A Câmara de Vereadores de Uiraúna aprovou, por
unanimidade, a abertura de crédito adicional, em atendimento à solicitação do
prefeito da cidade, no
valor de aproximadamente quinhentos e quarenta mil reais, que se destina, nos
termos da justificativa municipal, à reforma do edifício sede da Secretaria
Municipal de Saúde, cujo prédio, depois de renovado, passará a funcionar o que
foi denominado de “Hospital Municipal de Uiraúna”.
Em
análise mais fria sobre essa importante questão, as atenções da população se
voltam, a partir de agora, para a efetiva suplência dos serviços inerentes à saúde
pública, conforme o esperado por todos.
A respeitável decisão em referência, sob a
ótica de quem defendia a construção de hospital de verdade para Uiraúna, no
entendimento de que o seu povo merece algo de qualidade bem superior ao projeto
concebido pelo gestor público, que se mostra extremamente distanciado de
unidade de saúde completa, moderna e bem equipada com múltiplas especialidades
médicas, leitos suficientes à demanda, com materiais apropriados de ponta e
compatíveis com os hospitais regionais públicos, para o atendimento normal da população,
com precisão e qualidade.
Não
obstante, a aludida decisão, que é definitiva e soberana sobre a definição do hospital
que merece o povo de Uiraúna, pode oferecer algumas importantes lições, sob a
ótica da avaliação sobre as possíveis ilações, consequências e repercussões decorrentes
do seu significado.
Em
primeiro lugar, é possível se inferir, com base em dados concretos, que somente
seja possível em Uiraúna, com todo respeito à perspicácia, à inteligência e à
experiência dos homens públicos dessa cidade, se conceber as instalações
adequadas para o funcionamento de “hospital”, que, por certo, se destinará à prestação
dos serviços de saúde pública à população da cidade, com montante de recursos
tão insignificante e irrisório de quase R$ 540 mil, a ponto de se imaginar que,
com tal valor sequer tenha condições para a construção de casa razoável para a
moradia de família mediana de cinco pessoas.
Acredita-se
mesmo que, nessa questão, o pior, o mais grave e terrivelmente doloroso é se
perceber que os homens públicos, os principais políticos dirigentes e líderes
do poder público, que dominam os poderes da cidade, tenham chegado à simplista conclusão
e, ainda por unanimidade, que a população de Uiraúna tem tão somente o
merecimento, para o atendimento da sua saúde, de unidade básica de saúde,
apenas com instalações melhoradas e ampliadas, em relação às já existentes na
cidade, com a alguma possibilidade da existência de alguns médicos e equipamentos
a mais do que às demais do gênero.
Diante
disso, causa enorme perplexidade não haver a voz de nenhum homem público, um
médico, um empresário, um operário, um cidadão contrário ao chamado “hospital”
planejado pela prefeitura, mesmo diante da sua aparente timidez e notórias limitações
para unidade de saúde com essa finalidade, que, em princípio, se imaginava,
pelo menos no meu caso, que o povo de Uiraúna merecia o hospital e jamais esse
que acaba de ser definido pelos ilustres homens públicos, todos felizes e
contentes com a sua verdadeira obra-prima, que apareceu se encaixar
perfeitamente nos seus projetos políticos da situação e da oposição, à vista do
semblante em delírio de todos, ante as colocações afirmativas deles, em
escancarada unanimidade.
Essa
minha insistência com a argumentação de hospital de verdade tem como
justificativa, com bastante fundamento de inglória persuasão, a longa demora da
privação dos serviços de saúde pública na cidade, que precisava sim ser ao
menos recompensada com gesto da maior nobreza, em termos desses serviços em
grau elevado e condizente com a grandeza da população.
Malgrados
os melhores presságios nesse sentido, o sentimento que se tem, à toda evidência,
é o de que os políticos da oposição estão realmente maravilhados e com o moral
nas alturas, radiantes por terem, como forma responsável, como assim alegam,
aprovado a abertura do crédito especial do valor de quase R$ 540 mil, destinado
à reforma de prédio com área de quase 1.000 m2, que é inferior a um vão do
edifício onde moro, em cristalina demonstração de gloriosa vitória para o povo
de Uiraúna, contando, certamente com a sua compreensão por algo que certamente será
explorado e aproveitado, em termos políticos, pelo autor do projeto mágico, sob
a alegação de ter a iniciativa do “hospital” para o seu povo.
Ou
seja, agora, a oposição, toda radiante e feliz, por ter aderido, sem a menor
resistência e sem se atinar para as armadilhas preparadas contra si, ao “maravilhoso”
projeto do prefeito, que vai puder subir aos palanques e anunciar aos quatros cantos
que a iniciativa do “hospital” é dele e por isso merece ser reeleito, para
continuar realizando grandes obras para o povo, a exemplo desse “esplendoroso hospital”.
O
prefeito também poderá dizer ao povo, na campanha eleitoral, que somente ele
tinha projeto para a melhoria da saúde pública, porque, se alguém tivesse
alguma ideia nesse sentido, mesmo nessas condições medíocres, à visto do que
penso para meus conterrâneos, certamente que jamais teria aprovado o crédito
adicional senão depois da eleição, com a proclamação do resultado das urnas.
É
inacreditável que, nas circunstâncias, à vista da necessidade de se evitar a
quebra da igualdade entre os candidatos, o prefeito, que é candidato natural à reeleição,
ter conseguido autorização para abrir crédito adicional para possibilitar início
de obra que é considerada verdadeiro milagre, em termos de saúde pública, logo na
proximidade do pleito, justamente graças ao poderoso apoio da oposição, que
ainda conta vitória por seu ato heroico de liberar obra que vai se transformar
em precioso trunfo para a campanha eleitoral dele e disso ninguém se iluda,
porque o povo avalia ato concreto.
Acreditando-se
que a realização de obra de peso, concomitantemente com o pleito eleitoral, em
especial referente à saúde pública, onde ela inexiste, jamais seria possível em
qualquer outra cidade fora de Uiraúna, tendo logo a aquiescência da oposição, com
rara facilidade, à vista do visível favorecimento concedido dada de mão beijada
ao autor da ideia.
Nas
circunstâncias, a verdade precisa ficar consignada, ao meio dessa estranha e
incontida euforia, é que parece muito mais alívio para os políticos que não
tinham projeto decente para a saúde pública de Uiraúna, tanto que aceitou, com
ar de ufanismo, o projeto acanhado, improvisado e acomodado em edificação existente,
com a comemoração se fosse a coisa mais impressionante para o merecimento dos
uiraunenses, que realmente vão ficar eternamente agradecidos, diante do esforço
e do empenho por esse “hospital”, que será de extraordinária importância para a
cidade, cujo povo já até acostumou-se em se sacrificar à busca de assistência
médico-hospitalar fora da cidade e qualquer coisa é sim motivo de aplausos por
parte dos homens públicos, que sempre se mostraram omissos aos anseios da população,
principalmente acerca das carências da saúde pública.
Como
nada entendo de política, fica a impressão de que, depois da certeza de que
Uiraúna terá o “hospital” que os homens públicos acham que o povo merece, ninguém
quer ficar com a imagem suja perante os eleitores, quando a oposição, com medo
de perder a simpatia deles, canta pseudovitória depois da decisão em apreço e não para de alegar, sem perceber seu grave
erro, que nunca foi contrário ao projeto do prefeito, como se ele fosse o melhor
dos mundos, quando ela perdeu excelente oportunidade para apresentar proposta
referente ao hospital de verdade, com melhores condições do que esse encampado
por ela, tendo, com isso, deixado de garantir tranquila vitória no próximo
pleito eleitoral.
Enfim,
se o povo de Uiraúna está feliz e satisfeito com os nobres e bravos homens públicos
que o representam, na melhor compreensão da clássica afirmação de que o povo
tem o governo que merece, resta-me aplaudi-los com o calor do meu amor à minha
terra natal.
Brasília,
em 25 de julho de 2020
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