domingo, 15 de julho de 2018

Respeito à coisa pública


A presidente da Croácia, país de pouco mais de quatro milhões de habitantes, se destacou na Copa da Rússia por suas modéstia e simplicidade, em ter se passado como pessoa comum do povo, nos jogos da seleção de seu país, que foi uma das finalistas, tendo conseguido o vice-campeonato.
Ela chamou a atenção da imprensa por fazer parte, no popular, da galera das arquibancadas, torcendo, como qualquer fã de futebol, junto com os demais torcedores de seu país, deixando de lado a sua posição relevante de mandatária de seu país.
          Após a classificação inédita para a final da Copa, ela postou em seu Facebook uma foto dela, acompanhada da seguinte frase: Svi kao jedno za Hrvatsku (todos como um só pela Croácia, em tradução livre).  
Ela demonstrou sua paixão pelo Futebol, tendo acompanhado, nos estádios, os jogos da seleção croata, sem se importar com a liturgia dos protocolos oficiais, porque ela prefere as arquibancadas aos camarotes, sempre muito bem uniformizada com o tradicional quadriculado da aguerrida seleção de seu país.
Após a classificação da Croácia à semifinal, em que eliminou nos pênaltis a anfitriã Rússia, a presidente croata foi flagrada comemorando com jogadores e membros da comissão técnica, aos pulos e entoando, junto com eles, o cântico "chame, apenas chame/todos os falcões/eles darão a vida por você" (em tradução livre).
Além da demonstração de simplicidade de se agrupar ao público para torcer, ela vem se destacando também pela dispensa do dinheiro público para custear as despesas pessoais com os transportes e os ingressos, ou seja, ela apenas demonstra, o que é normalíssimo sobre a importância e o real valor do dinheiro público.
Por sua vez, considerando que a viagem não é a trabalho, a presidente croata providenciou desconto de seu salário com relação aos dias de afastamento do trabalho.
Na foto que foi compartilhada na sua página na internet, em que apareceu no avião comercial ao lado de vários torcedores, ela escreveu: "Vamos para a vitória" e, desta vez, a seleção da Croácia venceu a Dinamarca.
Um dos torcedores com quem ela viajou comentou o fato à agência de notícias Tass, da Rússia, que “ela gosta do esporte, e o que ela está fazendo é algo normal para um presidente. Ela pegou um voo com pessoas comuns, cumprimentou a todos. Eu gosto disso. Somos um país pequeno, mas é como um time.”.
Na partida contra a Seleção da Rússia, a presidente croata foi identificada nas arquibancadas e imediatamente levada para a tribuna de honra da Fifa, onde estava o presidente da entidade e outras autoridades, tendo comemorado normalmente a vitória da seleção de seu país.
De tão espetacular e extraordinário para o país tupiniquim, a reportagem em comento até que poderia ser bem-vinda para cá e poderia ser leitura obrigatória de todos quantos ocupem cargos públicos eletivos no Brasil, para perceberem como é comum e normal que os políticos possam se despojar de suas vaidades e opulências e simplesmente se tornarem pessoas realmente  comuns, que têm dignidade e humildade de ser apenas o que precisam ser pessoas do povo, com os mesmos pensamento e sentimento iguais aos dele, evidentemente guardadas as proporções quanto à liturgia da importância dos cargos que ocupam no governo, que nem por isso elas precisam ficar metidas a besta como ocorre normalmente no país tupiniquim, em que os políticos tão logo se elejam se tornam autoridades e se acham os donos não somente do poder, mas em especial do erário, exigindo não somente exagerados respeito e tratamento de Vossa Excelência, mas todas as benesses, vantagens e mordomias absolutamente injustificáveis pelo tão pouco que fazem em benefício do povo, como se eles fossem verdadeiros suprassumos e ocupassem outro planeta.
A atitude da presidente da Croácia se coaduna tão somente com a cultura de país sério, civilizado e evoluído, em termos culturais, políticos e democráticos, em que o povo se sente muito bem com a forma natural e normal do seu mandatário, se passando por pessoa comum e igual a ele, que não poderia ser de outra forma, porque o poder emana dele.
No caso, a diferença que precisa ser observada é que o exercício do cargo público conta com a vontade popular, para a prestação de serviços para o povo e, por isso, não pode cometer o suicídio de achar que é superior a ninguém e muito menos reivindicar benefícios, privilégios e vantagens absurdas, injustificáveis e abusivas, como fazem desavergonhadamente muitos políticos brasileiros, que deveriam ter o mínimo de sensatez e sensibilidade para enxergarem que o bom servidor público é aquele que exerce o seu cargo eletivo nada mais como agente que trabalha para bem do serviço do público, prestando serviços para a população, apenas mediante o recebimento da remuneração básica, justa e compatível com a relevância dos cargos ocupados por eles, sem o menor cabimento do acréscimo de verbas de representação, auxílios, ajudas e outros agregados e penduricalhos absolutamente indevidos e injustificáveis.
A conduta digna e exemplar da presidente da Croácia apenas ajuda a compreender o quanto o Brasil está atrasadíssimo, em termos de administração pública, e ainda precisa que o seu povo se esforce bastante para avançar o necessário para se atingir o nível dos países sérios, civilizados e evoluídos, em relação ao sentimento de verdadeiro patriotismo e valorização da coisa pública, que, como o próprio nome já diz, precisa ser realmente patrimônio público, mas muitos políticos tupiniquins o confundem descarada e propositalmente como sendo propriedade particular, que pode ser abusado sem controle e sem limite, já que é coisa do público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de julho de 2018

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