Considerei oportuno e importante
analisar e expor, em crônica, intitulada "Não é mesmo?", detalhes
sobre o último resultado de pesquisa acerca da preferência eleitoral à
Presidência da República, onde a minha conclusão foi no sentido de que a forma
da sua divulgação não condiz com a realidade dos fatos, porque houve a generalização
da consulta como se ela tivesse o poder de abrangência em nível nacional,
embora o público alvo represente tão somente 0,000014% do universo habilitado
ao voto, quando relevantes fatores deixaram de ser mencionados, em termos de
quantidade consultada em quais regiões geográficas, nível de instrução,
condições salariais e outros detalhes e informações que são preponderantes para
a avaliação do público alvo desse valioso trabalho.
Há quem discorde do meu texto e
isso é natural, porque a finalidade dele é exatamente para a reflexão da
opinião pública, em respeito aos princípios de civilidade e democráticos,
embora seria importante que a contestação tivesse o foco sobre o que consta
ali, porque nele eu não contestei a validade da Ciência Estatística em si, mas
sim, frise-se, a falta de critério justo e responsável para a conclusão no
sentido de que determinado candidato teria a preferência dos brasileiros, fato
que é incontestável, mas não com base em pesquisa realizada de forma
restritiva, conforme foi dito sob a forma de minudente análise técnica,
mostrando que a pesquisa de que se trata é visivelmente incapaz e insuficiente
para se chegar àquela conclusão, porque em nítida contrariedade aos princípios
estatísticos, diante de vários elementos de influência.
Nesse contexto, o senhor Geraldo
De Magela demostra se insurgir com derivação sobre algo que não foi objeto das
minhas singelas análises e basta ler o texto, tendo ele dito, em tom
exclusivamente indagativo, em claro menosprezo ao meu trabalho literário, ipsis
litteris: “A Estatística, a ciência das
probabilidades, para nada serve? É isso mesmo? As universidades que lecionam
esse tipo de saber mentem para seus alunos, são embusteiras, manipuladoras de
saberes e mentes? E mais: as empresas de pesquisas são todas manipuladoras de
informações, enganadoras de pessoas, já que contrariam as nossas ideologias,
nossos credos; ainda, os tribunais, onde devem ser registradas todas as
pesquisas eleitorais comungam com a desfaçatez dessas empresas de pesquisa? No mínimo, complicado. Não é mesmo?”.
À toda evidência, é lamentável
que esse senhor, que demonstre tanta sabedoria, se ocupe a questionar e ficar
divagando sobre algo absolutamente estranho ao meu texto, como visto acima,
dando ideia de que alguém tem o domínio da razão e o resto não passa de um
bando de imbecis e desinformados, que precisam se calar diante dos fatos
distorcidos e impróprios ao conhecimento da opinião pública, em dissonância com
os princípios da cidadania e civilidade.
Prezado senhor Geraldo De Magela,
em momento algum o meu texto contesta a importância da Estatística, como
"ciência que se utiliza das teorias probabilísticas para explicar a
frequência da ocorrência de eventos, tanto em estudos observacionais quanto em
experimentos para modelar a aleatoriedade e a incerteza de forma a estimar ou
possibilitar a previsão de fenômenos futuros, conforme o caso." e que isso
fique bem claro.
É oportuno ser frisado e isso
ficou bastante nítido que a estatística foi usada, no caso específico citado na
crônica, para o bom entendedor, de maneira distorcida sabe-se lá para que fins,
no sentido de que a pesquisa realizada entre 2 mil pessoas, em apenas 128
municípios, sem a indicação de quais regiões, mas o seu autor usou o seu
resultado de forma generalizada, ou seja, foi dito que os brasileiros se
manifestaram com a preferência de 33% para o presidenciável petista, l5% para o
presidenciável ultradireitista e assim por diante.
O que foi dito na crônica é que
esses dados foram transpostos para o âmbito nacional, em forma de generalização
que não condiz com a estatística, em razão das suas especificidades, como dito
ali que há regiões com maior preferência para determinado candidato, outras
cidades pequenas e grandes, formação cultural, nível de instrução, salarial e
outros fatores importantes e ponderáveis, que podem influenciar quando tomado
no todo, com relação aos elementos colhidos e isso é absolutamente verdadeiro.
São detalhes que precisam ser
considerados conforme a natureza das pesquisas, para que o seu resultado seja
fiel e o mais próximo possível dos fins almejados, ou seja, a forma da pesquisa
precisa refletir o máximo da realidade sobre o seu objetivo, com vistas a ser
posto evidência natural dos fatos e até mesmo por questão de sinceridade e de
verdade.
O autor da citada consulta
poderia dizer com o maior acerto e sob o princípio da responsabilidade cívica
que, se a eleição fosse realizada nas localidades onde houve as consultas,
sicrano seria vencedor com 33%, vindo em seguida fulano, com 15% e isso é
incontestável, por ser reflexo dos dados levantados nas localidades, sopesados
o real valor estatístico, que até poderia ser estendido para outras regiões,
desde que seus componentes fossem compatíveis com as localidades onde foi
realizada a consulta eleitoral, mas jamais com relação ao resto do país,
diante, repita-se das especificidades.
Pelo menos, é esse o meu
sentimento sobre estatística, que tem seu valor para fatos específicos e a sua
conclusão jamais poderá ser aplicada, em extensão, de forma generalizada, sem
que a opinião pública possa ter certeza sobre a sua consistência, salvo nas
republiquetas onde as pessoas podem ser enganadas e manipuladas a seu
bel-prazer e tudo é considerado normal, aceitando-se informações as mais
absurdas, como nesse caso a que me referi, que precisa ser repudiado pela
opinião pública, diante da imprecisão dos elementos para melhor avaliação, o
bem da verdade e o respeito aos princípios de cidadania e civilidade.
Por fim, deixo muito claro que
não questionei a validade da pesquisa em comento, mas levantei questão de ordem
sobre a maneira como ela foi analisada e publicada, desacompanhada, como visto,
de maiores detalhes para a sua elucidação, havendo implicação maior pela
indevida generalização e isso, por certo, não contribui para o aperfeiçoamento
da Ciência Estatística e muito menos para os princípios democrático e
republicano, de modo que opinião divergente disso não passa de distorção da
verdade, não é mesmo? Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 3 de julho de 2018
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