segunda-feira, 6 de julho de 2020

"A educação está horrível no Brasil"


O presidente da República, em resposta a uma apoiadora que se apresentou como representante de escolas particulares, afirmou que a educação brasileira está em situação “horrível”.
A professora relatou ao presidente do país que “a área está definhando no Brasil”.
No que foi retrucado por ele: “Está definhando? A educação está horrível no Brasil”.
Corroborando a declaração do presidente, especialistas alertam que o sistema educacional brasileiro enfrenta problemas históricos e que, neste governo, os ministros que ocuparam a pasta nada fizeram para reverter o quadro desesperador da educação.
A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas afirmou que “A educação brasileira tem graves problemas. Dois deles são uma profunda desigualdade educacional e uma crise de aprendizagem. O país demorou para universalizar o acesso à educação e foi um dos últimos a agir nesse sentido na América Latina. Não é que vinha bem e ficou ruim e, agora, tende a se resolver. Desde a década de 1930, já éramos inferiores a outros países da América Latina. Em meados dos anos 1990, avançamos, com a entrada das crianças na escola. Sabemos que a educação não está bem, pois aprendemos a avaliar os resultados. Fizemos uma série de melhorias recentemente. E a cada edição no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), o 5º ano vem melhorando em aprendizagem. O 9º ano, nas três últimas. Alguma coisa começou a ir na direção correta. Mas, após uma gestão de guerra ideológica, se perdeu um ano e meio de avanço.”.
A mencionada diretora disse, em teor de crítica, que o último ministro deveria ter se concentrado no Plano Nacional de Educação (PNE), “Mas não resolvemos. E vem a pandemia, e a desigualdade educacional e a crise de educação serão aprofundadas. A educação não está ‘horrível’. Está em um estágio muito atrasado, e o que precisava ser feito foi substituído por disputas ideológicas”.
Por sua vez, um sociólogo e professor emérito da Universidade de Brasília ironizou o comentário do presidente brasileiro, tendo dito: “Eu acho que, informalmente, ele tem toda razão. A educação está horrível, e os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) são péssimos. Em 2017, só 9% aprenderam matemática. É uma escola que não funciona.”. 
Para se ter apenas ideia sobre o momento crucial e precário da educação brasileira, acaba de ser divulgado o Relatório do 3º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE,  no qual são mostrados os dados do desempenho da educação no país, com relação a 20 metas estipuladas no plano.
O percentual de matrículas da educação de jovens e adultos, na forma integrada de educação profissional, figurou como o  pior resultado, tendo apenas 6,4% do alcance da meta, enquanto a procura de docentes com mestrado ou doutorado na educação superior chegou a 108,4% do alcance do objetivo previsto.
Outro resultado importante foi a concessão de títulos, que superou a meta de 60 mil, tendo alcançado 64.432.
A professora da Rede Pedagógica considera que os resultados, no geral, são classificados como “tristes”, mas eles situam-se dentro do esperado, tendo afirmando, em tom de lamento, que: “Das 20 metas, apenas uma foi alcançada, que, na verdade, ocorreu em 2018. Então, já tem um bom tempo que estamos até retrocedendo em relação às metas”.
A professora entende que a falta de investimento é um fator preocupante nesse cenário, como deve ser com relação aos demais aspectos da educação, que não tem como funcionar, como precisa, se não há o mínimo interesse do governo em priorizar as políticas pertinentes a ela, de modo que sejam levantados e superados os gargalos existentes, como no caso das metas do PNE, que somente uma de vinte foi executada e mesmo assim não manteve a sua performance, foto este que exige cuidados especiais por parte do governo, na perspectiva de seja possível o reerguimento da educação, na sua estrutura e no seu conjunto, mediante a adoção de medidas de extrema prioridade para a área.
É muito desalentador que a educação do país esteja horrível, em condições de precariedade sentida normalmente pelos brasileiros, assim considerada também pelo próprio mandatário da nação, que é o principal gerenciador das políticas públicas e tem o poder nas mãos para estabelecer as metas prioritárias a serem executadas na sua gestão, o que vale dizer que, se ele quiser e tiver interesse em mudar o que causa horror, há como se alterar esse quadro inaceitável das atividades de suma importância para o desenvolvimento tanto da educação como da população.
Em se tratando de área sensível e essencial à formação cultural e educacional do povo e esse grau de importância é reconhecido pelo conjunto da sociedade, causa enorme perplexidade que o presidente da República não se sensibilize no sentido de mostrar interesse em modificar esse quadro que conspira não somente contra ele, mas, em especial, o Brasil, que tem todas as condições para mudar, por completo, situação crônica e eterna de aceitação do que é drasticamente abominável e prejudicial ao povo e ao país.
Parece incrivelmente inacreditável que o presidente do Brasil possa aceitar serenamente que a educação seja horrível e não acene por iniciativa pertinente, em termos de viabilização do saneamento desse gravíssimo problema, fato esse que demonstra espantosa e condenável desídia por parte de quem somente pode resolver o que realmente vem funcionando de maneira ineficiente, precária, onerosa e denunciadora de visível mediocridade e, o pior, sob às expensas dos sacrificados contribuintes.
O certo é que a reforma da educação brasileira, por tudo de atraso que ela representa, em termos de distanciamento da modernidade já alcançada pela humanidade, em especial, os países evoluídos, na área do conhecimento, não tem mais espaço para se esperar por dias melhores ou outras condições, porque já foi perdido muito tempo para que isso já tivesse acontecido.
Os brasileiros imploram por que o presidente da República se digne a se interessar, em termos de metas efetivas, pela valorização do ensino e da educação brasileiros, mediante o estabelecimento de projetos específicos e prioritários para a sua imediata reformulação, a começar pela nomeação do ministro com o perfil de renomado conhecedor da área, com formação, experiência e conhecimento capazes de compreender com facilidade os arraigados e crônicos problemas sobre os assuntos da incumbência constitucional dessa pasta e que esteja vocacionado e interessado em se dedicar à promoção de verdadeira revolução no que for possível para que o Brasil tenha educação de qualidade.
          Brasília, em 6 de julho de 2020

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