sábado, 14 de julho de 2018

Imperdoável equívoco político


Parece incrível, mas tudo indica que a ex-presidente da República afastada do Palácio do Planalto por crime de responsabilidade, à vista das “pedaladas” fiscais, ou mais popularmente rombos nas contas públicas, está de volta às lides eleitorais, na tentativa de testar a capacidade e a paciência não somente dos mineiros, mas também dos brasileiros, por ter decidido se candidatar a uma vaga ao Senado Federal, pelo seu estado natal, as Minas Gerais.
É inacreditável que o seu repentino e surpreendente reaparecimento no cenário político já indique que ela desponta como candidata ao Senado com reais potencialidades e chances de ser escolhida pelos eleitores mineiros, posto que as pesquisas de intenção de voto revelam que ela está, pasmem, na dianteira dos demais pré-candidatos ao cargo senatorial, sob o slogan, batizada que fora, de novamente, como “mãe dos pobres”.
Diante da inusitada preferência manifestada pelos conterrâneos, é até bem provável que ela se lance candidata ao governo do Estado, porquanto ainda não foi batido o martelo sobre a melhor estratégia eleitoral que ela teria condições de se sagrar vencedora, se ao cargo de senadora ou de governadora, a depender dos caciques do partido.
De qualquer forma, as lideranças petistas enxergam que a candidatura da ex-presidente é um “ás” na manga muito forte, que poderá ser usado para alavancar a posição do partido naquele Estado.
Não há a menor dúvida de que é muito difícil compreender a incrível patologia dos brasileiros, de ignorar por completo, sabe-se lá por qual motivo, as lições e os erros do passado recente, a exemplo do legado da ex-presidente que foi defenestrada da Presidência da República justamente não somente por ter descumprido regra essencial da administração orçamentária e financeira, mas especialmente por ter seu governo atingido nível inusitado de descrédito e desconfiança da população, diante das terríveis mazelas consistentes em má administração que resultaram em forte recessão econômica, desemprego, taxas de juros altíssimas, inflação acima da meta, desindustrialização, baixa arrecadação, falta de investimentos em obras públicas, péssima prestação dos serviços públicos, entre tantas outras precariedades incompatíveis com a razoável gestão dos recursos públicos.
Agora, o fato pior e lastimável é que os mineiros demonstram menosprezo histórico visivelmente terrível e impróprio para o político, ao insistirem na recolocação na ativa, em cargo público eletivo da mais relevante posição da República, como que passando esponja em passado tenebroso e de desastrosa contribuição para o Brasil, na vã esperança de que essa cidadã possa ter algo em defesa dos brasileiros, quando as experiências recentes não garantem senão estrondosa decepção.
No passado não muito distante, o país Brasil foi obrigado a experimentar situações de aprendizagem que deixaram como legado verdadeiras bagunça e esculhambação na administração do país, tendo, como consequência, altíssimo ônus a pagar, a exemplo do que foi cognominado como o célebre poste do maior líder petista, que é também lembrada pelas anedotas e por lições nada modelares, como as “célebres” frases  em referência à estocagem de vento, saudação à mandioca, respeito ao ET de Varginha, entre outros tropeços linguísticos do tipo “mulheres sapiens”, além de ter sido a presidente que conseguiu, literalmente, conduzir o país ao píncaro da bancarrota, principalmente com relação aos princípios econômicos, posto que todos os indicadores fugiram do seu controle e os resultados foram os piores possíveis e imagináveis.
          Diante do resultado da avaliação de desempenho como gestora de recursos públicos, sua pretensão de retornar à vida pública não passa de verdadeira aberração política, visto que seus predicativos não encontram o menor respaldo, à luz do bom senso e da razoabilidade, tendo em vista, em especial, a premência sobre a necessidade de melhora na qualidade dos representantes do povo, como forma de oferecer algo em benefício da defesa da população e isso certamente a ex-presidente já demonstrou sobejamente que não pode oferecer, ante o seu histórico como sofrível administradora da nação, tanto que o seu afastamento do Palácio do Planalto apenas confirma essa lastimável e indiscutível assertiva.
O certo é que o variado e gigantesco leque de motivos sinalizam que não passa de grosseira aberração o retorno da petista à atividade política, visto que o país, há pouco tempo, já teve a péssima experiência administrativa, por ter colocado a economia exatamente no abismo e sem a menor perspectiva, por ter sido responsável, no seu governo, pela devastadora recessão de todos os tempos, além de que foi na sua gestão que os saqueadores dos cofres públicos protagonizaram a farra por meio da roubalheira na Petrobras, tendo conseguido quebrar a estatal de ouro, com a ladroagem monstruosa e impiedosa, fatos que se recomendam que essa cidadã jamais sequer cogitasse, em hipótese alguma, retornar à cena política, porque isso é apenas verdadeiro retrocesso das atividades político-administrativas e contribuição ao penoso deslustre do poder, que já perdeu o brilho há muito tempo.
Ademais, vista a questão ainda sob o prisma da legalidade, a candidatura da petista ainda precisa atravessar e até superar o ranço que não pode ser esquecido, por que remanescido do seu impeachment, quando o texto constitucional enfatiza o atrelamento desse ato à perda dos direitos políticos, por oito ano, que não poderia ter sido menosprezado por simples declaração da comissão especial incumbida desse mister, senão por emenda constitucional, daí a ilegitimidade do ato questionado.
É consabido que consta na Carta Magna, letra seguida por letra, a descrição do crime e da respectiva pena decorrente da cassação, mas o presidente da comissão de impeachment, de forma mais absurda e estapafúrdia, houve por bem construir inusitada gambiarra jurídica, no sentido de a aprovação da perda do cargo presidencial sem a devida inabilitação política, contrariando visceralmente a prescrição constitucional, o que não passa de cristalina aberração jurídica, permitindo que a presidente deposta ficasse, mesmo de forma ilegítima, apta a participar normalmente de disputas eleitorais, em que pese o clamor de diversos juristas denunciando a necessidade da impugnação dessa monstruosidade jurídica.
Não há a menor dúvida de que, nas circunstâncias, o ressurgimento da ex-presidente petista, como candidata ao Senado, demonstra, na prática, equívoco e deformação política, além de forçação de barra, enormes dificuldades e desânimos por parte do eleitor para encontrar e direcionar para seus lídimos representantes políticos as lideranças naturais, porque elas realmente são inexistentes, na atualidade, por não ter havido a necessária renovação da classe política, ficando preso a essa cruel realidade de se voltar para pessoas indiscutivelmente sem as melhores condições e qualidades exigidas para o desempenho de funções políticas, em especial os cargos da maior relevância.
À toda evidência, os mineiros sabem melhor do que ninguém que as experiências têm o condão de contribuir não somente para não repetir os mesmos ou piores erros como para as imprescindíveis mudanças de rumo, como forma de se buscar melhores resultados em benefício da população.
Diante do exposto, não há a menor dúvida de que existem vastíssimos motivos e justificativas, à vista do histórico político e principalmente do legado administrativo, de que a candidatura da presidente do país afastada do cargo por crime de responsabilidade, com base em procedimento legitimado pelo Poder Judiciário, por não ter acolhido nenhum recurso por parte dela, contrário ao impeachment, representa a síntese da excrescência política, que exige dos eleitores mineiros o indispensável repúdio nas urnas, não permitindo que essa monstruosidade político-eleitoral se torne mais um transtorno para os brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de julho de 2018

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