quinta-feira, 26 de julho de 2018

A reinvenção do Brasil

Por ter total pertinência com a matéria tratada na crônica inicial, sob o título “Por que intervenção militar?”, não poderia deixar de inserir neste artigo as palavras mais do que ponderadas e ajustadas à realidade sobre os fatos deletérios inerentes à situação político-administrativa brasileira, ditas pelo nobre irmão Wilson Andrade, que mostrou fundada carrada de desesperanças quanto ao futuro do país.
Ao tempo em que também mostrou seu desalentado descrédito de ainda puder participar da recuperação da dignidade estraçalhada pela vil canalhice com que os saudáveis princípios e condutas dos homens públicos foram transformados em meras desmoralizações próprias das bagunças e desordens incompatíveis com o exercício de cargos públicos eletivos, onde é preciso que prevaleçam os princípios da honorabilidade, do decoro, da dignidade, entre outros ínsitos da organização e do progresso.
À vista da valorosa manifestação aludida acima,  nada melhor do que transcrevê-la a seguir, para que possamos sentir a profundidade e os ensinamentos de seu conteúdo, por expressar o sentimento de brasileiros que clamam por respeito aos princípios do civismo e da brasilidade, que foram dilacerados pela rudeza da classe política, quando se distanciou, por pura conveniência pessoal e partidária, do eixo da moralidade própria dos homens públicos corretos e dignos, que se negaram ao seu dever cívico de defensores das verdadeiras causas públicas.
Eis o importantíssimo texto da lavra do nobre Wilson Andrade, verbis: “(...) A cena brasileira está devidamente retratada nos parágrafos acima (referência à crônica intitulada “Por que intervenção militar?”). Lamentável o furdúncio político que seres de quinta categoria moldaram nossas instituições públicas, com o apoio de senhores detentores do Capital industrial. Nosso povo, sempre iludido por promessas por dias e condições melhores de vida, apoiaram, cegamente, bandidos travestidos de candidatos a ‘Salvadores da Pátria’. O Estado adoeceu, e agoniza, do mais remoto município à Administração Federal. Impregnadas, quer pelo clientelismo, quer pela podridão do nepotismo, a máquina pública encontra-se na UTI. Ética e Moral não constam do dicionário dos políticos, sem excluir qualquer bandeira partidária, o que, sobremaneira, corroboram para a longevidade do dito Furdúncio. Tivéssemos os 3 Poderes devida e sobejamente constituídos e revestidos de suas obrigações constitucionais, a história das últimas décadas da nossa Pátria Amada seria cantada e contada por palavras mais sublimes. E, com muito pesar, não vislumbro a possibilidade de festejar a volta do respeito ao próximo, da moral e dos bons costumes. Pelo menos ainda em vida! Que nossos filhos e netos ainda possam desfrutar do Brasil que vivemos na nossa tenra infância e adolescência. Que assim o nosso Deus permita!”.
É preciso ter muita sabedoria, serenidade e domínio sobre as palavras para sintetizar tão rica e precisamente o momento histórico da política brasileira, para a produção e exposição de pensamentos tão lúcidos e reveladores do fiel retrato de nação arrasada, justamente por quem, ao contrário, deveria dar bons exemplos de integridade e amor à pátria, em defesa da preservação do patrimônio dos brasileiros. 

É evidente que as conscienciosas avaliações do autor dessas pérolas sobre tão rico e importante tema não causam nenhuma surpresa, por serem fruto da notória experiência haurida na vida pública pelo autor, que serviu para enriquecer sobremaneira suas colocações, dando a elas a expressão da sua materialidade incontestável, o que não deixa de ser lamentável que isso ocorra, porque o que foi dito apenas evidencia a realidade nua e crua de país falido e irrecuperável, a curto prazo, diante da desoladora safra de homens públicos da pior cepa de brasilidade política.
Vejam-se que a perda das qualidades primitivas do ser humano atingiu também a sua essência social, o povo, a célula mater da sociedade, conforme mostrou levantamento realizado pelo Datafolha, divulgado em janeiro último, quando mostrou que o candidato petista tinha o apoio de 34% dos brasileiros, em termos de preferência eleitoral, bem à frente do segundo colocado, que contava com 15%, menos da metade do percentual atribuído a ele.
À época, foi feita a seguinte indagação: mas, afinal, quem vota no petista? E a resposta foi obtida em pesquisa realizada pelo Ideia Big Data, divulgada pela revista VEJA, revelando que “a maior parte dos eleitores do petista está concentrada nas classes C, D e E e reside em bairros populares.” e o mais curioso foi a constatação de que, segundo o mesmo levantamento, mesmo entre os eleitores daquele político, a sua imagem mudou de forma substancial, segundo a reportagem, tendo passado de “presidente que não sabia de nada” para político que “rouba, mas fez algo por mim. Se muitos políticos roubam, por que estão querendo prender justo o que defendeu os pobres?”, disse à revista um morador do Recife, dando a entender que a prática da desonestidade é justificável por atos de bondade para com os pobres, em que pese haver o envolvimento de recursos públicos nesse episódio.
Isso mostra que a degeneração social tem o apanágio próprio a justificar, de forma voluntária e consciente, malfeitos absolutamente condenáveis e recrimináveis, como a que mostrando descarada e debochadamente que é preferível que todos se lambuzem na imoralidade e na indignidade do que ninguém se beneficiar estando purificado em estado de limpeza moral, quando as oportunidades deletérias são perfeitamente justificáveis, segundo seus padrões de avaliação dos fatores ético e moral, mesmo que isso seja apenas forma torpe de vileza moral da sociedade decadente, que se nivela por baixo, no torpor da iniquidade moral e ainda mostrando a sua completa incapacidade de perceber a sua condição de insensibilidade para a existência dos nobres princípios da decência  e da dignidade, absolutamente necessários nas relações sociais, em especial, nas atividades políticas.
Não há dúvida de que a degeneração dos princípios e das condutas ganhou à tonalidade muito própria da classe política que já se conscientizou de que, quanto furdunço mais houver na vida pública, diante da banalização da indecência, os homens púbicos se aproximam do eleitorado e, em conjunto, se engalfinham com o mesmo propósito de esculhambação, como forma do desavergonhado aproveitamento da coisa pública, como que em desavergonhada defesa da plena desmoralização, mostrando que é correto, no pensamento invertido de retidão, o emprego de métodos impróprios da regularidade, da lisura e do decoro.
A aludida assertiva se traduz, na prática, exatamente dessa maneira, em que, quem é denunciado ou preso no Brasil, pela prática de graves roubalheiras dos cofres públicos precisa ficar livre, no sentimento de muitos, inclusive intelectualizados, talvez por se acharem prejudicados pela ordem de moralização, sem antes tentar massacrar as instituições públicas incumbidas das práticas de correção, para que parte expressiva do povo, juntamente com a classe política corrupta, possam continuar se beneficiando normalmente do poder e da coisa pública.
Ademais, no pensamento dessa gente, o resto dos brasileiros não passa de pessoas insensatas e indignas, exatamente por não compreenderem essa engenhosidade de que aqueles que deixam de observar os princípios da retidão e da moralidade, na vida pública brasileira, são, na verdade, os únicos corretos e dignos do respeito por parte daqueles que pensam e agem de forma correta e que, na realidade, estão na contramão da história política tupiniquim, porque o certo é agir no sentido contrário da correção e dos bons costumes.
Até parece maluquice, mas é exatamente o que está acontecendo na realidade no Brasil, em que muitos brasileiros querem que alguém seja livre, apesar de ter sido considerado corrupto e lavador de dinheiro, evidentemente sujo, porque somente ele e seus assessores de altíssimo nível político são competentes e capazes de cuidar da miserabilidade brasileira, não importando que ele precisa provar, na forma da lei, que não se beneficiou de propina com recursos sujos desviados de cofres públicos, quando o correto é todo mundo dizer que, primeiro, é preciso que seja mostrada a inocência à Justiça e depois, como moral da história, se pensar em defender os pobrezinhos, porque eles estão desprezados e não têm quem cuide deles. 
Essa é a verdadeira face de outro Brasil, que é integrado por brasileiros que perderam a vergonha e a dignidade, por terem deixado de agir com a razão, preferindo pensar apenas com o umbigo, mas muito mesmo por devoção às questões de conveniência pessoal, no âmbito de ideologia que assegura que ser moral é justamente praticar atos irregulares, com vistas ao aproveitamento de benefícios e influências decorrentes do poder, para que todos possam comungar das benesses, em condições degradantes em defesa de situações imorais, irregulares e contrários aos sentimentos de dignidade que não seriam enfrentados se os envolvidos tivessem o mínimo de sentimento de amor à verdade, ao decoro e à moralidade.
Não há a menor dúvida de que urge que novo Brasil seja reinventado, para que sejam implantadas outras práticas de racionalidade administrativa, com vistas à estrita observância de princípios verdadeiramente alicerçados em condutas sólidas de moralidade, dignidade, legalidade, transparência, decoro, probidade e demais conceitos reais de correção e retidão nas práticas públicas, com embargo da pouca-vergonha que foi disseminada como sendo a ideal para que o erário possa ser compartilhado socialmente em igualdade por todos, não importando que possa prevalecer o furdunço como a regra fundamental. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
       Brasília, em 26 de julho de 2018

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