A
assessoria do maior político brasileiro divulgou vídeo em que ele se compara a
Tiradentes, o notável mártir da Inconfidência Mineira.
No
vídeo, o político afirma que "o
herói não foi o cara que enforcou o Tiradentes. O enforcado é que virou o herói".
O
político afirma também que entrará para a história como o presidente que mais
fez pelo Brasil, mas "Não sei se
eles vão entrar para a história como juízes ou algozes", em referência
aos juízes das primeira e segunda instâncias, que o condenaram.
O
político se encontra preso desde 7 de abril último, na carceragem da
Polícia Federal, em Curitiba (PR), em cumprimento à condenação de doze anos e um
mês de prisão, em razão dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, referentes
ao caso do tríplex do Guarujá, litoral de São Paulo.
Como é notório, normalmente, o mártir é alguém
como o Tiradentes, que foi submetido a extremos sacrifícios, torturas, outras
agressões físicas ou até mesmo à morte, por um ideal nobre em benefício da
sociedade, a exemplo do que aconteceu com o inconfidente mineiro.
Nosso herói nacional, o mártir Tiradentes foi
bárbara e cruelmente sacrificado por ter se insurgido contra a decretação da
derrama, uma medida administrativa que permitia a
cobrança forçada de impostos, que foram chamados pelo “quinto”, que
correspondia a 768 arrobas de ouro em impostos atrasados, mesmo que isso fosse preciso
prender o contribuinte, cuja medida tinha a incumbência do então novo
governador da Capitania controlada por Portugal.
Agora, convenhamos, parece muito estranho que
alguém se autointitule herói ou mártir, pasmem, somente porque foi condenado à
prisão e se encontra encarcerado, em decorrência da prática dos mencionados
crimes, cuja autoria sobre os fatos denunciados à Justiça não foram justificados
na forma legal, por meio de provas juridicamente válidas.
Como é sabido, não bastava somente a declaração
de que o acusado não é proprietário do imóvel em questão, diante da falta de
registro cartorial, porque esse fato a Justiça tinha plena ciência, visto que o
cerne da querela judicial envolve o crime de ocultação de patrimônio, com base
em testemunhas, fotografias, documentos, demonstrativos e planilhas referentes
a despesas, com fortes vinculações do acusado e seus familiares com o bem
objeto da demanda judicial.
Não
há a menor dúvida de que a comparação com mártir histórico, herói nacional, de
político que é considerado e cognominado pelo Ministério Público Federal o
comandante de organização criminosa que, em cujo governo, conseguiu promover aparelhamento
da Petrobras, para desviar recursos da petrolífera, com destinação para o
financiamento de projetos pessoais e político-partidários, não tem o menor
cabimento, em termos de bom senso, razoabilidade e plausibilidade.
Diante
do lamentável e triste momento da sua vida pública, que seria melhor
compreendida se ele tivesse, ao contrário da jactância, a singeleza, a grandeza
e a sensatez de confessar, admitir e reconhecer as suas falhas, evidentemente
abdicando de seus sonhos e projetos políticos, porque estes já se perderam nos
torvelinhos e no lamaçal da podridão tecida nas entranhas das ideologias
degenerativas que resultaram na sua própria imagem política, que ainda persiste
com base em inexplicável e arraigado fanatismo construído por meio de
estratégia e marketing sem fundamento plausível e sustentável.
Trata-se
de monstruosa irracionalidade que alguém nessas condições de indiscutível
decadência política tenha a insensibilidade de se autodenominar mártir da
pátria, quando seria muito mais condizente com a realidade fática se o político
tivesse a sensatez de se autointitular traidor da pátria, em razão da sentença
condenatória que foi prolatada com base nas provas consubstanciadas na
materialidade da autoria dos fatos objeto da denúncia de que trata o caso do
tríplex, tendo em vista que mais de vinte advogados renomados, todos da maior
competência jurídica, não conseguiram produzir defesa à altura dos fatos, com capacidade
e suficiência para se infirmar os fatos pelos quais o político foi condenado à
prisão.
O
simples fato de o político se considerar o presidente que mais fez pelo Brasil não
significa que ele possa se autopromover ao honroso título de herói nacional nem
se imaginar que tem sido tratado como injustiçado ou vítima por algozes, porque
é preciso que ele entenda de vez por todas que, se a sua gestão foi considerada
exitosa por ele, houve nela tão somente o cumprimento da obrigação de
administrar a coisa pública na melhor forma, em consonância com o dever de bem
exercer o cargo público eletivo para o qual se comprometeu, o que não significa
que isso mereça tratamento diferenciado, especial ou cousa que o valha, nem por
parte da Justiça e muito menos diante do ordenamento jurídico, que tem como
princípio fundamental de que os brasileiros são iguais em obrigações e direitos
perante a lei, o que vale dizer que ninguém está acima da lei e muito menos poder
ser merecedor do privilégio de deixar de ser julgado pela Justiça, na forma da
lei.
É
preciso que os brasileiros se conscientizem de que o que houve no governo do
político preso foi exclusivamente a priorização de políticas públicas com a
distribuição de renda entre os pobres, no âmbito do dever do Estado de suprir as
carências das famílias carentes, em forma de assistência social, que tem sua
importância social, mas é inegável e incontestável que essa forma de sistema
extremamente populista teve o perverso viés oportunista objetivando à formação
da consciência desse povo de que somente ele teria sido capaz de enxergar a
pobreza, carência e miséria.
É
evidente que não fosse a estratégia muito bem planejada e executada da formação
de currais eleitorais, como forma de recompensa pelo fomento das políticas
assistencialistas, certamente que os mais de cinquenta milhões de brasileiros
não estariam sendo mantidos em programas que não produzem nem contribuem para o
desenvolvimento socioeconômico, porque o governante com o mínimo de competência
e eficiência administrativa teria priorizado, em concomitância aos programas
assistencialistas, outros que privilegiassem investimentos que resultassem na
industrialização e desenvolvimento econômico nas regiões Norte e Nordeste, como
forma natural da indispensável criação de empregos e da diminuição dos encargos
onerosos dos programas meramente assistencialistas, que são mantidos em
condições de notória precariedade, à vista da falta de controle e fiscalização
quanto à efetividade da sua execução, quando se sabe que há muitos
beneficiários que não se enquadram nas exigências previstas na legislação de
regência, conforme, vez por outra, é denunciado por auditoria do próprio governo.
Ademais,
o simples fato de alguém se considerar herói nacional já é mais do que
sintomático de que o resultado da sua gestão tem sido mostrado como se fosse
algo extraordinário, quando análise sem exagero indica apenas que a sua
administração pode ter sido uma das piores e extremamente prejudiciais aos
interesses nacionais, notadamente porque, tirante a preocupação com a
distribuição de renda, não houve a realização de obras públicas de destaque.
A
bem da verdade, ressalve-se a transposição do Rio São Francisco, que apenas teve
início no seu governo e se arrasta até quando, consumindo rios de recursos
públicos, e também deixaram de ser promovidas as tão necessárias e prometidas reformas
das conjunturas e estruturas do Estado, quando, ao contrário, verificou-se o
turbinamento da máquina pública, com a criação de mais de 40 empresas públicas,
que dão bilhões de prejuízos aos cofres públicos, o aumento de mais de dez
ministérios, o vertiginoso crescimento da quantidade de servidores públicos,
passando de 35 mil para 105 mil, entre outras precariedades que contribuíram
para que o país apenas regredisse e contabilizasse rombos extraordinários nas
contas públicas, em razão das mazelas.
Uma
questão que precisa ser chamada a atenção dos brasileiros diz respeito aos
financiamentos concedido dos governos anteriores, para que países normalmente
comandados por ditadores, a exemplo de Cuba, Venezuela, nações africanas, entre
outras, realizassem importantes obras com recursos oriundos do suor dos
contribuintes brasileiros, normalmente a fundo perdido, como no caso da
Venezuela, que, recentemente, deu calote ao Brasil, deixando de pagar a sua dívida
e obrigando que o Tesouro brasileiro fosse recomposto com recursos do Seguro
Desemprego, conforme Medida Provisória convertida em lei pelo Congresso
Nacional.
Certamente
que nenhum herói nacional seria capaz de financiar obras no exterior, quando o
Brasil ressente das mesmas obras e de outras importantes à satisfação das
imperiosas necessidades de serviços públicos, que não foram implementados por
falta de recursos, mas para aqueles países não faltaram dinheiro, que foram liberados
com a ajuda do principal político brasileiro, que, a troco de palestras
milionárias, em valores superiores a trinta milhões de reais, fazia as vezes de
lobista, para facilitar a concessão desses empréstimos a governos estrangeiros,
ou seja, o político se aproveitava dessa sistemática de negociação entre
empreiteiras brasileiras, principalmente a Odebrecht, e nações cujos
presidentes eram da sua relação de amizade, em que a sua influência ajudava a
liberar os recursos junto ao BNDES, segundo revelação da força-tarefa da
Operação Lava-Jato.
É
evidente que os idólatras não enxergam nessas transações espúrias e
inescrupulosas nenhuma irregularidade, embora seja cristalina a forma nada
republicana de se emprestar dinheiro dos brasileiros para o exterior, quando
tais recursos deveriam ser primacialmente investidos em obras para o usufruto
dos brasileiros, que são extremamente carentes daquelas obras públicas
construídas fora do país.
A
verdade é que os brasileiros precisam se conscientizar de que convém que não
seja visto somente caso que pode ter sido importante na gestão do político
preso, porque os fatos prejudiciais que foram implementados ou deixaram de ser
realizados precisam ser também sopesados, como forma de avaliação sobre o
conjunto da obra, sem desmerecer o que foi realizado, mas sobrelevando o tanto
daquilo que poderia ter sido feito em benefício do país e dos brasileiros.
Veem-se
um líder extremamente capenga, que insiste em ser reconhecido como herói
nacional, tão somente enaltecendo algo que possivelmente teria feito senão no contexto
da normalidade e da obrigatoriedade do exercício do mandato popular, por força
do dever de trabalhar em benefício exclusivamente do povo que o elegeu, sem
qualquer forma de recompensa, que tem sido cobrada, de forma reiterada e
exaustiva, sempre que se refere ao
mandato, sem ter a sensibilidade ínsita e indissociável dos grandes estadistas
do apego ao princípio da humildade de também reconhecer suas fragilidades e
falhas, absolutamente normais nas atividades político-administrativas.
Os
fatos nebulosos passam ao largo de quem pretende alçar ao pedestal dos heróis
nacionais, justamente porque não faz o menor sentido se comentar ou até mesmo,
embora imprescindível, sobre a corrupção endêmica e sistêmica enraizada no
famigerado petrolão, conforme exaustivamente dissecado pela Operação Lava-Jato,
tendo por base dezenas, centenas, de delações premiadas, investigações da
Polícia Federal e do Ministério Público, entre outros elementos de prova da
ladroagem, que resultaram até o momento em condenações penais de diversos
inescrupulosos lideranças partidárias, políticos, executivos, empresários e outros
ladrões assemelhados, todos com a marca indelével da escrachada roubalheira
disseminada contra o patrimônio público.
A
verdade é que, à luz da moralidade e da dignidade públicas, os fatos
concentrados nas irregularidades e corrupção que sufocaram a administração do
país, que são absolutamente reais e inquestionáveis, não somente justificariam,
de forma inapelável e inexorável, pesadas e exemplares condenações às pessoas
envolvidas, como instrumento extremamente necessário em uma República com o
mínimo de decência e seriedade, nas circunstâncias, para servir de importante
lição às gerações de políticos, mas em especial para a eliminação, em
definitivo, do cenário político não apenas deles, mas dos partidos políticos a
quem eles são filiados, considerando que é terminantemente imprópria a filiação
de criminosos a agremiações, conquanto as suas saudáveis finalidades
estatutárias não contemplam situação de clara degeneração das atividades
político-partidárias.
Os
brasileiros precisam se indignar, com o máximo de veemência, contra político
que perde o raciocínio lógico, a compostura e a polidez em se autovangloriar
como o melhor presidente da história republicana, só por ter liderado a
potencialização da distribuição de renda de forma prioritária, embora, não por
isso, mas por notória incompetência administrativa, os demais programas de
governo não tiveram nenhum ganho em termos de desenvolvimento alcançado na sua
gestão, que não passou de verdadeiro voo de galinha, porque o pseudo
crescimento sumiu no desastrado governo seguinte, que ficou marcado com a
recessão econômica, o desemprego, as altas taxas de juros, entre tantas outras
mazelas e precariedades que constituíram triste e lamentável legado para os
brasileiros.
Convém que os brasileiros conscientes sobre os
verdadeiros significados dos princípios republicanos pertinentes à ética, à
moralidade, ao decoro, à dignidade, à transparência e principalmente à extensão
da idoneidade na gestão dos recursos públicos, demonstrem amor ao Brasil, ao se
expressarem em extremado repúdio aos péssimos políticos que foram alçados, pelo
sufrágio universal, aos píncaros do poder e dele conseguiram sugar o tanto que
puderam em benefício próprio e de seu grupo político, tendo por objetivo a
absoluta dominação das classes política e social, além da tentativa da
permanência no poder, por meio do qual foram exercidas espúrias influências em
todas as esferas da administração direta e indireta da República, conforme
mostram as investigações e os levantamentos realizados pela Operação Lava-Jato,
que desvendou e mostrou os caminhos percorridos pelas sujeiras entranhadas na
administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de julho de 2018
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