Circula na mídia notícia de que o prefeito de
Itabuna, Bahia, teria causado enorme polêmica, ao confirmar a flexibilização do
comércio do município, para a próxima semana, sob o argumento de que a autorização
do funcionamento dos estabelecimentos comerciais será permitida mesmo que “morra
quem morrer”.
O polêmico prefeito disse, ipsis litteris: “Primeiro
lutar pela vida, a vida é uma só. Morrer acabou. Não tem fortuna, não tem
pobreza, não tem falência, não tem nada. Não posso abrir uma coisa que não
tenho cobertura. Na há dúvida, com os nossos morrendo por causa de um leito em
Itabuna, vou transferir essa abertura. No dia 8, mandei já fazer o decreto, que
no dia 9 abre morra quem morrer”.
Diante da repercussão negativa e das críticas ao
prefeito, o chefe do Executivo de Itabuna disse que teria sido “mal
interpretado e que está contrariado com a situação do comércio de Itabuna.”.
Há estimativa da prefeitura da cidade que mais de 40 estabelecimentos
comerciais do município não voltarão a funcionar após a pandemia, em razão da
crise financeira.
O governador da Bahia disse "Falei com o
prefeito de Itabuna essa semana. Ele estava predisposto a abrir o comércio.
Pedi que não abrisse. Itabuna estava muito alto um mês atrás. Tomamos medidas
drásticas, o índice caiu para 2%, mas voltou a crescer. O alimento do vírus é a
convivência social. Você fecha, o vírus despenca, você abre, o vírus acelera. É
matemática. Pedi que não abrisse essa semana, e ele não abriu. Mas ele tem se
sentido pressionado, tem uma voz nacional que diz para abrir, que ganha apoio
de comerciantes, com medo de quebrar. Sob pressão, as pessoas saem do ponto,
perdem o equilíbrio. Falei come ele ontem, está no quinto mandato, tem quase 80
anos, me disse que nunca viveu uma situação como essa, que nunca se sentiu tão
pressionado".
Na última semana, a previsão da prefeitura de
Itabuna era colocar em prática a flexibilização das atividades comerciais a
partir de 1º do corrente mês, mas essa
medida foi adiada diante da constatação de que o município registra 100% de
ocupação dos leitos de UTI, para pacientes infectados pelo Covid-19.
Fora de dúvida, é criminosa a intenção do prefeito
de Itabuna, porque ela, nas palavras dele, tem o sentido da premeditação,
quando ele diz que vau adotar ato sabidamente prejudicial à população, ao
confessar expressamente que “morra quem morrer”, dando a entender, desde
logo, a sua presumida, clara e assumida culpa por ato extremamente irresponsável
e prejudicial à vida humana.
Não
se quer pensar em julgar nem condenar ninguém pelo desastre do pensamento infeliz
sobre a desesperada defesa da salvação da economia, no âmbito municipal ou nacional,
como se ela fosse o suprassumo da importância no campo da batalha contra a
guerra enfrentada pelo mundo, em combate à pandemia do coronavírus.
Há
de se convir que, se houvesse o mínimo de sensatez, inteligência, bom senso e racionalidade,
de alguém em nível nacional, no sentido de melhor orientação quanto à
importância da vida e dos cuidados para a priorização sobre a sua preservação, acompanhada
dos devidos esclarecimentos de que a questão relacionada com o coronavírus pode
ser resolvida posteriormente, com a devida calma, quando o principal embate em
prol da vida for superado, certamente que, diante de medida nesse sentido, não
se chagaria ao ponto de alguém imaginar acerca da liberação do comércio, mesmo que
“morra quem morrer”, ou seja, trata-se, sabidamente, que a medida cogitada
pode propiciar mortes.
À
toda evidência, não se pode olvidar que é natural que a vida e as coisas que a
cercam não podem simplesmente parar de funcionar, de vez, por causa de vírus
que tem poder letal e é capaz de aterrorizar às pessoas, mas há evidência de notória
insensibilidade se pretender ultrapassar os limites permitidos em seu respeito,
por meio da liberdade de atividades que podem contrariar as normas de combate à
disseminação dele, diante da possibilidade de implicação grave, em termos de
saúde pública, cujos serviços médico-hospitalares não têm condições de arcar,
de forma satisfatória e eficiente, com o tratamento dos infectados pelo Covid-19,
que já superaram o limite das condições de assistência.
Na
verdade, essa forma de gestão pública só demonstra o extremo da irresponsabilidade
e do desprezo ao sentimento ao princípio humanitário, que tem prevalência sobre
todas às demais questões, inclusive as de natureza econômica, que são importantes,
mas não ao ponto de se tornar prioritária, como faz crê o polêmico prefeito da
boa terra, que apenas, em demonstração de imprudência, resolve agir sem medir
as consequências de seu ato, em especial se ele pode causa prejuízo à vida
humana.
O
homem público precisa agir segundo os princípios do bom senso e da
racionalidade, de modo que o seu pensamento
político-administrativo possa estar em sintonia em perfeita sintonia com a
vontade da população, quanto mais em se tratando desse caso da pandemia do coronavírus,
em que a prudência é a principal arma para combatê-la.
Nesse
caso de grave crise social, que consiste na repercussão com ênfase na prestação
prioritária da saúde pública, não se pode pensar na adoção de medidas
destinadas à salvação da economia, que é precisamente o caso cogitado pelo
prefeito em estado febril por alucinação, porque isso somente contribui para
prejudicar seriamente a situação da saúde pública, com o crescimento descontrolado
da disseminação do Covid-19, o vírus considerado muito perigoso e letal, tendo como
possível consequência a exagerada perda de vidas humanas, que certamente não
compensa ante a insignificante recuperação da economia.
É
preciso haver muita tranquilidade por parte do gestor público, nestes momentos
de instabilidade causados por situação de força-maior que se generalizou no
planeta, que é o caso da atualidade, na sábia compreensão dos homens
inteligentes e sensatos de que há muito tempo, no futuro, para se trabalhar e se
recuperar as gigantescas perdas da economia, devastada por causa das medidas de
combate à pandemia do coronavírus, conquanto, na verdade, o tempo é curtíssimo para
se agir no sentido de se evitar perdas de preciosas vidas, que merecem todo e
qualquer sacrifício da sociedade, em especial das autoridades públicas, para poupá-las,
mesmo que, para isso, possam haver infinitos outros prejuízos materiais,
inclusive financeiros, não importa,
Em
tese, essa situação extremamente sensível e lastimável pode perfeitamente fazer
parte do jogo, mas, por certo, esse mesmo entendimento jamais pode ser aplicado
à vida humana, cujo único jogo que lhe convém, como aceitável, é aquele em que somente
vale a pena se pensar grande e exclusivamente nas medidas capazes de preservá-la,
independentemente de todas as perdas, inclusive econômicas, por mais desastrosas
que sejam.
Convém
que o administrador público se conscientize de que o exercício da sua
incumbência gerencial precisa atentar para os conceitos de competência, eficiência
e responsabilidade, sempre sob prevalência, de forma prioritariamente mesmo, do
respeito aos princípios humanitários, de modo que os outros somente podem ser executados
para a satisfação daqueles, sob pena de responsabilização, que parece ser o
caso do prefeito que pretende liberar o funcionamento do comércio, mesmo
sabendo que seu ato pode contribuir para a morte de pessoas.
Brasília, em 2 de julho de 2020
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