Diante de crônica que escrevi versando sobre
políticas do governo com relação ao combate à pandemia do coronavírus, um nobre
conterrâneo de Uiraúna, Paraíba, destemido defensor do uso da cloroquina pelos
infectados pelo Covid-19, depois de citar casos de estudos e aplicação dessa
droga, conclui que “(...) que Bolsonaro tinha razão em defender desde o
início da pandemia a inclusão do cloroquina no tratamento dessa doença (...).”.
Em outro tópico, o ilustre defensor das
políticas do governo afirmou que “Agora a pouco li também que até a OMS está
querendo novamente fazer estudos mais preciso sobre a cloroquina quando no
nosso país já temos evidências quase que em todas as partes que o medicamento é
satisfatório dependendo da administração do paciente! Vejo com absurdo o que
querem fazer com o nosso presidente, inclusive, maliciosamente não o deixam
trabalhar...”.
É preciso ficar muito claro que, como não tenho
elementos de convicção, nunca desacreditei na possível eficácia da cloroquina,
tendo o cuidado de analisar os fatos sob o prisma das notícias publicadas na
imprensa, sempre indicando as fontes, mas tenho sido severo na forma
atrapalhada como esse assunto vem sendo conduzido pelo presidente da República,
que, ao que se sabe, ele não deveria politizar a questão pertinente às medidas de
combate ao coronavírus, quando elas deveriam ser cuidadas por ministro com competência
comprovada na área da medicina, mas, infelizmente, isso também não tem sido
possível.
Ou seja, não é à toa que o Brasil tem se
mostrado, para o mundo, verdadeiro desastre no enfrentamento dessa terrível pandemia,
de modo que, agora, já é o segundo país em números de mortes e infectados, à
vista dos dados estatísticos que demonstram o retrato fiel da incompetência
governamental para cuidar da saúde pública, mas ainda bem que a culpa, como se
fosse momento para isso, é dos governadores e dos prefeitos, que se rebelaram
contra as sábias experiências presidenciais, que tem sido péssimo exemplo como líder
da nação, no enfrentamento de tão gravíssima crise de saúde pública.
Não
há a menor dúvida de que é preciso analisar os fatos não à luz da mera emoção,
como muitos fazem, principalmente nesse caso do coronavírus, que poucas medidas
tenham sido tomadas de forma racional e eficiente, com base em norma escrita e
estudada sobre o problema específico, o que só demonstra clara incompetência generalizada
e prejudicial à população, porque certamente muitas vidas poderiam ter sido
preservadas se o governo tivesse se preparado para cuidar de todos os casos com
base em estudos e normas devidamente apropriados, caso a caso e quando assim
fosse necessário.
Penso
que não é o caso de se dizer quem está com a razão ou quem está errado, mas sim
de se avaliar o motivo pelo qual o governo não cuidou da pandemia com as devidas
competência e eficiência, de maneira racional e integrada, de modo que os
governos federal, governamental e municipal se convergissem com o mesmo propósito,
tendo a liderança central do presidente da República e a distribuição de
encargos entre os demais entes da federação, com a finalidade de haver harmonia
entre os governos, em face de interesses e responsabilidades comuns na proteção
de vidas humanas.
Vejam-se
que o presidente brasileiro defende a prescrição de remédio para doença que
ainda não tem a eficácia comprovada por quem tem competência para se pronunciar
definitivamente sobre isso, a despeito de muitos casos de recuperação de
doentes mundo afora, inclusive no Brasil, de gente do nosso conhecimento, mas
isso não significa que o presidente tem razão em mandar administrar remédio que
ele não tem conhecimentos científicos para respaldar uma loucura nesse sentido.
O
muito que ele poderia fazer era constituir comissão de especialistas da área
médica específica para a produção de estudos pertinentes, de modo que não
restasse dúvida quanto à melhor medida a ser adotada, por meio da cloroquina ou
de outras drogas.
Quero
deixar claro que não sou contra o protocolo indicado para a hidroxicloroquina,
mesmo porque não tenho conhecimento de nada sobre remédios nem de medicina, entendo
que o uso dessa droga é alternativa válida, à falta de outra segura.
É
preciso se ressaltar, a bem da verdade, que a maneira como o presidente
determina que seja aplicada a cloroquina, à moda política, isso não se procede
nem nas piores republiquetas, que devem respeitar os princípios fundamentais da
ciência e da medicina.
Convém
se compreender que se trata de questão de origem científica e não política nem
administrativa, e que assim deve ser tratado o assunto com o devido cuidado, em
termos de responsabilidades médicas.
É
importante se sublinhar que, se o assunto não fosse tão nebuloso, dois médicos
ministros não tinham pulado do barco, mas teriam assumido normalmente a
responsabilidade de introduzir o protocolo no tratamento do Covid-19.
É
preciso que as pessoas sensatas entendam que ninguém é contra que o presidente
do país trabalhe, mas é preciso que ele o faça sob a égide da racionalidade, da
competência e da responsabilidade gerencial, procurando se integrar o mais
rapidamente, na qualidade de coordenador e líder, à equipe incumbida do combate
à pandemia do novo coronavírus, que se encontra tão degenerada que o ministro da
área é especialista em intendência do Exército, assessorado por batalhão de
militares, o que só demonstra a enorme irresponsabilidade perante a extrema
gravidade da situação que grassa na saúde pública brasileira.
Caso
houvesse algum interesse do presidente para a questão da saúde pública, à vista
da gravidade do momento dos assuntos prevalecentes nessa área, o Ministério da
Saúde seria chefiado por médico renomado, experiente e respeitado por sua
classe, de modo que ele tivesse condições de se posicionar com as devidas
competência e autoridade sobre todas as questões de saúde pública, como fazem normalmente
os países evoluídos, em termos da saúde da população.
A
situação brasileira, na saúde pública, foi simplesmente relegada a planos
secundários, principalmente porque os médicos responsáveis e de caráter não são
moleques de recados para cumprirem as ordens do capitão, quando se está em jogo
é a vida dos brasileiros, que vem sendo cuidada ao bel-prazer de quem não
entende patavina de saúde pública e não concorda com o trabalho de quem milita
na área da medicina.
No
meu modesto entendimento, esse desejo de se deixar o presidente trabalhar não
combina muito com a vontade dos brasileiros que pensam sim em trabalho
produtivo, eficiente e responsável, cujos resultados possam ser traduzidos em
demonstração de efetividade, o que não acontece com a saúde pública, que,
depois da aprovação da implantação da cloroquina, nada mais foi feito, em
termos preventivos da saúde pública, como se o ministério tivesse fechado para balanço,
quando existe muita coisa para ser cuidada e normatizada, principalmente no que
diz respeito ao isolamento social e outras políticas de orientação aos
brasileiros.
Enfim,
o Brasil, em termos de saúde pública, está na contramão do resto do mundo, em
termos de prioridade, apenas, infelizmente, cuidando de enterrar milhares de mortos acometidos pela doença do Covid-19, que já ultrapassam de 75 mil vítimas, fato este que pode ser considerado verdadeira calamidade pública.
Brasília, em 17 de julho de 2020
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