segunda-feira, 13 de julho de 2020

Carta aberta ao prefeito de Uiraúna/PB


Excelentíssimo Senhor prefeito de Uiraúna, doutor José Nilson Segundo Santiago, na qualidade de filho dessa cidade e tendo a oportunidade de acompanhar, embora distante dos fatos e não os conhecendo plenamente, tenho possibilidade muita clara de avaliar as ingentes dificuldades que a prefeitura local terá para a construção de hospital para a população da cidade e redondeza, em condições ideais de atendimento, sem mais necessidade de se pedir socorro aos hospitais da proximidade.
Ao que tenho conhecimento os recursos apontados para início das obras são extremamente escassos e pouco dão para custear a fase pioneira, que exige a compra de muitos materiais e o pagamento de pessoal.
É preciso se levar em conta a crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, que certamente há de dificultar a circulação de recursos nos setores públicos, ante a restrição natural da economia, a diminuição da arrecadação e esse fator é preciso ser levado em conta no momento dos investimentos públicos em obras de grande porte, como a que se refere a construção de hospital.
É sabido de todos que o anúncio da construção do hospital em Uiraúna tem visível e inegável vínculo com o seu projeto político de continuidade no poder e isso é legítimo direito do homem público, de querer promover o bem comum da população, a todo custo.
É notório que a construção de um hospital é algo de suma importância para uma cidade nas condições de Uiraúna e isso é preciso se reconhecer, como forma de dedicação do gestor público que ama o seu povo.
Agora, convenhamos que não é qualquer hospital que vai satisfazer as necessidade da população que já vem se sacrificando há bastante tempo, mendigando assistência às suas necessidades de saúde, que precisa atingir nível de qualidade aceitável, em diversas especialidades médicas, disponibilização dos equipamentos completos e suficientes aos exames apropriados, bem como de maternidade e leitos e UTIs suficientes para o atendimento da demanda própria da procura tanto dos pacientes do município como vindos de outras localidades da vizinhança, o que é óbvio e natural.
Diante disso, tenho certeza absoluta de que Vossa Excelência tem consciência de que o hospital ora projetado não corresponde às expectativas de verdadeira unidade de saúde digna aos anseios do povo de Uiraúna, que imagina que o poder público possa construir algo digno do sacrifício do povo pela longa espera de um hospital com as melhores e plenas condições para o atendimento aos pacientes da região, nas mesmas ou superiores àquelas oferecidas nos hospitais da redondeza.
Ou seja, como Vossa Excelência se mostra bastante sensível à precariedade da assistência à saúde pública, mesmo dispondo de pouquíssimo tempo, resolveu entrar de sola em causa que muito agrada à população e isso fica muito claro com o seu projeto, que é por demais louvável como forma de iniciativa, já que se trata de pretensão da melhor possível.
Não obstante, senhor prefeito, é preciso se reconhecer as limitações oferecidas para a implementação das obras, que seriam suportadas com recursos escassos e limitados da prefeitura e ainda a depender da evolução do desempenho da economia e de outas variáveis que vão acontecer no curso das obras, a dificultarem a sua finalização, na forma como planejadas.
O outro e gravíssimo inconveniente diz respeito ao atendimento à população, que certamente será limitado a um caso ou outro da especialidade médica, do exame indispensável ao preciso diagnóstico das doenças e das limitações de leitos e UTIs, ficando a desejar, em termos de verdadeiro hospital que possa satisfazer plenamente às necessidades dos pacientes de Uiraúna.
Nessas condições de extremas dificuldades insanáveis, o bom senso e a racionalidade aconselham que o melhor caminho é se procurar a ajuda do governo federal para a construção de hospital completo, para o porte de 50 ou 60 leitos e UTIs compatíveis, com as estruturas adequados para as múltiplas especialidades médicas e hospitalares, de modo que seja uma obra digna aos anseios do povo de Uiraúna, com capacidade para o atendimento pleno dos pacientes e em condições definitivas, nos moldes dos bons hospitais regionais.
É evidente que os contatos iniciais com os órgãos públicos federais seriam para os levantamentos sobre os projetos, as plantas e as medidas necessárias à entrada da documentação e dos elementos exigidos para obra dessa magnitude.
A empreitada nesse sentido será facilitada necessariamente com a conversa com os parlamentares da bancada da Paraíba no Congresso Nacional, no sentido de que deputados federais e senadores abram mãos de emendas parlamentares destinadas ao hospital de Uiraúna.
Na minha modesta opinião, senhor prefeito, o esforço para a construção de hospital digno, de verdade, para o povo de Uiraúna, que será custeado com a total garantia de recursos da União, certamente lhe valerá muito mais crédito da população do que a penosa tentativa do sacrifício pela construção de arremedo de unidade de saúde um pouco melhorada do que as outras já existentes, que não passam de prestadoras de serviços assistenciais ambulatoriais e de pequena emergência, certamente muito aquém das necessidades básicas da população.
É certo que a construção de projeto político é algo da maior importância para a vida do homem público, que precisa mostrar suas obras, como, por exemplo, a construção de hospital, mas há se convir que não será qualquer hospital que vai contribuir para esse engrandecimento, mas sim um hospital que fique na eterna memória da população, por atender plenamente às suas conveniências de saúde.
Finalmente, como forma de alerta, lembro a Vossa Excelência que o seu projeto de hospital poderá não ser o mesmo do outro prefeito, se a sua candidatura não for vitoriosa, o que poderá implicar na paralisação ou até mesmo na interrupção definitiva das obras, com possível desperdício de dinheiro público.
Esse fato recomenda, por cautela gerencial, que, se aprovado o projeto pela ilustrada Câmara de Vereadores, as obras, caso seja essa a sua intenção definitiva, em desprezo de outra melhor, só comecem quando houver a decretação do resultado das urnas, do próximo pleito eleitoral.
Não obstante, embora não haja proibição legal, não é de bom tom, politicamente falando, o começo de obra pública, como se imagina um hospital, que certamente terá longa duração, pelo menos muito além do início do novo mandato, que poderá não ser do próprio gestor, ante a disputa eleitoral em que outro candidato tem chance de ser eleito e que pode ter outros projetos para o seu governo, completamente diferente do atual prefeito, além de não ser recomendável que o atual prefeito crie despesas vultosas para outra gestão, no final do seu governo.
Há de se atentar, sobretudo, que a  contratação dessa obra implica, necessariamente, o comprometimento de despesa que precisa ser assumida pela nova gestão, que pode não estar plenamente de acordo com a obra, em especial, na forma da sua concepção, fato este que pode ter graves reflexos no orçamento do município.
A bem da verdade, por prudência e mais ainda em respeito ao orçamento público ou até mesmo à autonomia dos planos políticos dos demais candidatos que estão no párea eleitoral, é aconselhável, sob a ótica do princípio administrativo moderno, que o atual prefeito, mesmo sendo candidato à reeleição, somente comece obras que possa concluir, com absoluta certeza, dentro do seu mandato, o que equivale dizer que não é justo que, no final da gestão seja criada obra para ter continuidade na administração seguinte, que até pode ser do mesmo gestor, mas pode não ser, e o imbróglio já se apresenta para ser resolvido por quem assumir o Executivo, que não concorda com ele.
Essa advertência tem muita pertinência se o atual prefeito ao menos tiver a consciência de se colocar no lugar dos demais candidatos e se imaginar assumindo a prefeitura com encargo iniciado há tão pouco tempo, que poderia ter sido adiado por alguns meses, se tivesse havido sensibilidade político-administrativa e respeito ao saudável princípio da prudência para com a coisa pública.
Na realidade, essa forma de conduta gerencial civilizada e sensata precisa ser rigorosamente observada pelos homens públicos, em demonstração da melhor compreensão sobre a disputa eleitoral limpa, isonômica e honesta, onde fique muito claro o respeito às regras de condições iguais entre os candidatos, que naturalmente são quebradas quando o atual prefeito, de repente, apresenta para a sociedade obra de impacto, que poderia ter feito bem antes, mas o faz muito próximo da eleição, exatamente para atrair o interesse dos eleitores, ou seja, havendo aí a quebra da igualdade entre os concorrentes à prefeitura, que não podem apresentar, no caso dos outros candidatos, senão intenções sobre as possíveis realizações futuras, o que é bem diferente.
É óbvio que, nos casos excepcionais, em situação de força-maior, calamidade pública ou casos análogos, as obras públicas podem ser iniciadas normalmente nas proximidades da eleição ou no período do seu curso, por serem casos necessários e inadiáveis, de perfeita compreensão da sociedade.
Convém que a questão referente ao hospital de Uiraúna seja estudada sob condições favoráveis ao melhor entendimento com vistas à sua implementação, na compreensão de que não seria exatamente agora, na proximidade da eleição do novo executivo da cidade, que até ser o próprio prefeito, mas pode ser outro, o momento ideal para se discutir a execução de obra de suma importância para a população, à vista da possível existência de melhor projeto para a mesma finalidade: a melhoria da assistência à saúde pública dos uiraunenses.
Ante o exposto, apelo, com veemência, a Vossa Excelência, senhor prefeito de Uiraúna, doutor José Nilson Segundo Santiago, que, pensando exclusivamente na melhoria das condições de vida do povo de Uiraúna, resolva construir hospital de verdade nessa cidade, que tenha possibilidade para atender, de maneira decente e digna os pacientes, em especial, do município, com projeção para 50 ou 60 leitos e UTIs correspondentes, por meio da disponibilização das principais especialidades médicas e hospitalares, inclusive maternidade moderna, com o adjunto de equipamentos especializados de ponto e tudo o mais que ninguém mais precise sair de casa para mendigar assistência às suas causas referentes à saúde.
Brasília, em 13 de julho de 2020

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