quarta-feira, 25 de julho de 2018

O primado da democracia


Muito tem se falado, nos últimos tempos, sobre a necessidade da volta dos militares ao poder, sob a invocação da intervenção militar, tendo por finalidade, segundo a vontade de pessoas que não acreditam mais na classe política, por já ter demonstrado o quanto de inútil e imprestável à recuperação dos sentimentos de brasilidade, moralidade e da consciência cívica, diante da sua escrachada vocação em defesa dos interesses pessoais e partidários, em detrimento dos princípios republicano e democrático, que foram mandados para o espaço sideral, há bastante tempo.
Ouvem-se, de forma insistente, ideias de muita gente defendendo fervorosamente a imediata volta das forças militares ao poder, por haver o entendimento de que é a única forma possível para a reparação dos colossais desacertos da história político-brasileira recente, a exemplo da opinião abalizada do senhor Ditinho Minervino, que disse o seguinte: “No meu rude entender, vejo que o amigo Adalmir diz como muitas pessoas. Mas o que observo é: 1) Só vejo falar em respeito à Constituição quando o assunto é INTERVENÇÃO. Fora disso, não vejo respeito algum; 2) Falam sempre que devemos saber escolher em quem votar. Analisando direito, pode-se observar que o sistema político não nos deixa muita opção. Pois se um candidato é ruim, o outro é pior e não tem chance de qualquer um que não seja da (panelinha) surgir como candidato. Vejo também que pouco ou nenhum poder tem um presidente, porque quando ele tem bons projetos para a NAÇÃO, aí tem que comprar caro os parlamentares, e quando o projeto vem do Parlamento, mesmo ele (presidente) sendo contra se ver obrigado a sancionar.”.
Mais do que imediatamente, procurei responder ao amigo Ditinho, dizendo que ele não poderia ter feito melhor análise sobre esse tema, que realmente tem suas nuances políticas e nem sempre o resultado do jogo político tem sido favorável senão aos interesses escusos dos políticos, em detrimento das reais causas dos brasileiros, fato que demonstra o estrondoso distanciamento entre a realidade e o que seria desejável para as salutares práticas de atividades políticas.
Já escrevi, alhures, que as pessoas boas e dignas não se encorajam a entrar na vida política, por terem medo de se tornarem sem caráter e iguais aos demais políticos e isso é fato que que se confirma em cada pleito eleitoral, tornando pura verdade, o que tem sido motivo causador das dificuldades e dos obstáculos para a renovação da classe política, porque gente decente e digna que e distância das atividades públicas político-eleitorais.
Agora, dos piores males, que sejam os menos ruins, porque não se pode justificar nem defender intervenção militar somente porque os políticos não prestam e fazem questão justamente de serem irresponsáveis, salvo se a Constituição for alterada, para se acrescentar o item IV ao art. 136, nestes termos: nos casos de esculhambação da classe política; porque ali se elenca os casos passíveis de intervenção militar e haveria o acréscimo de mais esse, que, na prática, legalizaria, de vez, o furdunço na República mais desmoralizada do planeta .
Disse mais que havia escrito aquele texto tendo por base a tese, porque, na prática, a coisa se apresenta como o desastre que todos já estão acostumados a vivenciar, no cotidiano, mostrando com bastante clareza que a classe política está enclausurada exclusivamente no seu mundinho de composições, coligações, coalizões e outros ajuntamentos espúrios, tendo como pano de fundo a defesa de interesses pessoais e partidários, sempre ou quase em detrimento das causas da população.
Outra pessoa que também não se conforma com a triste realidade brasileira é o senhor Pikana, que se disse extremamente inconformado com esse estado de depravação que grassa no país, para o qual demonstrei que havia procurado deixar muito claro, na minha crônica, o que realmente seja intervenção militar, quando procurei dar maior destaque para esse instituto constitucional, que diferencia em muito do regime ou golpe militar, principalmente quanto às suas finalidades históricas e constitucionais.
Como não se pode ignorar, a intervenção militar é apenas maneira de “carinho”, a suavidade de tratamento dos militares para cuidar de algo distinto, específico, como o exemplo clássico da intervenção federal promovida na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, onde as Forças Armadas atuam em superficial combate, inglório, à monstruosa criminalidade que já ultrapassou os limites da tolerância cívica.
Enquanto o regime militar ou a revolução militar propriamente dita é o que aconteceu, na essência, a partir de 1964, com suas pesadas e firmes consequências de combate aos opositores e às medidas de exceção, próprias da situação especial de excepcionalidade, principalmente com relação àqueles que se opuserem à maneira natural e inerente ao regime revolucionário, para a manutenção da ordem e da garantia da proteção da sociedade, que não diz em nada com o regime democrático, porque este nada mais é do que a vontade popular sobreposta aos quartéis, em termos de gestão pública.
Na atualidade, muita gente defende a dureza do regime militar, do combate severo e intenso aos maus-feitos, com o uso da força-bruta, mas no sentido da suavidade da pura intervenção militar e é assim como defendem a volta das Forças Armadas para arrumar a bagunça generalizada, com destaque para a classe política, que já extrapolou todos os sentimentos da razoabilidade e da tolerância da população.
Em 1964, conforme conta e mostra a história, diante da bagunça generalizada, inclusive com a inversão da ordem hierárquica dentro dos quartéis, o povo decidiu se mobilizar pela tomada do poder pelos militares, para que também fosse evitada a implantação do comunismo no Brasil, fato que teria por objetivo tão somente as imediatas organização da bagunça e retomada da ordem pública, como realmente aconteceram, mas isso levou tanto tempo para ser concluído que até hoje há questionamento sobre o porquê que o gosto dos militares pelo poder não se encerrou com menor tempo, que terminaram saindo da labuta levando consigo legado de bastante desgaste que ainda perdura e uma lacuna representada pelo cumprimento incompleto do dever, tanto que há o apelo pelo seu retorno, naturalmente para completar o seu trabalho.
Na verdade, a demora da saída dos militares foi crucial para o Brasil, porque muitos arruaceiros opositores do regime militar, mais tarde, tomaram conta do país e gosto pelo poder, como mostram os fatos e o desastroso resultado é exatamente o que se percebe na atualidade, com a nação mergulhada em crise atrás de crise e a tendência, por mais grave, é apenas piorar ainda mais a situação, ante à falta de perspectivas de melhoras, a curto ou médio prazos, sobretudo em razão da inexistência de sangue novo nas hostes políticas, em que os brasileiros não enxergam caras novas à frente e ainda são obrigados a votarem nos “Centrões” políticos, recheados de homens públicos completamente implicados com a Justiça, mas não há alternativa exatamente por falta de renovação política.
É natural que muitos brasileiros tenham inclinação favorável à intervenção militar, mais especificamente pelo regime militar propriamente dito, como eles dizem aquilo pensando nisto, ou seja, no regime militar de verdade, com amplos poderes para as Forças Armadas promoverem as devidas correções de rumo, em busca da ordem pública, assepsia política e implantação da moralidade administrativa, mas, à toda evidência, à vista dos exemplos do passado, com seus altos e baixos, ainda é preferível que o Brasil seja governado por pessoas civis de bem, imbuídas de dignidade e moralidade que saibam e tenham consciência sobre o verdadeiro valor dos saudáveis princípios democráticos, respeitando sobretudo a soberana vontade popular, em especial os direitos humanos, a livre iniciativa e os conceitos de República e democracia, como fazem normalmente, na essência e com sabedoria, as nações sérias, civilizadas e evoluídas, em termos políticos e democráticos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de julho de 2018

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