O Vaticano confirmou
que o papa se posicionou favoravelmente à união civil entre pessoas do mesmo
sexo do ponto de vista legal.
Não obstante, a Santa Sé esclarece que as declarações do papa foram tiradas de contexto e não mudam a
posição da Igreja Católica, que, de maneira doutrinária, “considera
as relações homossexuais como pecado e não reconhece o casamento homoafetivo.”.
A propósito, a declaração do pontífice ganhou destaque,
com manchetes de primeira página da imprensa mundial, quando da estreia do documentário
“Francesco”, que estreou no festival de Roma, realizado no mês passado, tendo
por base comentário em que ele teria dito que homossexuais têm o direito de estar
em uma família e que as leis de união civil para essas pessoas são necessárias.
O papa disse também, no referido documentário, que "As
pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de
Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz
por isso. O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma,
eles são legalmente contemplados. Eu defendi isso.”.00:00/10:00
Entrementes, segundo esclarece o Vaticano, o documentário cortou trecho comentado pelo papa, onde ele
expressou claramente oposição ao casamento homossexual, quando foi deixado
evidenciado que a opinião dele se referia às leis de união
civil, que alguns países promulgaram para regular benefícios, a exemplo
de plano de saúde.
Essa declaração foi divulgada em nota da Santa Sé
aos núncios apostólicos, que funcionam como embaixadores do Vaticano, nos
países que mantêm relações diplomáticas com ele.
De acordo com o Vaticano, foi retirada do texto do
papa, no documentário, a expressão, verbis: “falar em casamento entre
pessoas do mesmo sexo é algo incongruente.”.
Por fim, o Vaticano explica que "Há mais de
um ano, durante uma entrevista, o papa Francisco respondeu duas perguntas
distintas em dois momentos diferentes que, no mencionado documentário, foram editadas e publicadas como uma só resposta, sem a devida
contextualização, o que gerou confusão.”.
Na verdade, os esclarecimentos produzidos por órgão
oficial da Santa Sé, e não pelo próprio papa, é que, em síntese, as declarações
do santo pontífice estão bastantes distanciadas das doutrinas e dos dogmas da
Igreja Católica, que não aceitam, em hipótese alguma, mudança nas suas orientações
sobre esse espinhoso tema da homossexualidade, no seio da milenar e tradicional
instituição religiosa, que prefere continuar enxergando pecado em ato que
homens aceitam como natural, à luz da evolução da humanidade.
À luz do bom senso e da racionalidade, a sua
santidade, o papa, tem todo direito de se manifestar sobre todos os assuntos que
afetam a humanidade, mas conviria que os assuntos polêmicos fossem discutidos primeiramente
no âmbito interno da instituição comandada por ele, quanto mais em se tratando
que já existe doutrina firmada na igreja que esbarra frontalmente contra o pensamento
dele, fato que somente contribui para suscitar grave choque entre não somente à
cúpula, mas da expressiva maioria da Igreja Católica, o que parece ser natural,
ante a existência de rígida norma tratando da matéria.
Uma coisa é o papa demonstrar sentimento de amor a
uma causa que ele considera justa e até cristã, sob a ótica religiosa, e a
outra é ele contrariar precisamente a doutrina prevalente da instituição dirigida
por ele, o que evidencia, de forma cristalina, o que mostra clara quebra do princípio
da unicidade de comando e enfraquece substancialmente a sua autoridade como
líder, que precisa ser o primeiro membro a acatar e respeitar as normas existentes
na sua casa.
Obviamente que não se trata de a sua atitude vir a ser
classificada como desastrosa, mas a posição papal nessa delicada questão tem
sim o condão de abalar as estruturas da Igreja Católica, tendo em conta que o
ideal teria sido que o mesmo tema fosse primeiramente discutido, debatido e
aplainado no seio da instituição comandada por ele, para que, somente depois disso
e ainda se conveniente para os interesses da instituição, ser apresentado o seu
resultado além de seus muros, ante a imperiosa necessidade do respeito à
sensibilidade de muitos religiosos que não veem com bons olhos o direito à
felicidade dos homossexuais, da mesma forma como o fez o papa.
Há esperança de que seja possível a Igreja Católica
evoluir, se reciclar e se modernizar, no bom sentido, ao ponto de ser capaz de puder
alcançar a pacificação interna quanto ao entendimento segundo o qual todo filho
de Deus possa ser feliz por meio do usufruto do mesmo sentimento de todas as pessoas,
quanto à preferência, aos desejos, às vocações, à ideologia e à decisão
sobre as suas opções de vida, com o alcance de plenas liberdades, tudo sob as visões
e bênçãos celestiais, porque todo homem é igual um ao outro, apenas diferenciando-se
no pensamento de agir e viver, sendo absolutamente impossível o julgamento pelo
próprio homem das virtudes e dos erros do seu semelhante.
Brasília,
em 4 de novembro de 2020
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