis mutandis, o médico, o advogado, o professor e as demais
especialidades, tendo por propósito ser útil à humanidade, na prestação dos
serviços sob o seu domínio, sem que esses profissionais precisem ser segregados
como acontece com o padre que recebe o pior castigo da própria igreja que
serve, pela obrigação da castidade, sem que nada exista de substancialidade a justificar
a perenidade de algo que faça sentido.
Se
o papa quisesse realmente acabar, em um piscar de olhos, com essa imposição absurda
e estapafúrdia do celibato, bastaria ele ordenar altos estudos no Vaticano,
junto aos cardeais, para o levantamento de argumentos capazes de justificá-lo e
isso seria o começo do fim de algo absolutamente desnecessário e injustificável,
na atualidade, em que o mundo passou, necessariamente por revolução modernizante,
por força das conquistas científicas e tecnológicas, salvo a Igreja Católica,
que esquece que todos os avanços experimentados foram permitidos exatamente
pelo Criador do universo, que, por sinal, é a razão da própria igreja.
O
papa precisa agir em forma de ação, por meio de medida efetiva, conquanto esta não
é a primeira vez que ele se refere ao mesmo assunto e, estranhamente, nada foi
feito nem nada acontecerá se não houver a materialização de providência nesse
sentido, porque qualquer mudança da estrutural da igreja depende da determinação
dele, que é o chefe supremo da instituição.
A
princípio, não é de bom alvitre que o papa, na qualidade de autoridade suprema
da Igreja Católica, fique, de quando em vez, se referindo a assunto de suma
importância como o celibato, se manifestando favorável à sua extinção, sem que
exista qualquer iniciativa em pauta, uma vez que isso só despertar inútil
expectativa no seio da igreja, que não resulta em nada, como já aconteceu no
passado.
Convém
que o santo padre somente se manifeste sobre a revisão do celibato depois que
tiver a materialização de medidas nesse sentido, quando então ele pode dizer o
seu sentimento acerca do assunto, que certamente terá o apoio dos católicos, por
não haver nada que impeça o normal avanço também da Igreja Católica.
Urge
que o papa e os cardeais se dignem a enxergar a realidade da modernidade
operada pelas transformações no mundo até a atualidade, em todos os quadrantes,
que propiciaram significativos benefícios à humanidade, cujos fluidos
benfazejos precisam aspergir também na Igreja Católica, que tanto anseia por esse
despertar transformador das ideias, para que os benefícios da evolução da
humanidade consigam transpor seus vitrais e permitirem que o celibato passe a
existir apenas como peça de museu, apenas sendo lembrado pelos saudosistas, uma
vez que não há qualquer justificativa para a existência dele.
Brasília,
em 14 de março de 2023
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